segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Semana de Oração Pela Unidade dos Cristãos

Nos últimos dias tenho lido, para a unidade lectiva que estou a escrever sobre a Igreja, um livro interessantíssimo sobre os pedidos de perdão pelos pecados da Igreja, feitos por João Paulo II ao longo do seu ministério. O livro é um excelente repositório de pequenos textos, histórias e acontecimentos que não vêm nos grandes livros de história, mas que também a tecem.
Como estamos na semana de oração pela unidade dos cristãos vou deixar aqui alguns textos significativos sobre esta esperança e esta necessidade, que me parecem tão esquecidas e tão desmotivadas, de cultivarmos a unidade em vista de uma Igreja Cristã mais rica e mais profunda na sua diversidade e pluralidade. Recordo aqui a minha experiência no secretariado da juventude quando participei activamente nesta semana e nos fóruns ecuménicos. Foi uma experiência inesquecível e de uma riqueza humana e cristã muito significativa.
O texto que hoje vou deixar aqui é o texto que Adriano VI (o último papa não italiano antes de João Paulo II), papa de 1522-1523, enviou à Alemanha para tentar parar a adesão dos príncipes alemães ao monge Lutero, excomungado pelo seu antecessor, Leão X (um papa de triste memória), em 1520. O interessante deste texto, lido em 3 de Janeiro de 1523, na Dieta de Nuremberg, é que é o primeiro em que a Igreja Católica reconhece a sua culpa na desagregação da unidade cristã. Mais interessante ainda é descobrir que foi preciso chegar a Setembro de 1963, para um papa, Paulo VI, reafirmar aquela culpa.
Eis o texto de Adriano VI:
Nós sabemos muito bem que também nesta Santa Sé, alguns anos ora são passados, aconteceram coisas simplesmente abomináveis: abusos de coisas sagradas, prevaricações nos preceitos, e tudo, afinal, voltado para o mal. Portanto, não é de espantar que a doença se tenha espalhado da cabeça para os membros, dos papas para os prelados. Nós pretendemos fazer valer todas as diligências para que, em primeiro lugar, seja corrigida a corte romana na qual, talvez, todos esses males tenham começado; aqui e agora, terá pois início o saneamento e a renovação, assim como foi aqui que teve origem a enfermidade. Nós julgamo-nos tanto mais obrigados a pôr em acção essas providências, quanto mais o mundo deseja ardentemente uma reforma. Ninguém, no entanto, deverá admirar-se se não eliminarmos todos os abusos de uma só vez. A doença está, na verdade, profundamente arraigada e apresenta múltiplas formas. É preciso, portanto, actuar a pouco e pouco, a fim de primeiramente tratar com medicação adequada os males mais graves e mais perigosos, a fim de não criar uma confusão ainda maior, em resultado de uma reforma apressada.

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