O que mais gosto no curso que estou a tirar - Filosofia - é o seu contributo para cultivar um forma diferente de pensar e de olhar. É a capacidade característica que ele permite em questionar o senso comum, em reflectir o aparentemente óbvio e em nunca entender as conclusões como um sistema fechado, uma definição conceptual concluída e definitiva. Algumas horas depois do exame de Estética fica o doce sabor, não de um exame bem feito (que não foi o caso nem para o qual estava particularmente preparado), mas de uma pedagogia do olhar que o estudo desta disciplina me deixou. Lamento mesmo muito não ter podido ir a nenhuma aula.
Diz Rilke que "os nossos olhos estão virados inteiramente para si mesmos", isto é vêem o que não se mostra, vêem como se vê quando se vê. Vêem o invisível, não que algo esteja escondido (sensível ou supra-sensível) na obra de arte, mas o invisível que é a forma como olho. Quando olhamos, o invisível é o nosso olhar e se nos determos atenta e reflexivamente nele vemos nascer um mundo novo, sem começo nem fim, o nosso mundo, aquilo que somos. Por isso, quando olho um quadro ou escuto uma música não procuro descobrir o que o autor tenta dizer ou como se sentia, procuro, sim, é perceber quem sou, como vejo ou como escuto. Assim toda a arte que é arte é abstracta porque não tem em si um significado, uma intenção, mas uma pluralidade de sentidos que brotam do meu próprio corpo lançado no mundo.
Das várias obras apresentadas deixo aqui uma de Edvard Munch, da fase do seu conhecido Grito. Chama-se Ansiedade e penso poder ser uma parábola do homem contemporâneo que fica à consideração de quem a quiser contemplar. Coloco-a ao lado de outra ainda menos conhecida, Desespero, porque simplesmente assim, lado a lado, completam o meu olhar.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
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1 comentário:
Realmente, num mundo onde é possível a ilusão como ter a certeza sobre o real? Se os sentidos nos enganam, como podermos falar de realidade?
Parece irresolúvel tal situação, no entanto, estou convencido que algo nos diz interiormente, um senso comum, que o que vemos é a realidade que não está ao alcance de nenhum iluminado, mas está aí à mão do olhar de quem se desafia a interrogar os dias e as convicções gerais. Talvez por isso, chegamos como espécie até aqui.
Será o acto de perguntar e de pôr em questão que nos revelará a nossa condição: contingentes sempre em busca da incontingência. Talvez por isso estejamos neste estádio de evolução e, ao mesmo tempo, sempre com as mesmas questões sempre antigas e novas.
Obrigado pelo teu comentário sempre estimulante. Continuemos à procura...
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