Exige-se agora dos políticos cultura democrática, maturidade política, responsabilidade adulta e serviço ao interesse nacional, mesmo que isso implique sacrifícios e, momentânea, quebra eleitoral. Pede-se que não cedam nem ao facilitismo nem ao amor à camisola partidária. Seria trágico para todos nós e uma traição aos mais de 60% que ontem se dignaram pensar Portugal.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Legislativas 2009
Não sei se os portugueses têm noção da situação do seu país (como dizia ontem Martim Figueiredo, se Portugal fosse uma empresa estava à beira da falência), mas, ontem, ficou claro que querem viver em mais aprofundada democracia (um não claro a maiorias absolutas), sem derivas extremistas de quem ainda não compreendeu os problemas estruturais do país (não é possível uma maioria parlamentar ou com o PCP ou com o BE) e com uma confiança mitigada e limitada no estado e uma aposta racional no mercado e na livre iniciativa (o CDS é a terceira força política nacional e o grande vencedor da noite eleitoral). Será o equilíbrio entre o só estado (BE) e o nenhum estado (CDS) que os portugueses parecem ter pedido ao reconduzido primeiro-ministro. Encontrar a medial entre a necessária ajuda social e a indispensável criação de riqueza pela livre iniciativa privada e empresarial é a missão, que o espírito, avesso a radicalismos, dos eleitores, ontem confiaram a José Sócrates.
domingo, 27 de setembro de 2009
XXVI Domingo do Tempo Comum
Se no domingo passado Jesus denunciava os perigos que podem nascer dentro do grupo que o seguia (ambição de poder, hierarquias, etc.), hoje alerta para o perigo do grupo se achar o único que pode falar em nome de Jesus, se fechar ao Espírito que sopra onde quer, se arvorar como única autoridade sobre Deus, se apresentar como único e legítimo proprietário de Deus. Jesus sublinha que o grupo dos seus discípulos, de ontem e de hoje, não pode, sobre pena de escândalo ostracizante, ser intolerante, sectário e cego ao bem que nasce e germina fora desse grupo. Para Jesus qualquer pessoa pode ser tocado pelo Amor e ser conduzido por ele ao encontro do irmão para o curar e libertar.
Perigoso é a comunidade, os cristãos escandalizarem quem deles se aproxima esperando encontrar o Caminho, a Verdade e a Vida. Esperando ver nela o amor do Cristo que ela diz ser a sua alma. O grave é quando esta comunidade despreza os não praticantes, coloca-lhes entraves e mais entraves, obriga-os a cumprir regras e mais regras, a participarem em reuniões atrás de reuniões, a participarem em missas por obrigação e não por convicção. Grave é quando a comunidade recusa a comunhão a quem refez a sua vida conjugal deixando para trás situações de violência, mentira e angústia. Grave é quando a comunidade cobra taxas e mais taxas por tudo e mais alguma coisa. Grave é quando a comunidade recusa o acolhimento a quem reconstroi a sua vida baseada numa liberdade amorosa. Grave é quando a comunidade nega o perdão, a compreensão e a palavra a quem humildemente procura a paz e o apoio. Grave é quando a comunidade usa a mão para a fechar ou levantar o indicador como quem recusa uma mão estendida ou acusa impiedosamente o outro (mais valia que a cortasse). Grave é quando a comunidade usa o pé para pontear para fora ou para um canto os já marginalizados socialmente reforçando as divisões sociais (mais valia que o cortasse). Grave é quando uma comunidade usa os seus olhos para reprovar, desprezar, inquirir e invadir a intimidade de cada um como se fosse esse o olhar do Mestre (vais valia que os arrancasse). Isso é um escândalo para o qual Jesus só encontra um local: a lixeira imunda e fumegante de uma qualquer cidade (Geena era o nome da lixeira de Jerusalém). Uma comunidade assim, uma Igreja assim é lixo.
O escândalo que Jesus nos desafia a ter, como comunidade, como Igreja é o seu que desinstalou acomodados, instituições, fanatismos, que ameaçou e ameaça todos os farisaismos. Por amor ao homem Jesus aboliu leis injustas e hipócritas, mas veneráveis e antiquíssimas, acolheu as mulheres, tocou nos doentes contagiosos, sentou-se à mesa com pecadores e mulheres de má vida, deu a vida até ao fim dispersando os seus discípulos. Este é o escândalo que falta hoje às nossas comunidades e aquele é o escândalo que sobra nas nossas comunidades. Na verdade, escutem as pessoas e façam um livro das razões da sua ausência, do seu desprezo, da sua amargura, da sua descrença e perceberemos o que levou tanta gente a distanciar-se.
