Por entre as regiões de Cesareia de Filipe (cidade construída em honra de César, em honra dos poderes políticos, em honra de todos os poderes) Jesus, para nos fazer entender de que espécie é o poder de Deus, faz como que uma sondagem: Quem dizem os homens que eu sou? Quais as etiquetas que me colocam? Como e por quem me julgam os homens? As respostas não se fizeram esperar em catadupa. Mas elas apenas introduzem a questão central: E vós, quem dizeis que eu sou? E aqui surge o centro despoletador de toda a narrativa.
Ao contrário de Mateus e Lucas, Marcos não coloca Jesus a elogiar a resposta de Pedro (Tu és o Messias). Porque, como se vê mais à frente quando reage a explicitação do messianismo de Jesus, a resposta de Pedro não é tão perfeita como poderíamos pensar. Para a enquadrar, Jesus explica a Pedro e aos outros o que é o Messias (o servo sofredor), como é o poder de Deus e do que são capazes os poderes deste mundo. A reacção de Pedro revela como ele, afinal, pensava mal o messianismo de Jesus: político, tradicional, poderoso, triunfalista. E Jesus violentamente diz-lhe que se coloque atrás dele: a tradução correcta não é a litúrgica ("Vai-te, Satanás") mas "Vai para trás de mim, Satanás".
O que Jesus diz a Pedro e a cada um de nós cristãos ("Chamando a multidão" que somos nós cristãos) é que não usemos palavras gastas e velhas para falarmos dele; não empreguemos termos de que ouvimos falar há muito ou que nos puseram na cabeça; não repitamos esquemas ou frases feitas de que ou não sabemos o que significam ou não vivemos o que elas implicam.
Se queres saber quem eu sou e queres ser meu discípulo coloca-te no meu encalço, percorre o caminho que passa da cidade dos poderosos políticos à cidade dos poderosos religiosos (Jerusalém com os anciãos, sumos sacerdotes e escribas) onde chegarás ao calvário (sofrimento e morte), ao jardim (sepultamento e fim) e à manhã do primeiro dia da semana (ressurreição). Não te afastes de mim (que mal a tal tradução!), mas vem perceber como Deus nada tem que ver com as coisas do homem, como é diferente, nos critérios, nos motivos, nos resultados, na própria vida, o caminho de Deus do caminho do homem.
Nos próximos domingos, Jesus, esperando que caminhemos atrás dele, nos ensinará, com palavras e vida, como são as coisas de Deus. Melhor, como é Deus. E como se pode ser seu discípulo.
Mas uma coisa parece desde já certa: não sejamos tão rápidos a usar etiquetas nem para o Mestre nem para os outros. Sobre Ele repetimos fórmulas e não vivências, algo que a ninguém converte nem chama, nem transforma. Sobre os outros repetimos juízos e aprofundamos divisões e desconfianças, algo de que o mundo já está tão cheio e cansado.
domingo, 13 de setembro de 2009
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1 comentário:
" (...) não repitamos esquemas ou frases feitas de que ou não sabemos o que significam ou não vivemos o que elas implicam (...)"
Como são maravilhosamente verdadeiras as suas palavras em todo o comentário!
Mas a frase que saliento esbarrou com os meus sentimentos mais recentes em relação a muitos aspectos que me rodeiam...
Por quanto mais tempo iremos continuar a fingir que não percebemos o alcance da mensagem DELE!
Por quanto mais tempo insistiremos nas "velhas máximas" que nunca chegam a ser vida!
Obrigada por renovar o sentido desta manhã!
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