domingo, 31 de janeiro de 2010

IV Domingo do Tempo Comum

Continuamos na sinagoga de Nazaré e acompanhamos a reacção dos conterrâneos de Jesus às Suas palavras. O interessante da narração lucana deste acontecimento na terra natal de Jesus é a contraditória postura das pessoas que O escutavam: inicialmente "davam testemunho em seu favor" e "admiravam-se com as palavras cheias de graça que saíam da sua boca", depois ficaram furiosos, expulsaram-nO e queriam mata-lO. O que levou a esta mudança tão súbita como radical dos nazarenos diante do seu nazareno mais conhecido?
O que levou à recusa de Jesus pelos seus foi por Ele se apresentar como profeta de um Deus não exclusivista, não nacionalista, não ao serviço dos anseios individuais e egoístas de alguns, mas uma Deus para todos, que age para lá das nossas fronteiras individuais e que se abeira das margens da sociedade. Tal como o profeta Elias foi enviado a uma viúva pagã, também Jesus é enviado a todas as solidões; tal como Eliseu cura um leproso estrangeiro, também Jesus toca em todo o corpo ferido e esquecido. O que não suportam os nazarenos é que Deus e a Sua salvação sejam para todos e não para uns eleitos; o que não suportam tantos religiosos é que Deus tenha uma perdilecção pelo pecador, pelo doente, pelo esquecido, por aquele que não se enquadra nos critérios legais e sociais de bom cidadão, do bom cristão, da boa pessoa.
Em Nazaré, visualizamos o fanatismo e a catolicidade: o primeiro enfurece-se, persegue, expulsa, excomunga, fecha todas as portas; a catolicidade (que quer dizer universal) procura, acolhe, caminha com, promove o encontro, abre o coração amorosamente como Paulo relembra na segunda leitura: "O amor é paciente, o amor é prestável, não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita nem guarda ressentimento. Não se alegra com a injustiça, mas rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta". Disto se espera da Igreja de Cristo, do cristão.
De uma coisa tenho a certeza: há dois mil anos atrás ninguém conseguiu travar a vontade de Jesus que é a vontade de Deus. Ele passou no meu deles e seguiu o Seu caminho ao serviço de TODOS os homens. Nem quando o crucificaram, o Seu caminho em favor de TODOS foi travado. Nem quando, ao longo da história, tantos O crucificaram em tantos irmãos perseguidos pela sua diferença. Nem, hoje, conseguem trava-lO quando ostracizam tantos por serem diferentes, quando dispensam muitos por optarem por serviços novos, quando silenciam bastantes por serem profetas. Tanto ontem como hoje o cristão, a Igreja só tem um caminho. E esse caminho não é retê-lo como se Ele fosse uma propriedade nossa, mas é segui-lo ao encontro de Todos os outros.

2 comentários:

vivalda disse...

Sem duvida uma excelente reflexão, mas quem consegue ser paciente, caridoso, prestavel se o nosso dia a dia é feito de invejas, discordias,se nos cruzamomos com pessoas que olham apenas para si mesmas não se preocupando com o que sentemos outros? Pois eu sou catolica praticante e para mim é dificil todo isto que o amor é capaz! Mas o que me conforta é que Deus é universal, é para todos sem excepção por isso também é para mim que sou pecadora apesar de lutar todos os dias por o acolher no outro, mas assumo que não é fácil.

Fernando Mota disse...

Ser universal, ser inclusivo, ser católico, deixar Cristo ser causa de união e nunca de divisão é o caminho para a paz interior e exterior. Existem inimigos da paz? E do verdadeiro amor? Com certeza, mas só há uma forma de os vencer: com a paz e o amor. A esses nem a morte os pára.