Como pode uma mensagem de amor incondicional, de fraternidade universal, de vida abundante não ter eco em tantos corações disponíveis e crentes de tantos dos nossos contemporâneos e contemporâneas? Eis uma boa questão que todos os cristãos (logo, toda a Igreja) devemos colocar às portas da Missão 2010 que nos chama à corresponsabilidade para a nova evangelização.
Perigoso é a comunidade, os cristãos escandalizarem quem deles se aproxima esperando encontrar o Caminho, a Verdade e a Vida. Esperando ver nela o amor do Cristo que ela diz ser a sua alma. O grave é quando esta comunidade despreza os não praticantes, coloca-lhes entraves e mais entraves, obriga-os a cumprir regras e mais regras, a participarem em reuniões atrás de reuniões, a participarem em missas por obrigação e não por convicção. Grave é quando a comunidade recusa a comunhão a quem refez a sua vida conjugal deixando para trás situações de violência, mentira e angústia. Grave é quando a comunidade cobra taxas e mais taxas por tudo e mais alguma coisa. Grave é quando a comunidade recusa o acolhimento a quem reconstroi a sua vida baseada numa liberdade amorosa. Grave é quando a comunidade nega o perdão, a compreensão e a palavra a quem humildemente procura a paz e o apoio. Grave é quando a comunidade usa a mão para a fechar ou levantar o indicador como quem recusa uma mão estendida ou acusa impiedosamente o outro (mais valia que a cortasse). Grave é quando a comunidade usa o pé para pontear para fora ou para um canto os já marginalizados socialmente reforçando as divisões sociais (mais valia que o cortasse). Grave é quando uma comunidade usa os seus olhos para reprovar, desprezar, inquirir e invadir a intimidade de cada um como se fosse esse o olhar do Mestre (vais valia que os arrancasse). Isso é um escândalo para o qual Jesus só encontra um local: a lixeira imunda e fumegante de uma qualquer cidade (Geena era o nome da lixeira de Jerusalém). Uma comunidade assim, uma Igreja assim é lixo.
O escândalo que Jesus nos desafia a ter, como comunidade, como Igreja é o seu que desinstalou acomodados, instituições, fanatismos, que ameaçou e ameaça todos os farisaismos. Por amor ao homem Jesus aboliu leis injustas e hipócritas, mas veneráveis e antiquíssimas, acolheu as mulheres, tocou nos doentes contagiosos, sentou-se à mesa com pecadores e mulheres de má vida, deu a vida até ao fim dispersando os seus discípulos. Este é o escândalo que falta hoje às nossas comunidades e aquele é o escândalo que sobra nas nossas comunidades. Na verdade, escutem as pessoas e façam um livro das razões da sua ausência, do seu desprezo, da sua amargura, da sua descrença e perceberemos o que levou tanta gente a distanciar-se.
Como pode uma mensagem de amor incondicional, de fraternidade universal, de vida abundante não ter eco em tantos corações disponíveis e crentes de tantos dos nossos contemporâneos e contemporâneas? Eis uma boa questão que todos os cristãos (logo, toda a Igreja) devemos colocar às portas da Missão 2010 que nos chama à corresponsabilidade para a nova evangelização.
sábado, 26 de setembro de 2009
Poesia e Reflexões
Ontem à noite, na capela de Fradelos, no Porto, assisti à apresentação do novos livro do meu amigo e poeta José Rui Teixeira: Diáspora. Ainda não me detive demoradamente sobre os seus versos, mas fiquei muito feliz por encontrar uma capela cheia de sinceros admiradores e amigos do Rui e por reencontrar uma amigo que há muitos anos não via, o João Ribeiro. Quando regressava ao carro pelas ruas quentes da baixa do Porto (como está cada vez mais bonita e viva esta zona da cidade) agradecia a Deus por um final de uma intensa semana tão carregado de auspiciosas notícias, de esperançosas palavras e de reconfortantes encontros.
Como diz o Bartoon estamos todos cansados da campanha eleitoral que dura há muito mais que as duas semanas que a lei impõe. Hoje é o chamado dia de reflexão que impõe que aqui deixe a minha.
