domingo, 24 de janeiro de 2010

III Domingo do Tempo Comum

O Evangelho deste domingo divide-se em duas partes bem definidas, nas quais são apresentados dois objectivos: o de Lucas ao escrever o seu Evangelho e o da vida de Jesus. É sobre este último que vamos desenvolver a nossa reflexão de hoje.
Jesus solenemente, na sua terra e na sinagoga (portanto, no cerne da sua história, inserido no seu contexto cultural e humano), a partir da Palavra de Deus, entende, assume e apresenta aos seus o seu programa de vida. Depois do baptismo, onde Ele se sente chamado pelo Pai (vocação); depois das tentações no deserto, onde Ele sente a precariedade da natureza e da vontade humana, mas onde renova a sua vocação; agora, em Nazaré, pela leitura da Palavra de Deus, entende, assume e apresenta as linhas programáticas da vontade do Pai. Sabe que o Espírito de que se sente portador, não é para si nem para a solidão, mas impele-O ao encontro do outro com duas acções (dois verbos) fundamentais: evangelizar (dar uma boa notícia) e libertar.
E toda esta acção terá uma descriminação positiva, isto é Deus não é neutral diante do mundo porque opta preferencialmente pelo pobre. A Sua justiça faz-se porque Ele olha para o Homem, para o pobre, para o cativo, para o cego, para o oprimido e não olha para o pecado. O primeiro olhar de Deus é o homem, é o sofrimento que arruína a sua vida, é a opressão de que padece a humanidade.
Jesus é enviado com uma boa notícia: Deus é aliado do homem e não seu carrasco; Deus é boa-notícia e não big-brother vigilante; Deus é liberdade e não manipulação; Deus é visão e não areia lançada aos olhos para ocultar medrosamente a verdade; Deus é graça, gratuidade, dom amoroso e não comércio nem inveja nem ciúme. Não foi por acaso que Jesus tomou a liberdade de omitir a última parte da leitura de Isaías, que diz que o Senhor enviou o seu profeta a proclamar "o dia da vingança da parte do nosso Deus". (Is 61, 2b), porque a vingança não é definitivamente palavra do dicionário divino.
Não percebo porque perdemos tanto tempo em grandes programações pastorais. Esta continua bem actual e por concretizar. Somos ungidos para anunciar BOAS novas, notícias geradoras de esperança; somos ungidos a LIBERTAR não a carregar nem a hostilizar quem está cativo de tantas espécies de cadeias; somos ungidos a dar um OLHAR profundo e aberto, racional e humilde, credível e fraterno aos tantos cegos pela sociedade, pelo fundamentalismo, pelo preconceito, por uma religiosidade mal entendida e formada; somos ungidos a proclamar e a erguer um mundo da graça de Deus onde a descriminação seja a divina: primeiro os pobres, primeiro os esquecidos, primeiro toda a humanidade.
Um programa arrojado? Sem dúvida, é o programa de Cristo. Para quando o dos cristãos e das nossas comunidades?

Sem comentários: