segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Semana de Oração Pela Unidade dos Cristãos VI

Termina hoje a semana de oração pela unidade dos cristãos e, assim, coloco aqui o meu último post sobre o assunto.
Apresento o texto de opinião que D. Carlos de Azevedo, bispo auxiliar de Lisboa, publicou, na passada sexta, no Correio da Manhã. É com muito gosto que o faço porque conheço muito bem D. Carlos: foi meu directo espiritual no seminário e fora dele, foi meu professor, foi meu encenador em várias peças de teatro e, principalmente, apesar do tempo, da distância e das voltas da vida, é meu amigo. Com ele cresci muito, aprendi imenso e enraizei a minha fé.
O que me atrai no texto que aqui vou colocar é que ele toca, nesta altura da caminhada ecuménica, naquilo que me parece ser essencial: há que passar da fase do diálogo a uma outra, ainda que não saibamos bem qual. Só assim o diálogo não se transformará em imobilismo. Na verdade, o que se sente hoje é que é necessário dar um outro passo ou passos que aprofunde a comunhão e potencie a unidade, que não é, nem nunca queremos que seja, unicidade. Aqui ficam a lucidez e a oportunidade das palavras de D. Carlos. Parabéns amigo.

A semana da oração pela unidade dos cristãos, que termina a 25, é momento para reconhecer os passos dados no ecumenismo, ou seja, no esforço para encontrar meios e modos, atitudes e gestos que encaminhem para refazer os desencontros e as separações mais duras e importantes como a que originou os ortodoxos, no século XI, e a do protestantismo, ao longo do século XVI, com sucessivas cisões. Passo a passo, como todos os caminhos, requer paciência. As etapas intermédias são fundamentais: já se passou do anátema ao diálogo; do diálogo está a passar-se ao acolhimento e do acolhimento passaremos ao reconhecimento recíproco.
Podemos enumerar os principais frutos. Em primeiro lugar dissiparam-se inúmeros preconceitos e favoreceu-se a compreensão verdadeira, não facciosa, ou astuciosa ou polémica. O segundo fruto é ter mantido a possível compatibilidade de doutrinas que no passado eram apresentadas e vividas unicamente como antagonistas e alternativas. O terceiro é ter clarificado o núcleo irredutível de diversidades reais ou também divergências que não podem ser harmonizadas nem podem ser simplesmente consideradas complementares. A estação do diálogo deu o que podia dar e importa continuá-la sem a prolongar até ao infinito, iludindo os empenhos ulteriores. O diálogo pode tornar-se uma máscara do imobilismo das igrejas.
Perante a persistência das divisões entre as igrejas, admite-se não ter soluções simples a propor. Não há euforia ecuménica. A visão cristã da reconciliação deve empenhar todos os cristãos a procurar entre eles "incansavelmente" a unidade visível. Para isso será necessário "reexaminar as decisões", perguntando se elas não são produto de diferenças que noutros tempos foram consideradas fonte de divisão, mas hoje podem aparecer como um enriquecimento.
Além disso, os cristãos são chamados a dar passos: 1) Para avançar na unidade e chegar à comunhão é fundamental curar as feridas da memória, sobretudo com factos. 2) Favorecer a colaboração em todos os campos, evitando a rivalidade que destrói já que a construção de justiça social para com os pobres, os doentes, os marginalizados, os mais débeis e pequenos é a verdade da caridade. 3) Afirmar a igualdade de estatuto e de direitos das igrejas e dos povos minoritários. 4) Empenhamento comum pelo conhecimento sempre mais aprofundado da Bíblia. É esta palavra de Deus e o Seu Espírito que guiarão as igrejas para a comunhão.
O ecumenismo pede um novo arranque com a coragem da fé, uma vez que o olhar da esperança já abraça novo tempo.

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