Em democracia escolhe-se quem nos governa. E essa escolha faz-se pelo voto. E o voto é uma escolha entre outras possíveis que faço pessoalmente depois de escutar as diferentes propostas para uma situação concreta do país em que vivo. Finalmente, com esse voto posso recompensar ou castigar um governante, posso manifestar a minha concepção ideológica ou a minha visão pragmática da vida, posso escolher o mal menor ou aquele com quem mais simpatizo pessoalmente. Assim me comprometo politicamente com a sorte do meu país, da minha situação social e económica e da dos meus. Por tudo isso, o errado nem são as campanhas nem o dia das eleições. O errado é a forma como (mais uma vez) se fez campanha. E a deste ano foi particularmente estéril, crispada, cheia de casos (que sendo-o não são o essencial) e vazia de conteúdos e visões estratégicas para o país.
Portugal vive uma situação dramática que a maioria das famílias (as que têm um emprego com um ordenado médio) não tem noção porque as juros estão muito baixos, não existe inflação, houve aumentos significativos na função pública e até o petróleo tem estado controlado. Portugal tem uma dívida externa gravíssima, que fará com que seja cada vez mais difícil e caro conseguir dinheiro emprestado para o estado e para os bancos; Portugal gasta muito mais do que aquilo que produz e isso, a médio prazo, vai-se pagar; Portugal tem um endémico problema na formação da sua mão de obra que não se resolve com oferta de novas oportunidades; Portugal tem uma segurança social que estará cada vez mais sobre pressão não só com o aumento do desemprego como também com o envelhecimento da população; Portugal não tem uma visão estratégica para o seu futuro produtor seja na agricultura e nas pescas seja no seus diferentes sectores industriais; Portugal tem um estado que absorve grande parte da riqueza que produzimos anualmente porque tem muitos funcionários e mal distribuídos, porque faz muita coisa que os privados poderiam fazer, porque pensa que tem que ajudar tudo e todos (empresas, associações, artistas, etc, etc), porque anseia tudo controlar e desconfia de tudo o que é privado. Portugal vive uma situação decisiva da sua história e que se nada se fizer levará ao seu definhamento progressivo, que, se formos sensatos, já vamos vivendo há pelo menos catorze anos (digam-me quando não se disse que estávamos em crise?). É por tudo isto que a campanha que terminou foi inútil e nenhuma força política, principalmente as duas maiores (que são as que têm maior responsabilidade) foram capazes de dizer o que propunham corajosa e realmente para o país. Lembrem-se dos debates: de um lado defendia-se o que se fez nestes últimos anos (e propostas?) e do outro atacava-se esses mesmos anos (e propostas?). Talvez por isso o programa mais marcante desta campanha tenha sido o Esmiussem os Sufrágios dos renascidos Gato Fedorento que colocaram a nu as incongruências, os oportunismos e os zigzags dos nossos políticos.
Apesar de tudo isto e porque eles não são todos iguais (como se costuma ouvir. Aliás, alguns são bem diferentes) nem querem tachos (a maioria deles ganharia muito mais se não estivesse na política) e porque somos muito mais inteligentes e responsáveis do que os partidos e o seus técnicos de comunicação pensam, amanhã vamos votar pensando pela nossa cabeça e escolhendo segundo os nossos critérios. Assim se exerce uma das mais nobres acções humanas: a capacidade de exercer o governo porque com o meu voto opto por uma forma de conduzir os que são meus e os que partilham a minha terra. Voto porque entendo a sociedade como um assunto comum e que a todos diz respeito. Vou votar porque acredito que este país e este regime ainda são viáveis...
Como diz o Bartoon estamos todos cansados da campanha eleitoral que dura há muito mais que as duas semanas que a lei impõe. Hoje é o chamado dia de reflexão que impõe que aqui deixe a minha.
Em democracia escolhe-se quem nos governa. E essa escolha faz-se pelo voto. E o voto é uma escolha entre outras possíveis que faço pessoalmente depois de escutar as diferentes propostas para uma situação concreta do país em que vivo. Finalmente, com esse voto posso recompensar ou castigar um governante, posso manifestar a minha concepção ideológica ou a minha visão pragmática da vida, posso escolher o mal menor ou aquele com quem mais simpatizo pessoalmente. Assim me comprometo politicamente com a sorte do meu país, da minha situação social e económica e da dos meus. Por tudo isso, o errado nem são as campanhas nem o dia das eleições. O errado é a forma como (mais uma vez) se fez campanha. E a deste ano foi particularmente estéril, crispada, cheia de casos (que sendo-o não são o essencial) e vazia de conteúdos e visões estratégicas para o país.
