Ontem à noite, na capela de Fradelos, no Porto, assisti à apresentação do novos livro do meu amigo e poeta José Rui Teixeira: Diáspora. Ainda não me detive demoradamente sobre os seus versos, mas fiquei muito feliz por encontrar uma capela cheia de sinceros admiradores e amigos do Rui e por reencontrar uma amigo que há muitos anos não via, o João Ribeiro. Quando regressava ao carro pelas ruas quentes da baixa do Porto (como está cada vez mais bonita e viva esta zona da cidade) agradecia a Deus por um final de uma intensa semana tão carregado de auspiciosas notícias, de esperançosas palavras e de reconfortantes encontros.
Como diz o Bartoon estamos todos cansados da campanha eleitoral que dura há muito mais que as duas semanas que a lei impõe. Hoje é o chamado dia de reflexão que impõe que aqui deixe a minha.
Em democracia escolhe-se quem nos governa. E essa escolha faz-se pelo voto. E o voto é uma escolha entre outras possíveis que faço pessoalmente depois de escutar as diferentes propostas para uma situação concreta do país em que vivo. Finalmente, com esse voto posso recompensar ou castigar um governante, posso manifestar a minha concepção ideológica ou a minha visão pragmática da vida, posso escolher o mal menor ou aquele com quem mais simpatizo pessoalmente. Assim me comprometo politicamente com a sorte do meu país, da minha situação social e económica e da dos meus. Por tudo isso, o errado nem são as campanhas nem o dia das eleições. O errado é a forma como (mais uma vez) se fez campanha. E a deste ano foi particularmente estéril, crispada, cheia de casos (que sendo-o não são o essencial) e vazia de conteúdos e visões estratégicas para o país.
Portugal vive uma situação dramática que a maioria das famílias (as que têm um emprego com um ordenado médio) não tem noção porque as juros estão muito baixos, não existe inflação, houve aumentos significativos na função pública e até o petróleo tem estado controlado. Portugal tem uma dívida externa gravíssima, que fará com que seja cada vez mais difícil e caro conseguir dinheiro emprestado para o estado e para os bancos; Portugal gasta muito mais do que aquilo que produz e isso, a médio prazo, vai-se pagar; Portugal tem um endémico problema na formação da sua mão de obra que não se resolve com oferta de novas oportunidades; Portugal tem uma segurança social que estará cada vez mais sobre pressão não só com o aumento do desemprego como também com o envelhecimento da população; Portugal não tem uma visão estratégica para o seu futuro produtor seja na agricultura e nas pescas seja no seus diferentes sectores industriais; Portugal tem um estado que absorve grande parte da riqueza que produzimos anualmente porque tem muitos funcionários e mal distribuídos, porque faz muita coisa que os privados poderiam fazer, porque pensa que tem que ajudar tudo e todos (empresas, associações, artistas, etc, etc), porque anseia tudo controlar e desconfia de tudo o que é privado. Portugal vive uma situação decisiva da sua história e que se nada se fizer levará ao seu definhamento progressivo, que, se formos sensatos, já vamos vivendo há pelo menos catorze anos (digam-me quando não se disse que estávamos em crise?). É por tudo isto que a campanha que terminou foi inútil e nenhuma força política, principalmente as duas maiores (que são as que têm maior responsabilidade) foram capazes de dizer o que propunham corajosa e realmente para o país. Lembrem-se dos debates: de um lado defendia-se o que se fez nestes últimos anos (e propostas?) e do outro atacava-se esses mesmos anos (e propostas?). Talvez por isso o programa mais marcante desta campanha tenha sido o Esmiussem os Sufrágios dos renascidos Gato Fedorento que colocaram a nu as incongruências, os oportunismos e os zigzags dos nossos políticos.
Apesar de tudo isto e porque eles não são todos iguais (como se costuma ouvir. Aliás, alguns são bem diferentes) nem querem tachos (a maioria deles ganharia muito mais se não estivesse na política) e porque somos muito mais inteligentes e responsáveis do que os partidos e o seus técnicos de comunicação pensam, amanhã vamos votar pensando pela nossa cabeça e escolhendo segundo os nossos critérios. Assim se exerce uma das mais nobres acções humanas: a capacidade de exercer o governo porque com o meu voto opto por uma forma de conduzir os que são meus e os que partilham a minha terra. Voto porque entendo a sociedade como um assunto comum e que a todos diz respeito. Vou votar porque acredito que este país e este regime ainda são viáveis...
sábado, 26 de setembro de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Trata-se de um dever cívico, uma das formas de participação activa nos destinos do nosso país!
Perante uma democracia representativa, como é a nossa, é cada vez mais uma irresponsabilidade ignorar tal dever e deixar nas mãos dos outros, ou nas mãos da abstenção tal decisão!
Já fui exercer o meu dever, fi-lo de forma convicta e em consciência, aliás, como tento fazer tudo na minha vida!
O seu texto foi uma boa reflexão, um bom reflexo da realidade!
Enviar um comentário