Finalmente começou o ano lectivo 2009/2010. Na terça-feira já dei aulas a quatro das minhas doze turmas, numa realidade totalmente nova que é o Colégio Luso-Francês. Nunca tive turmas tão grandes porque aqui a disciplina de EMRC não é facultativa. Nunca estive numa escola em que esta disciplina não fosse vista ou com complacência ou com desprezo. Nunca falei para alunos com uma postura tão interessada e pró-activa. Sinto que esta experiência é uma oportunidade única que não posso desperdiçar porque tenho os meios mais que necessários e os protagonistas (os alunos) ideais para exercer com rigor e qualidade a missão de professor de EMRC. Não pensem que tal só é possível porque estou num colégio católico. Tal é possível porque aqui cultiva-se não a cultura do facilitismo, mas do trabalho; não a cultura do facultativo, mas da opção responsável; não a cultura do desenrasca, mas do mérito; não a cultura da ocupação de tempos livres, mas da vontade de saber.
Quando se ouve a falar de não sei quantos mais computadores nas escolas, de não sei quantas mais escolas em obras (ou centros educativos como hoje se diz), de não sei quantos portáteis para alunos, de não sei quantas mais horas que os alunos ficam na escola em prolongamentos de horários, de não sei quantos novos cursos profissionais, gostava de perguntar... e as pessoas? Como pode haver escolas sem professores? E que sentido têm estes sem alunos?
Aluno, que derivando do verbo latino alere (alimentar), é aquele que é alimentado ao peito, isto é, é aquele a quem se dá um alimento indispensável, por vezes desagradavel, mas que faz bem; a quem muitas vezes se interrompe o que mais gosta de fazer, mas que tem que ser assim para crescer integralmente; que tantas vezes faz cara feia e diz que não gosta, mas que tem que experimentar para compreender a vida. Não, os alunos não precisam de computadores individuais, mas de aprenderem a trabalhar individualmente e em grupo; não precisam de pesquisar na net (esse mito) a partir de tenra idade, mas a entrarem em bibliotecas a sério para aprenderem a ler, a investigar, a aprofundar em bibliografia que sabem citar; não precisam de mais tempo na escola, mas de pais disponíveis, atentos e diligentemente amorosos; não precisam dos últimos gritos de tecnologia, mas de professores dignificados, valorizados e livres de burocracias para alimentar os seus alunos com o seu saber; não precisam do faz de conta que se sabe, que se passa de ano, que se tem um curso, mas de quem respeite, estimule e potencie a sua jovem, inquieta e fresca inteligência.
Enfim, aposta-se no mais fácil: dar coisas, pintar fachadas, facilitar a vida, oferecer canudos. Não, neste país o aluno não está em primeiro...
Entusiasmei-me e não falei da faculdade, fica para amanhã.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
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2 comentários:
Concordo plenamente consigo...
Estou completamente de acordo consigo, mas também pergunto: Onde estão os pais dos nossos alunos? Tudo corre mal na educação pública porque os pais não querem (muitos nem sabem) o que é EDUCAÇÃO!
Um grande abraço, com saudades…
Cristiana Mendes
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