Portugal vive uma situação dramática que a maioria das famílias (as que têm um emprego com um ordenado médio) não tem noção porque as juros estão muito baixos, não existe inflação, houve aumentos significativos na função pública e até o petróleo tem estado controlado. Portugal tem uma dívida externa gravíssima, que fará com que seja cada vez mais difícil e caro conseguir dinheiro emprestado para o estado e para os bancos; Portugal gasta muito mais do que aquilo que produz e isso, a médio prazo, vai-se pagar; Portugal tem um endémico problema na formação da sua mão de obra que não se resolve com oferta de novas oportunidades; Portugal tem uma segurança social que estará cada vez mais sobre pressão não só com o aumento do desemprego como também com o envelhecimento da população; Portugal não tem uma visão estratégica para o seu futuro produtor seja na agricultura e nas pescas seja no seus diferentes sectores industriais; Portugal tem um estado que absorve grande parte da riqueza que produzimos anualmente porque tem muitos funcionários e mal distribuídos, porque faz muita coisa que os privados poderiam fazer, porque pensa que tem que ajudar tudo e todos (empresas, associações, artistas, etc, etc), porque anseia tudo controlar e desconfia de tudo o que é privado. Portugal vive uma situação decisiva da sua história e que se nada se fizer levará ao seu definhamento progressivo, que, se formos sensatos, já vamos vivendo há pelo menos catorze anos (digam-me quando não se disse que estávamos em crise?). É por tudo isto que a campanha que terminou foi inútil e nenhuma força política, principalmente as duas maiores (que são as que têm maior responsabilidade) foram capazes de dizer o que propunham corajosa e realmente para o país. Lembrem-se dos debates: de um lado defendia-se o que se fez nestes últimos anos (e propostas?) e do outro atacava-se esses mesmos anos (e propostas?). Talvez por isso o programa mais marcante desta campanha tenha sido o Esmiussem os Sufrágios dos renascidos Gato Fedorento que colocaram a nu as incongruências, os oportunismos e os zigzags dos nossos políticos.
Apesar de tudo isto e porque eles não são todos iguais (como se costuma ouvir. Aliás, alguns são bem diferentes) nem querem tachos (a maioria deles ganharia muito mais se não estivesse na política) e porque somos muito mais inteligentes e responsáveis do que os partidos e o seus técnicos de comunicação pensam, amanhã vamos votar pensando pela nossa cabeça e escolhendo segundo os nossos critérios. Assim se exerce uma das mais nobres acções humanas: a capacidade de exercer o governo porque com o meu voto opto por uma forma de conduzir os que são meus e os que partilham a minha terra. Voto porque entendo a sociedade como um assunto comum e que a todos diz respeito. Vou votar porque acredito que este país e este regime ainda são viáveis...
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
À Procura de um Ritmo
Como podem notar pela minha ausência, ainda não encontrei o ritmo certo para actualizar este espaço que tantos ainda visitam pacientemente. Aos pouco vou tentando organizar o meu tempo que se encontra fragmentado por tantos espaços: aulas no colégio, aulas na faculdade, manual para EMRC quase paralisado e aqueles imprevistos que dispõem tudo o que um homem põe.
Nesta semana destaco a boa primeira impressão com que fiquei das disciplinas Filosofia da Linguagem e Filosofia da Ciência, na faculdade; a participação empenhada dos meus alunos nas aulas; e, eis uma novidade, o ambicioso projecto do encontro ibérico de Taizé que tive oportunidade de conhecer, com o José Rui, na terça-feira, na Casa de Vilar, no Porto, em representação do colégio, que, em princípio, irá participar activa e acolhedoramente.
