Escrevia, no último comentário, que Jesus, nestes domingos, nos especificaria o que eram as coisas de Deus. Na verdade, no caminho que encetou através da Galileia até Jerusalém, Jesus, rodeado por um conjunto de discípulos cada vez mais desentendidos e dessintonizados com o seu seguimento, sublinha dois critérios fundamentais para as suas comunidades: ser o primeiro é ser o servidor de todos(Marcos usa o grego diaconos e não o termo grego doulos porque o primeiro sublinha uma atitude de vida e o segundo um ofício, um "emprego"); e, ser cristão (colocar no centro e acolher o Mestre) é acolher prioritariamente os mais marginalizados do nosso tempo.
Mas o texto de ontem tem uma leitura que completa ainda mais profundamente aquilo que acabamos de dizer e que desafia a um exame de consciência todos os que pertencem e vivem activamente na comunidade cristã, na Igreja.
Se notarmos há como que dois cenários em que toda a cena se desenrola: no caminho e em casa. No primeiro o que vemos? Jesus anuncia a sua paixão, morte e ressurreição; os discípulos não a entendem, mas têm medo do Mestre e da sua reacção diante das suas dúvidas e, por isso, nada perguntam (lembrem-se da reacção violenta de Jesus há uma semana diante das palavras de Pedro). Mais, seguem-no como ele tinha pedido há oito dias, mas seguem-no a discutir qual deles era o maior, qual deles teria um lugar de destaque em Jerusalém para onde caminhavam. Em pouca palavras, seguiam Jesus mas não o entendiam nem interrogavam, seguiam Jesus com medo e invejas mútuas, seguiam Jesus em busca de sucesso individual e de poder. Seguiam Jesus exteriormente, mas os seus corações continuavam muito longe das coisas de Deus. Seguiam Jesus para os outros verem, mas não queriam ser como Ele, seguir os seus passos.
Em casa, na intimidade, Jesus desmascara-os e envergonha-os colocando-os diante da sua verdade mesquinha, da pequenez das suas personalidades, do alcance limitadíssimo da sua fé nele: Que discutíeis no caminho? E perante o seu silêncio comprometido e revelador, Jesus dá-lhes uma sentença e oferece-lhes um gesto: serviço e acolhimento.
Hoje às nossas comunidades, à nossa Igreja Jesus deixa esta questão: que discutíeis no caminho? Não será o vosso seguimento uma exterioridade? Não me seguis em busca do vosso sucesso e não do irmão? Não serão as vossas guerras e desavenças nas comunidades uma luta de vaidades e poderes compensadores da irrelevância social das vossas vidas?
Nas nossas comunidade e na nossa Igreja quem está no centro? (Tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a...) Os marginalizados, os pequenos, os servidores, os simples, os servos dos servos de Deus?
Que cada um e que cada comunidade fique em silêncio e analise o seu serviço... Que os conselhos paroquiais de pastoral, presbiteriais, episcopais, etc antes de elaborarem eloquentes planos de acção leiam este Evangelho e a segunda leitura de S. Tiago, façam silêncio e reflictam o seu discipulado e a verdade dos gestos da sua acção.
Aqui fica, para reflexão mútua, o eloquente final da segunda leitura de ontem:
De onde procedem os conflitos entre vós?
Não é precisamente das paixões que lutam nos vossos membros?
Cobiçais e nada conseguis: então assassinais.
Sois invejosos e não podeis obter nada: então entrais em conflitos e guerras.
Nada tendes, porque nada pedis.
Pedis e não recebeis, porque pedis mal,
pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
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1 comentário:
Amigo Mota como sabes tenho uma grande dificuldade em fazer silêncio, não é ficar calada, sim até nisso tenho dificuldade, mas a minha maior dificuldade é fazer silêncio e encontrar-me comigo mesma e com Ele.
Tenho dificuldade em seguir os passos D'Ele,assumo que não é facil,mas sou um ser humano com defeitos!
Eu e todos os elementos das comunidades paroquiais devemos reflectir sobre as palavras de S. Tiago e constatar que na maior parte das vezes fazemos tudo ao contrario daquilo que Ele nos indica.
Por isso sejamos capazes de olhar sobre as nossas actitudes e ter comportamentos de mudança.
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