segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Adeus. Fim

Esta é a última mensagem que deixo neste espaço. Tenho estado à espera do dia 17 de Outubro para o fazer porque nesse dia este «olhar sobre os dias» faz dois anos de existência, mas na verdade não se justifica deixar passar o tempo só para chegar a essa data e nada dizer aos meus leitores que por aqui passam em busca de novidades e nada. Deixarei o blogue on-line por uns tempos porque gostaria de guardar alguns textos que escrevi de que gosto bastante e não tenho tido muito tempo para o ir fazendo.
São três as razões que me levam a encerrar este local de encontro. Primeiro, porque tornou-se mais uma obrigação do que um prazer. E quando assim é, pelo menos para mim, deixa de ter significado. Quando o comecei, escrevia porque tal era uma necessidade íntima, visceral. Estava desempregado, a começar um novo curso, precisava de um espaço em que fosse escutado e de encontro com amigos e família. Hoje as coisas estão, graças a Deus e a alguns amigos, muito diferentes e, por isso, aquela necessidade dissipou-se.
A segunda razão é consequência daquela: hoje tenho muito menos tempo para aqui vir. As aulas, o crescendo de responsabilidades no colégio, o mestrado a que me tenho rapidamente que me dedicar, os manuais de EMRC e o aumento da família, a quem quero dar o máximo de tempo possível, impedem-me de dar a este blogue uma presença que não consigo.
Finalmente, fui-me apercebendo que este espaço foi por vezes (poucas, espero) ou fonte de mal entendidos ou de processos de intenções ou de constrangimentos pessoais e institucionais. Nunca tive essa intenção, afinal foi um pessoal, despretensioso e inócuo blogue onde coloquei reflexões pessoais que nunca tiveram a pretensão nem de ser lei, nem verdade absoluta, nem ajustar contas com nada nem com ninguém e, muito menos, de prejudicar alguém.
Àqueles que aqui vieram com coração limpo, com amizade, com interesse intelectual e com sã curiosidade (e muitos nunca os conheci pessoalmente) aqui fica o meu mais profundo agradecimento pela visita, pela leitura e por alguns comentários. Segundo o Blogger o meu perfil teve 1462 visitas. Segundo o Site Meter, que coloquei muito depois de colocar o blogue on-line, tive 17.557 visitas e 25.374 Page Views. São números, valem o que valem, podem até ser pouco fiáveis, mas sei que muitas destas visitas foram verdadeiros actos de amizade e de liberdade de expressão e de pensamento. E isso não tem preço.
Muito obrigado a todos e até sempre pelos bailes da vida.

domingo, 12 de setembro de 2010

XXIV Domingo do Tempo Comum (Lc 15)

"Este homem acolhe os pecadores e come com eles". Assim definem Jesus os fariseus e os escribas. Se não fosse por murmuração, até podíamos dizer estar perante um elogio de alguém que não faz acepção de pessoas. Mas sabemos que não é assim. Porque criticam estes homens as atitudes, os gestos e as palavras de Jesus? Porque é que acolher e partilhar a mesa é tão grave?
Porque Jesus desconstrói o deus feito pelos critérios, pelos valores e pelas leis humanas. Historicamente os fariseus não eram más pessoas, eram religiosamente comprometidos e observantes da lei de Deus, dada por Moisés; eram contra o poder discriminatório do império romano; estavam bem próximos das populações e das suas misérias; sentiam-se guardiões da pureza do judaísmo. O que Jesus lhes traz é uma novidade, é algo que eles não conhecem: Deus. Um Deus que verdadeiramente não conheciam; um Deus que era justo, mas eles confundiam justiça com castigo e vingança; um Deus que era grande, mas eles confundiam grandeza com distância inacessível; um Deus a quem criam defender a honra e a santidade, mas que a Sua única preocupação era procurar o que estava perdido e alegrar-se com o reencontro.
Os pontos comuns nestas três parábolas definem o modo de actuar do Deus de Jesus Cristo: perder-se, procurar e alegrar/fazer festa. Ele procura a salvação, a libertação dos seus filhos que se perdem nos montes e nos vales escarpados da vida, nos recantos esconsos da nossa consciência, nas aventuras de adolescências sempre inacabadas. Ele está sempre pronto a recomeçar e a alegrar-se com a felicidade, o sentido, a realização dos seus filhos. Ele deseja que nenhum se perca, procura cada um no seu dia-a-dia e alegra-se e faz festa com quem quer recomeçar.
O contraste é evidente: de um lado a murmuração (fariseus, escribas, irmão mais velho) que se coloca de fora da alegria, que se agrilhoa à censura, à critica, à condenação. Deste lado estão os que se não conhecem, que se julgam justos, que em nome de um deus (que não conhecem e que não é o verdadeiro porque é um deus que exclui, logo não pode ser deus) separam, abandonam, expulsam e entristecem. Do outro lado, está a alegria do céu, a alegria que chama os outros, que acolhe, que partilha, que se abre ao outro e partilha a sua felicidade. Uma alegria que tem as portas abertas da liberdade que é convite a quem quer descobrir o coração de Deus. Nesta alegria entram os que se descobrem e aceitam necessitados, os que se percebem como membros de um povo frágil, os que se conhecem e reconhecem como irmãos de um Pai comum sempre prontos a que estendermos as mãos uns aos outros (ao contrário dos dois irmãos da parábola que nunca falam um com o outro).
Que quem está longe deste Pai saiba (por nós cristãos) que Ele o espera carinhosa e amorosamente, sempre, de portas abertas. Que quem está em casa (nas 99 no deserto, como o irmão mais velho) não se distraia nem se esfrie e tenha tudo preparado para o regresso do irmão: coração quente e aberto, mesa fraterna posta, sinfonia convivial preparada, alegria sincera porque o Pai está connosco, mas incompleta porque nos faltam muitos irmãos. Só assim seremos a Igreja de Cristo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Partilha de Opiniões