Sinto falta do tempo e do silêncio reflexivos que o desemprego me trazia (e, já agora do subsídio que era bem maior do que o ordenado justo que recebo por doze horas de aulas), irrita-me ainda não ter organizado os meus dias, mas não tem preço ver a satisfação de quem participou numa aula significativa, escutar a pertinência e a irreverência da juventude, rever velhos e bons amigos (encontrei tantos na Casa de Vilar!) e dar um pouco mais de mim próprio. Ah, e que bom foi voltar a rezar laudes com alguém... com cerca de quinze alunos do colégio, que pediram para retomar algo que já faziam nos anos anteriores. Surpreendente, não é? Sim, mas sintomático de como todos precisamos de parar, fazer silêncio e rezar.
Nesta semana destaco a boa primeira impressão com que fiquei das disciplinas Filosofia da Linguagem e Filosofia da Ciência, na faculdade; a participação empenhada dos meus alunos nas aulas; e, eis uma novidade, o ambicioso projecto do encontro ibérico de Taizé que tive oportunidade de conhecer, com o José Rui, na terça-feira, na Casa de Vilar, no Porto, em representação do colégio, que, em princípio, irá participar activa e acolhedoramente.
Sinto falta do tempo e do silêncio reflexivos que o desemprego me trazia (e, já agora do subsídio que era bem maior do que o ordenado justo que recebo por doze horas de aulas), irrita-me ainda não ter organizado os meus dias, mas não tem preço ver a satisfação de quem participou numa aula significativa, escutar a pertinência e a irreverência da juventude, rever velhos e bons amigos (encontrei tantos na Casa de Vilar!) e dar um pouco mais de mim próprio. Ah, e que bom foi voltar a rezar laudes com alguém... com cerca de quinze alunos do colégio, que pediram para retomar algo que já faziam nos anos anteriores. Surpreendente, não é? Sim, mas sintomático de como todos precisamos de parar, fazer silêncio e rezar.
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
XXV Domingo do Tempo Comum
Escrevia, no último comentário, que Jesus, nestes domingos, nos especificaria o que eram as coisas de Deus. Na verdade, no caminho que encetou através da Galileia até Jerusalém, Jesus, rodeado por um conjunto de discípulos cada vez mais desentendidos e dessintonizados com o seu seguimento, sublinha dois critérios fundamentais para as suas comunidades: ser o primeiro é ser o servidor de todos(Marcos usa o grego diaconos e não o termo grego doulos porque o primeiro sublinha uma atitude de vida e o segundo um ofício, um "emprego"); e, ser cristão (colocar no centro e acolher o Mestre) é acolher prioritariamente os mais marginalizados do nosso tempo.
Mas o texto de ontem tem uma leitura que completa ainda mais profundamente aquilo que acabamos de dizer e que desafia a um exame de consciência todos os que pertencem e vivem activamente na comunidade cristã, na Igreja.
Se notarmos há como que dois cenários em que toda a cena se desenrola: no caminho e em casa. No primeiro o que vemos? Jesus anuncia a sua paixão, morte e ressurreição; os discípulos não a entendem, mas têm medo do Mestre e da sua reacção diante das suas dúvidas e, por isso, nada perguntam (lembrem-se da reacção violenta de Jesus há uma semana diante das palavras de Pedro). Mais, seguem-no como ele tinha pedido há oito dias, mas seguem-no a discutir qual deles era o maior, qual deles teria um lugar de destaque em Jerusalém para onde caminhavam. Em pouca palavras, seguiam Jesus mas não o entendiam nem interrogavam, seguiam Jesus com medo e invejas mútuas, seguiam Jesus em busca de sucesso individual e de poder. Seguiam Jesus exteriormente, mas os seus corações continuavam muito longe das coisas de Deus. Seguiam Jesus para os outros verem, mas não queriam ser como Ele, seguir os seus passos.
Em casa, na intimidade, Jesus desmascara-os e envergonha-os colocando-os diante da sua verdade mesquinha, da pequenez das suas personalidades, do alcance limitadíssimo da sua fé nele: Que discutíeis no caminho? E perante o seu silêncio comprometido e revelador, Jesus dá-lhes uma sentença e oferece-lhes um gesto: serviço e acolhimento.
Hoje às nossas comunidades, à nossa Igreja Jesus deixa esta questão: que discutíeis no caminho? Não será o vosso seguimento uma exterioridade? Não me seguis em busca do vosso sucesso e não do irmão? Não serão as vossas guerras e desavenças nas comunidades uma luta de vaidades e poderes compensadores da irrelevância social das vossas vidas?
Nas nossas comunidade e na nossa Igreja quem está no centro? (Tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a...) Os marginalizados, os pequenos, os servidores, os simples, os servos dos servos de Deus?
