A aproximação do próximo exame - e que exame - a Filosofia da Linguagem (matéria bem difícil) não me permitiu deixar aqui, ontem, o penúltimo texto sobre o ecumenismo.
Hoje recordarei a figura impressionante de João Paulo II, o papa que mais fez pelo reconhecimento das culpas da igreja romana e que deu o passo mais audaz ao pedir perdão pelos pecados dessa igreja ao longo da história no início da quaresma do ano jubilar de 2000. Seria fastidioso elencar aqui todos os seus gestos e todas as sua palavras pelo aprofundamento ecuménico. Recordarei somente três momentos e um pequeno discurso.
O primeiro momento é bem significativo dos obstáculos por que todo este movimento vai passando. Em Junho de 1989, o papa participou num encontro de oração, na catedral luterana de Roskilde, na Dinamarca, mas não lhe foi concedido o uso da palavra com a justificação a sair da boca do bispo luterano, Bertil Wiberg: "Não queremos que, ouvindo-o falar na igreja, alguns possam acreditar que João Paulo II seja também o nosso pontífice. O papa é bem-vindo, mas é bom frisar que somos nós que o estamos a receber e não ele a nós".
Nessa mesma viagem, já na Suécia, na igreja luterana em que o já aqui referido pai do movimento ecuménico, Nathan Soderblom, iniciara aquele movimento, o bispo luterano Bertil Werstrom abraça o papa e diz: "Naquele dia o apóstolo João era representado aqui pelo bispo ortodoxo; o apóstolo Paulo, pelo bispo luterano. Faltava o apóstolo Pedro. Hoje, também Pedro está aqui e chama-se João Paulo II". Wojtyla deposita um ramo de flores no túmulo de Soderblom e diz que está ali "em espírito de penitência" e faz um convite ao perdão mútuo.
Finalmente, em 1995, na Eslováquia aquando da beatificação de três mártires católicos condenados à morte pelas autoridades protestantes em 1619, o papa lembra na sua homilia os vinte e quatro evangélicos mortos pelos católicos, em 1687. Mas aquelas palavras são coroadas pelo papa que, quebrando o protocolo e inesperadamente, pede para parar o carro junto ao monumento dos referidos mártires calvinistas onde, debaixo de chuva, ora de pé e em silêncio. O bispo luterano, a quem João Paulo convida a rezar ali mesmo um Pai Nosso, dirá mais tarde ao jornalistas: "Jamais havíamos pensado que algo semelhante pudesse acontecer".
Finalmente e sem mais comentários deixo as palavras do papa na encíclica Ut unum sint em 1995:
"Deste modo, a Igreja Católica afirma que, ao longo dos dois mil anos da sua história, foi conservada na unidade com todos os bens que Deus quer dotar a sua Igreja, e isto apesar das crises, por vezes graves, que a abalaram, as faltas de fidelidade de alguns dos seus ministros, e os erros que diariamente investem os seus membros. A Igreja Católica sabe que, graças ao apoio que lhe vem do Espírito Santo, as fraquezas, as mediocridades, os pecados, e às vezes as traições de alguns dos seus filhos, não podem destruir aquilo que Deus nela infundiu tendo em vista o seu desígnio de graça. E até « as portas do inferno nada poderão contra ela » (Mt 16, 18). Contudo, a Igreja Católica não esquece que, no seu seio, muitos eclipsam o desígnio de Deus. Ao evocar a divisão dos cristãos, o Decreto sobre o ecumenismo não ignora « a culpa dos homens dum e doutro lado".
sábado, 23 de janeiro de 2010
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