
Apesar da previsibilidade do seu argumento, o que sublinho é o trabalho de realização, que apoiado pela flutuante câmara digital (que Mann dirige como ninguém actualmente), compõe coreograficamente as diferentes cenas (de perseguição, de relação amorosa, do face to face, os grandes planos) de forma extraordinária e original. É aqui que o filme se afirma e se impõe como um filme de uma beleza visual e cénica que quase que não precisávamos de uma grande história para o recordarmos como bom cinema, servido por um leque de actores em que destaco Bale, cada vez um dos melhores da actualidade.

Neste Up o risco volta a ser elevado: é preciso coragem para colocar como protagonista um velho viúvo, amargurado e saudoso, eternamente apaixonado pela sua falecida, em busca do último sonho dela. O desafio é vencido ternurenta e magnificamente nos primeiros dez minutos do filme, onde contactamos com a história amorosa deste casal. E quando, por entre perseguições e aventuras pouco entusiasmantes, em breves segundos, este viúvo percebe que tem que deixar para trás tudo o que lhe torna presente a sua esposa. São segundos em que os olhos de um boneco se enchem de lágrimas contidas e dignas, como nunca se viu em animação e raramente se vê no cinema que por aí pulula como fast food. Trazer para um filme de animação a força do amor de duas almas gémeas separadas pela vida e a dureza da vida envelhecida que tem que vencer os obstáculos do corpo, do progresso e da inabitabilidade num mundo cada vez mais estranho são desafios que corajosamente foram atingidos com distinção.
Não é o melhor da Pixar (Walle, Ratatui, Carros, Os Incriveis), mas é, a anos luz, do melhor que o cinema deste ano nos ofereceu.
Só mais um conselho, não gastem dinheiro em ver o filme em 3D (foi o primeiro que vi, por isso não vou, ainda, dizer que é uma fraude), não ganham nada, a não ser uns inúteis e ridículos óculos.
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