Que cada um e que cada comunidade fique em silêncio e analise o seu serviço... Que os conselhos paroquiais de pastoral, presbiteriais, episcopais, etc antes de elaborarem eloquentes planos de acção leiam este Evangelho e a segunda leitura de S. Tiago, façam silêncio e reflictam o seu discipulado e a verdade dos gestos da sua acção.
Aqui fica, para reflexão mútua, o eloquente final da segunda leitura de ontem:
De onde procedem os conflitos entre vós?
Não é precisamente das paixões que lutam nos vossos membros?
Cobiçais e nada conseguis: então assassinais.
Sois invejosos e não podeis obter nada: então entrais em conflitos e guerras.
Nada tendes, porque nada pedis.
Pedis e não recebeis, porque pedis mal,
pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões.
Mas o texto de ontem tem uma leitura que completa ainda mais profundamente aquilo que acabamos de dizer e que desafia a um exame de consciência todos os que pertencem e vivem activamente na comunidade cristã, na Igreja.
Se notarmos há como que dois cenários em que toda a cena se desenrola: no caminho e em casa. No primeiro o que vemos? Jesus anuncia a sua paixão, morte e ressurreição; os discípulos não a entendem, mas têm medo do Mestre e da sua reacção diante das suas dúvidas e, por isso, nada perguntam (lembrem-se da reacção violenta de Jesus há uma semana diante das palavras de Pedro). Mais, seguem-no como ele tinha pedido há oito dias, mas seguem-no a discutir qual deles era o maior, qual deles teria um lugar de destaque em Jerusalém para onde caminhavam. Em pouca palavras, seguiam Jesus mas não o entendiam nem interrogavam, seguiam Jesus com medo e invejas mútuas, seguiam Jesus em busca de sucesso individual e de poder. Seguiam Jesus exteriormente, mas os seus corações continuavam muito longe das coisas de Deus. Seguiam Jesus para os outros verem, mas não queriam ser como Ele, seguir os seus passos.
Em casa, na intimidade, Jesus desmascara-os e envergonha-os colocando-os diante da sua verdade mesquinha, da pequenez das suas personalidades, do alcance limitadíssimo da sua fé nele: Que discutíeis no caminho? E perante o seu silêncio comprometido e revelador, Jesus dá-lhes uma sentença e oferece-lhes um gesto: serviço e acolhimento.
Hoje às nossas comunidades, à nossa Igreja Jesus deixa esta questão: que discutíeis no caminho? Não será o vosso seguimento uma exterioridade? Não me seguis em busca do vosso sucesso e não do irmão? Não serão as vossas guerras e desavenças nas comunidades uma luta de vaidades e poderes compensadores da irrelevância social das vossas vidas?
Nas nossas comunidade e na nossa Igreja quem está no centro? (Tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a...) Os marginalizados, os pequenos, os servidores, os simples, os servos dos servos de Deus?
Que cada um e que cada comunidade fique em silêncio e analise o seu serviço... Que os conselhos paroquiais de pastoral, presbiteriais, episcopais, etc antes de elaborarem eloquentes planos de acção leiam este Evangelho e a segunda leitura de S. Tiago, façam silêncio e reflictam o seu discipulado e a verdade dos gestos da sua acção.
Aqui fica, para reflexão mútua, o eloquente final da segunda leitura de ontem:
De onde procedem os conflitos entre vós?
Não é precisamente das paixões que lutam nos vossos membros?
Cobiçais e nada conseguis: então assassinais.
Sois invejosos e não podeis obter nada: então entrais em conflitos e guerras.
Nada tendes, porque nada pedis.
Pedis e não recebeis, porque pedis mal,
pois o que pedis é para satisfazer as vossas paixões.
quarta-feira, 16 de setembro de 2009
Começaram as Aulas
Finalmente começou o ano lectivo 2009/2010. Na terça-feira já dei aulas a quatro das minhas doze turmas, numa realidade totalmente nova que é o Colégio Luso-Francês. Nunca tive turmas tão grandes porque aqui a disciplina de EMRC não é facultativa. Nunca estive numa escola em que esta disciplina não fosse vista ou com complacência ou com desprezo. Nunca falei para alunos com uma postura tão interessada e pró-activa. Sinto que esta experiência é uma oportunidade única que não posso desperdiçar porque tenho os meios mais que necessários e os protagonistas (os alunos) ideais para exercer com rigor e qualidade a missão de professor de EMRC. Não pensem que tal só é possível porque estou num colégio católico. Tal é possível porque aqui cultiva-se não a cultura do facilitismo, mas do trabalho; não a cultura do facultativo, mas da opção responsável; não a cultura do desenrasca, mas do mérito; não a cultura da ocupação de tempos livres, mas da vontade de saber.