Li com agrado algumas intervenções certeiras sobre a educação em Portugal reproduzidas na revista do Expresso do passado sábado. O meu agrado advém da me sentir bem acompanhado nas críticas que aqui tenho vindo a expor e na crença de que, a pouco e pouco, são muitos os que partilham estas opiniões, o que nos faz ter alguma esperança no futuro. Aqui fica, por temas, algumas das pertinentes afirmações.

Indisciplina: «Tolerância zero à indisciplina, com penalizações inflexíveis a incidir sobre as notas, as propinas, a própria frequência. Tolerância zero à interferência histérica e abusiva de pais na sobreprotecção dos "meninos"» (Rita Ferro)
Avaliação: «Não há melhor avaliação do que quando um estudante está pressionado como se estivesse na vida. Negar estas exigências da vida é de gente tola.» (Medina Carreira); «É necessário instituir seriedade na avaliação dos estudantes, o que cada vez me parece mais difícil enquanto o GAVE estiver na dependência do ministério da educação.» (Nuno Crato)
Professores: «É preciso maior seriedade na formação científica dos futuros professores - instituir um exame de entrada na profissão seria um primeiro passo fundamental.» (Nuno Crato)
Reuniões: «O hábito nacional das reuniões é o espelho do que somos. Detesto reuniões. Falam todos, repetem-se. Um massacre extraordinário de palavreado, tal como a discussão do nosso sistema de ensino.» (Medina Carreira)
Como se chegou a este estado de coisas?: «[nos] últimos anos da década de oitenta, altura em que o ensino começou a ser dominado por uma série de ideias pedagógicas ditas modernas mas na realidade retrógradas, que tinham feito o seu curso nos Estados Unidos a partir dos anos 1920» (Nuno Crato)
O que fazer?: voltar «a destacar o papel do ensino como transmissão organizada de conhecimentos e dar verdadeira autonomia às escolas e aos professores. O ministério deveria promover a avaliação de resultados e deixar de controlar processos. Faz exactamente ao contrário.» (Nuno Crato)
Se nada mudar...: «Vamos ter um país de velhos, com esta geração a pagar as dívidas que hoje se contraem. E sem educação». (Medina Carreira)
Proposta facilitadora e economizadora: «Tenho uma proposta modernista, que constitui um avanço civilizacional: delegações das universidades nas maternidades, para passar diplomas as recém-nascidos. Poupava-se imenso aos país.» (Medina Carreira)

Sem mais comentários. Bom fim-de-semana.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Regresso às Aulas

Depois de duas semanas de férias repartidas pelo Algarve (a fotografia é da praia de Santa Eulália vista do aldeamento onde estive) e pela Lousã, esta semana é de preparação do novo ano escolar. Este ano terei horário completo no colégio com as aulas de EMRC. Serei director de turma (uma novidade na minha actividade docente) e leccionarei ao terceiro ciclo e ao 10º e 12º anos. Além disso, terminarei a minha licenciatura em filosofia fazendo a única disciplina que me falta (Ética II), no final do segundo semestre. Entretanto, estou à espera dos resultados do concurso para o mestrado em ensino da filosofia, que espero começar este ano e que me vai exigir uma exigente articulação com as aulas no colégio.
Estou ansioso por começar e colocar-me ao serviço. E assim espero pelo Senhor. Para quem está a regressar ao trabalho ou à escola desejo um produtivo ano de trabalho.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Já Volto. Agora, Escutem

Um dia destes volto com mais tempo a este espaço, hoje deixo apenas estas palavras extraordinárias do Irmão Roger. Escutem, meditem e libertem-se. Boa semana.

