domingo, 27 de setembro de 2009

XXVI Domingo do Tempo Comum

Se no domingo passado Jesus denunciava os perigos que podem nascer dentro do grupo que o seguia (ambição de poder, hierarquias, etc.), hoje alerta para o perigo do grupo se achar o único que pode falar em nome de Jesus, se fechar ao Espírito que sopra onde quer, se arvorar como única autoridade sobre Deus, se apresentar como único e legítimo proprietário de Deus. Jesus sublinha que o grupo dos seus discípulos, de ontem e de hoje, não pode, sobre pena de escândalo ostracizante, ser intolerante, sectário e cego ao bem que nasce e germina fora desse grupo. Para Jesus qualquer pessoa pode ser tocado pelo Amor e ser conduzido por ele ao encontro do irmão para o curar e libertar.
Perigoso é a comunidade, os cristãos escandalizarem quem deles se aproxima esperando encontrar o Caminho, a Verdade e a Vida. Esperando ver nela o amor do Cristo que ela diz ser a sua alma. O grave é quando esta comunidade despreza os não praticantes, coloca-lhes entraves e mais entraves, obriga-os a cumprir regras e mais regras, a participarem em reuniões atrás de reuniões, a participarem em missas por obrigação e não por convicção. Grave é quando a comunidade recusa a comunhão a quem refez a sua vida conjugal deixando para trás situações de violência, mentira e angústia. Grave é quando a comunidade cobra taxas e mais taxas por tudo e mais alguma coisa. Grave é quando a comunidade recusa o acolhimento a quem reconstroi a sua vida baseada numa liberdade amorosa. Grave é quando a comunidade nega o perdão, a compreensão e a palavra a quem humildemente procura a paz e o apoio. Grave é quando a comunidade usa a mão para a fechar ou levantar o indicador como quem recusa uma mão estendida ou acusa impiedosamente o outro (mais valia que a cortasse). Grave é quando a comunidade usa o pé para pontear para fora ou para um canto os já marginalizados socialmente reforçando as divisões sociais (mais valia que o cortasse). Grave é quando uma comunidade usa os seus olhos para reprovar, desprezar, inquirir e invadir a intimidade de cada um como se fosse esse o olhar do Mestre (vais valia que os arrancasse). Isso é um escândalo para o qual Jesus só encontra um local: a lixeira imunda e fumegante de uma qualquer cidade (Geena era o nome da lixeira de Jerusalém). Uma comunidade assim, uma Igreja assim é lixo.
O escândalo que Jesus nos desafia a ter, como comunidade, como Igreja é o seu que desinstalou acomodados, instituições, fanatismos, que ameaçou e ameaça todos os farisaismos. Por amor ao homem Jesus aboliu leis injustas e hipócritas, mas veneráveis e antiquíssimas, acolheu as mulheres, tocou nos doentes contagiosos, sentou-se à mesa com pecadores e mulheres de má vida, deu a vida até ao fim dispersando os seus discípulos. Este é o escândalo que falta hoje às nossas comunidades e aquele é o escândalo que sobra nas nossas comunidades. Na verdade, escutem as pessoas e façam um livro das razões da sua ausência, do seu desprezo, da sua amargura, da sua descrença e perceberemos o que levou tanta gente a distanciar-se.
Como pode uma mensagem de amor incondicional, de fraternidade universal, de vida abundante não ter eco em tantos corações disponíveis e crentes de tantos dos nossos contemporâneos e contemporâneas? Eis uma boa questão que todos os cristãos (logo, toda a Igreja) devemos colocar às portas da Missão 2010 que nos chama à corresponsabilidade para a nova evangelização.

1 comentário:

Salete disse...

A proposta litúrgica desta semana é muito exigente, talvez nem seja fácil para todos perceber o alcance concreto da mensagem!
A nossa Igreja (muitas vezes tão pouco concreta em gestos e atitudes cristãs) será capaz de perceber o escandalo a que se refere o texto...? será que percebem os actos concretos em que as suas mãos, ou pés, ou olhar... são motivo de afastamento, desvio ou discriminação?!
Numa igreja em que são tantos aqueles que pensam que só matar e roubar é que é grave, onde fica a percepção do escandalo a que se refere a mensagem!!!?