Quando se ouve a falar de não sei quantos mais computadores nas escolas, de não sei quantas mais escolas em obras (ou centros educativos como hoje se diz), de não sei quantos portáteis para alunos, de não sei quantas mais horas que os alunos ficam na escola em prolongamentos de horários, de não sei quantos novos cursos profissionais, gostava de perguntar... e as pessoas? Como pode haver escolas sem professores? E que sentido têm estes sem alunos?
Aluno, que derivando do verbo latino alere (alimentar), é aquele que é alimentado ao peito, isto é, é aquele a quem se dá um alimento indispensável, por vezes desagradavel, mas que faz bem; a quem muitas vezes se interrompe o que mais gosta de fazer, mas que tem que ser assim para crescer integralmente; que tantas vezes faz cara feia e diz que não gosta, mas que tem que experimentar para compreender a vida. Não, os alunos não precisam de computadores individuais, mas de aprenderem a trabalhar individualmente e em grupo; não precisam de pesquisar na net (esse mito) a partir de tenra idade, mas a entrarem em bibliotecas a sério para aprenderem a ler, a investigar, a aprofundar em bibliografia que sabem citar; não precisam de mais tempo na escola, mas de pais disponíveis, atentos e diligentemente amorosos; não precisam dos últimos gritos de tecnologia, mas de professores dignificados, valorizados e livres de burocracias para alimentar os seus alunos com o seu saber; não precisam do faz de conta que se sabe, que se passa de ano, que se tem um curso, mas de quem respeite, estimule e potencie a sua jovem, inquieta e fresca inteligência.
Enfim, aposta-se no mais fácil: dar coisas, pintar fachadas, facilitar a vida, oferecer canudos. Não, neste país o aluno não está em primeiro...
Entusiasmei-me e não falei da faculdade, fica para amanhã.
Quando se ouve a falar de não sei quantos mais computadores nas escolas, de não sei quantas mais escolas em obras (ou centros educativos como hoje se diz), de não sei quantos portáteis para alunos, de não sei quantas mais horas que os alunos ficam na escola em prolongamentos de horários, de não sei quantos novos cursos profissionais, gostava de perguntar... e as pessoas? Como pode haver escolas sem professores? E que sentido têm estes sem alunos?
Aluno, que derivando do verbo latino alere (alimentar), é aquele que é alimentado ao peito, isto é, é aquele a quem se dá um alimento indispensável, por vezes desagradavel, mas que faz bem; a quem muitas vezes se interrompe o que mais gosta de fazer, mas que tem que ser assim para crescer integralmente; que tantas vezes faz cara feia e diz que não gosta, mas que tem que experimentar para compreender a vida. Não, os alunos não precisam de computadores individuais, mas de aprenderem a trabalhar individualmente e em grupo; não precisam de pesquisar na net (esse mito) a partir de tenra idade, mas a entrarem em bibliotecas a sério para aprenderem a ler, a investigar, a aprofundar em bibliografia que sabem citar; não precisam de mais tempo na escola, mas de pais disponíveis, atentos e diligentemente amorosos; não precisam dos últimos gritos de tecnologia, mas de professores dignificados, valorizados e livres de burocracias para alimentar os seus alunos com o seu saber; não precisam do faz de conta que se sabe, que se passa de ano, que se tem um curso, mas de quem respeite, estimule e potencie a sua jovem, inquieta e fresca inteligência.
Enfim, aposta-se no mais fácil: dar coisas, pintar fachadas, facilitar a vida, oferecer canudos. Não, neste país o aluno não está em primeiro...
Entusiasmei-me e não falei da faculdade, fica para amanhã.
domingo, 13 de setembro de 2009
XXIV Domingo do Tempo Comum
Por entre as regiões de Cesareia de Filipe (cidade construída em honra de César, em honra dos poderes políticos, em honra de todos os poderes) Jesus, para nos fazer entender de que espécie é o poder de Deus, faz como que uma sondagem: Quem dizem os homens que eu sou? Quais as etiquetas que me colocam? Como e por quem me julgam os homens? As respostas não se fizeram esperar em catadupa. Mas elas apenas introduzem a questão central: E vós, quem dizeis que eu sou? E aqui surge o centro despoletador de toda a narrativa.