Irmão Roger : o que não sabíamos from Taizé on Vimeo.

domingo, 5 de setembro de 2010

XXIII Domingo do Tempo Comum (Lc 14, 25-33)

O Evangelho de hoje mostra como Jesus não pretendeu somente deixar uma série de ensinamentos ou de regras de conduta ou de posturas morais. Para Jesus o essencial era segui-lo no caminho que ele próprio fez, era percorrer o caminho de radicalidade absoluta do amor ao Pai. Jesus não foi simplesmente um homem bom que devemos escutar, mas é o homem, é a vida humana absoluta que o que se diz cristão tem como cenário e meta dos seus dias. Por isso, somos simplesmente aprendizes de Cristo. Não imitações, não pirataria de uma marca famosa com estatuto, mas construtores diários de uma nova forma de ser homem, de uma nova família que ultrapassa todos os tipos de laços: de sangue, de aliança matrimonial, de amizade, de camaradagem profissional.
Assim, temos que amar Jesus acima de todos os outros amores. Ele é o que inspira todos os outros tipos de laços, de amores. E isto tem como consequência a cruz porque seguir Jesus é seguir as consequências da sua forma de viver a vida: incompreensão, desprezo, solidão, morte.
O que é admirável em Jesus é a sua honestidade: à multidão que o seguia e que hoje o segue ele "volta-se" e avisa a condição essencial para o seguir ("Se alguém vem ter comigo sem Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, ,aos filhos, aos irmãos e até à própria vida não pode ser meu discípulo"); à multidão que o seguia e que hoje o segue avisa qual a consequência imediata desse seguimento ("Quem não toma a sua cruz para me seguir não pode ser me discípulo"). Mais, Jesus propõe ponderação para ser seu discípulo. Não se o pode seguir por um impulso do entusiasmo pueril e epidérmico nem por uma inércia conformada com uma educação recebida ou com uma cultura dominante. Quem quiser construir uma vida cristã e quem quiser combater o bom combate da fé é fundamental que pare para pensar, reflectir, aprofundar e conhecer Jesus para não cair no ridículo de ser um cristão inacabado convencido que já o é completamente e vencido pelos acontecimentos da vida que não foi capaz de encarar com as armas de Jesus: mansidão, fé, oração, amor sem limites.
Ser discípulo de Jesus ou é uma opção bem pensada e pesada, consciente da sua exigência e implicação, ou então é uma contrafacção de cristianismo.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Obrigatório Ler

Não esperava voltar aqui, mas o José Manuel Fernandes, no seu texto de opinião, hoje, no Público, alertava para este magnífico texto de Ferreira Fernandes publicado ontem no Diário de Notícias. Vale a pena ler e reflectir. Nem precisa de comentários.

A Soldado Desconhecida
Josefa, 21 anos, a viver com a mãe. Estudante de Engenharia Biomédica, trabalhadora de supermercado em part-time e bombeira voluntária. Acumulava trabalhos e não cargos - e essa pode ser uma primeira explicação para a não conhecermos. Afinal, um jovem daqueles que frequentamos nas revistas de consultório, arranja forma de chamar os holofotes. Se é futebolista, pinta o cabelo de cores impossíveis; se é cantora, mostra o futebolista com quem namora; e se quer ser mesmo importante, é mandatário de juventude. Não entra é na cabeça de uma jovem dispersar-se em ninharias acumuladas: um curso no Porto, caixeirinha em Santa Maria da Feira e bombeira de Verão. Daí não a conhecermos, à Josefa. Chegava-lhe, talvez, que um colega mais experiente dissesse dela: "Ela era das poucas pessoas com que um gajo sabia que podia contar nas piores alturas." Enfim, 15 minutos de fama só se ocorresse um azar... Aconteceu: anteontem, Josefa morreu em Monte Mêda, Gondomar, cercada das chamas dos outros que foi apagar de graça. A morte de uma jovem é sempre uma coisa tão enorme para os seus que, evidentemente, nem trato aqui. Interessa-me, na Josefa, relevar o que ela nos disse: que há miúdos de 21 anos que são estudantes e trabalhadores e bombeiros, sem nós sabermos. Como é possível, nos dias comuns e não de tragédia, não ouvirmos falar das Josefas que são o sal da nossa terra?