domingo, 3 de janeiro de 2010

Epifania do Senhor

A parábola de Mateus sobre os Magos é um dos textos mais interessantes sobre a procura do homem de fé e, principalmente, sobre o carácter universal da vinda de Jesus: Jesus veio para todos os homens e mulheres, judeus ou não judeus, brancos ou de cor, casados ou solteiros, etc.
Mas hoje gostava de me deter no início do texto deste domingo, onde se disputam Jerusalém e Belém, o rei dos judeus - proclamado pelos magos - e o rei de Jerusalém, Herodes, perturbado com a cidade pela ousadia daqueles orientais. Jerusalém aparece assim como o local onde os sinais de Deus se perdem (a estrela foi vista no oriente e só foi reencontrada quando os Magos regressaram ao caminho para Belém), onde o coração dos homens não se deixa mover pela Palavra de Deus (os escribas e os príncipes dos sacerdotes limitam-se a ler o profeta, mas nada mais fazem a não ser alimentar os projectos malévolos de Herodes), onde o que guia o homem são os projectos de poder, do egoísmo, da ambição desmedida, de que todos os fins justificam todos os meios, dos palácios e dos poderes que vivem no temor permanente de verem o seu sucesso desmoronar-se.
Na verdade, hoje o cristianismo tem que colocar o homem diante desta decisão: o efémero ou o eterno? Os palácios e as capitais de todos os tipos de poder ou o essencial que é invisível aos olhos? A febre de viver tudo já e agora como se não houvesse amanhã (nem que para isso tenha que se sacrificar a vida de muitos como fez Herodes) ou a opção pela aposta na espiritualidade quotidiana do simples, do pobre, da presença de Deus nas pequenas coisas?
Neste dia de Epifania, a resposta de Deus é muito clara: só o encontra quem sai da efemeridade dos seus palácios (sejam interiores ou exteriores), quem se deixa tocar e mover pela Palavra, quem sai do comodismo das suas certezas, quem se coloca a caminho, quem se abre à surpresa permanente de Deus, quem dá mais valor ao sorriso de uma criança ou ao regaço da mãe que a todas as experiências ou feelings momentâneos, quem dá uma oportunidade às estrelas de Deus, na profusão de estrelas do mundo.
Jesus exige uma opção desde o seu nascimento. E exige hoje a cada homem e a cada mulher. Melhor, o mundo, a situação presente exige uma opção entre a universalização da crise ou a universalização da salvação. O Senhor há muito fez a sua opção, mas o homem ainda não. Até quando? Quantos mais inocentes terão que perecer para que o homem acorde?

2 comentários:

Salete disse...

"(...)a resposta de Deus é muito clara: só o encontra quem sai da efemeridade dos seus palácios (sejam interiores ou exteriores), quem se deixa tocar e mover pela Palavra, quem sai do comodismo das suas certezas, quem se coloca a caminho, quem se abre à surpresa permanente de Deus, (...)
Que forma extraordinária de sintetizar a resposta que ELE nos dá... o pedido que nos faz a cada instante!
A inércia no caminhar... a falta de sensibilidade para o que nos rodeia e nos interpela concretamente a agir como ELE sugeriu... e a incapacidade para se desprender dos muitos "ventos dominantes", tornam-nos surdos para esta resposta tão evidente e clara!
Responder-lhe com a entrega da nossa vida, repleta de gestos concretos, com um caminhar firme e seguro na direcção do Infinito, que uma comunhão plena com ELE nos revela a cada instante...
Que eu saiba afastar a surdez diante das Suas respostas, aquelas que pulsam no meu coração... que eu nunca fique estática, nem o comodismo fale mais alto... mas antes me deixe guiar pelo caminho que ELE me revela após cada reflexão... após cada encontro com ELE...
Que eu saiba fazer render os dons que ELE me proporciona e me faz perceber em cada instante...
Obrigada por esta reflexão fantástica...

Fernando Mota disse...

Cara amiga, nada tem que agradecer. O seu comentário aqueceu este dia marcado pelo gelo dos elementos e pela frieza da filosofia em que me embrenho somente motivado pelo inoportuno exame de terça-feira que me deixa tão afastado deste espaço. Uma boa semana.