domingo, 6 de setembro de 2009

XXIII Domingo do Tempo Comum

Depois de virulência das palavras de Jesus contra as autoridades religiosas dos judeus e contra a exterioridade da vivência religiosa do seu povo, ele parte para as regiões habitadas por pagãos para comunicar com diferentes culturas, com novas formas de linguagem e com novas mentalidades. Neste percurso surge-nos a cena da cura de um "surdo que mal podia falar". Estamos diante de um milagre que, como todos os outros no evangelho, é muito mais que uma cura. É um sinal para ler, interpretar e aplicar aos nossos dias e à nossa vida.
Este sinal é dos poucos milagres em que Jesus não utiliza só a palavra, mas também o gesto ("meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva toca-lhe a língua") que aliado ao "Effathá" ("Abre-te") nos indica claramente o alcance deste momento.
Um surdo é alguém incapaz de comunicar(pelo menos no tempo de Jesus isto era muito mais visível porque não havia uma linguagem gestual como nos nossos tempos) porque, não escutando, não é capaz de acolher ou contrapor nada a ninguém. É como se não tivesse nunca um interlocutor. Está só e fechado.
Em toda esta cena este surdo/mudo é imagem de todos os que se fecham nas suas certezas (Cf. os judeus no domingo passado), que se enclausuram nos seus problemas pessoais (como se fossem as pessoas mais azaradas da terra, numa auto-indulgência medíocre), que, incapazes de escutar os apelos dos homens e mulheres de hoje tão aferrados que estão à suas velhas seguranças, têm uma linguagem imperceptível e irrelevante para a nossa humanidade (Jesus nunca foi irrelevante para os seus porque nunca se ficou pela crítica, mas teve gestos e palavras de proximidade amorosa). Este surdo/mudo é imagem de uma sociedade da comunicação formada por indivíduos cada vez mais isolados e individualistas, mais uniformizados e menos plurais e que tendem a fechar-se ao que se passa e sente à sua volta, próximo de si, nas suas casas, no íntimo de cada um...
Jesus é muito claro: é tudo uma questão de saber ouvir e de saber falar (Cf. os gestos do milagre), de se abrir ao outro, à opinião contrária, a diferentes formas de vida, aos novos códigos e símbolos linguísticos, às emergentes formas culturais de pensar, rezar, agir, ser.
"Abre-te"... Abre os ouvidos para escutar... Solta a língua para dialogar... Eis a postura do cristão hoje: aprende a escutar e sê capaz do diálogo. Nada disto é para perderes a tua originalidade e riqueza que brotam da tua união a Cristo, mas é a única forma de não viveres um cristianismo egoísta, utilitarista, retrógrado, insensivel, alheado, velho. Isto é, é a única forma de passares de um cristianismo religioso e fossilizado, para uma fé cristã em relação pessoal e permanente com o Mestre e, como ele, com o mundo.
Igreja: abre-te, assume os riscos e as exigências do diálogo com o mundo porque o pior surdo é o que não quer ouvir e o pior mudo é o que se nega a responder...
A cada um desafia: abre-te e sai do carpir a tua sorte e do ter pena de ti. Escuta os outros, escuta a vida, dialoga com ambos e percebe que só de cabeça erguida e em diálogo reflectido (acolher e dar), com tudo o que nos rodeia e somos, é que seremos capazes de subir acima da nossa vidinha e dos meus isolamentos estéreis. Abre-te...

1 comentário:

vivalda disse...

Olá amigo Mota,

Um cumprimento à pessoa que escreveu o comentário anterior, concordo em especial com os 2 ultimos paragrafos escritos por ela.

À Igreja é pedido uma grande abertura de forma a manter um dialogo através da utilização das novas linguagens. A cada um de nós é deixado o desafio de sermos membros activos dessa Igreja e de sermos capazes de dialogar, não nos fechando sobre nós mesmos, apenas preocupados com os nossos problemas, sendo egoistas.

Por isso mais uma vez a mim que sou membro desta Igreja é pedido que seja capaz de me abrir ao outro e não seja egoista centrando-me apenas nos meus problemas.

Ao meu amigo Mota mais uma vez agardeço a tua reflexão que é sempre muito util e actual.