Ao contrário de Mateus e Lucas, Marcos não coloca Jesus a elogiar a resposta de Pedro (Tu és o Messias). Porque, como se vê mais à frente quando reage a explicitação do messianismo de Jesus, a resposta de Pedro não é tão perfeita como poderíamos pensar. Para a enquadrar, Jesus explica a Pedro e aos outros o que é o Messias (o servo sofredor), como é o poder de Deus e do que são capazes os poderes deste mundo. A reacção de Pedro revela como ele, afinal, pensava mal o messianismo de Jesus: político, tradicional, poderoso, triunfalista. E Jesus violentamente diz-lhe que se coloque atrás dele: a tradução correcta não é a litúrgica ("Vai-te, Satanás") mas "Vai para trás de mim, Satanás".
O que Jesus diz a Pedro e a cada um de nós cristãos ("Chamando a multidão" que somos nós cristãos) é que não usemos palavras gastas e velhas para falarmos dele; não empreguemos termos de que ouvimos falar há muito ou que nos puseram na cabeça; não repitamos esquemas ou frases feitas de que ou não sabemos o que significam ou não vivemos o que elas implicam.
Se queres saber quem eu sou e queres ser meu discípulo coloca-te no meu encalço, percorre o caminho que passa da cidade dos poderosos políticos à cidade dos poderosos religiosos (Jerusalém com os anciãos, sumos sacerdotes e escribas) onde chegarás ao calvário (sofrimento e morte), ao jardim (sepultamento e fim) e à manhã do primeiro dia da semana (ressurreição). Não te afastes de mim (que mal a tal tradução!), mas vem perceber como Deus nada tem que ver com as coisas do homem, como é diferente, nos critérios, nos motivos, nos resultados, na própria vida, o caminho de Deus do caminho do homem.
Nos próximos domingos, Jesus, esperando que caminhemos atrás dele, nos ensinará, com palavras e vida, como são as coisas de Deus. Melhor, como é Deus. E como se pode ser seu discípulo.
Mas uma coisa parece desde já certa: não sejamos tão rápidos a usar etiquetas nem para o Mestre nem para os outros. Sobre Ele repetimos fórmulas e não vivências, algo que a ninguém converte nem chama, nem transforma. Sobre os outros repetimos juízos e aprofundamos divisões e desconfianças, algo de que o mundo já está tão cheio e cansado.
Ao contrário de Mateus e Lucas, Marcos não coloca Jesus a elogiar a resposta de Pedro (Tu és o Messias). Porque, como se vê mais à frente quando reage a explicitação do messianismo de Jesus, a resposta de Pedro não é tão perfeita como poderíamos pensar. Para a enquadrar, Jesus explica a Pedro e aos outros o que é o Messias (o servo sofredor), como é o poder de Deus e do que são capazes os poderes deste mundo. A reacção de Pedro revela como ele, afinal, pensava mal o messianismo de Jesus: político, tradicional, poderoso, triunfalista. E Jesus violentamente diz-lhe que se coloque atrás dele: a tradução correcta não é a litúrgica ("Vai-te, Satanás") mas "Vai para trás de mim, Satanás".
O que Jesus diz a Pedro e a cada um de nós cristãos ("Chamando a multidão" que somos nós cristãos) é que não usemos palavras gastas e velhas para falarmos dele; não empreguemos termos de que ouvimos falar há muito ou que nos puseram na cabeça; não repitamos esquemas ou frases feitas de que ou não sabemos o que significam ou não vivemos o que elas implicam.
Se queres saber quem eu sou e queres ser meu discípulo coloca-te no meu encalço, percorre o caminho que passa da cidade dos poderosos políticos à cidade dos poderosos religiosos (Jerusalém com os anciãos, sumos sacerdotes e escribas) onde chegarás ao calvário (sofrimento e morte), ao jardim (sepultamento e fim) e à manhã do primeiro dia da semana (ressurreição). Não te afastes de mim (que mal a tal tradução!), mas vem perceber como Deus nada tem que ver com as coisas do homem, como é diferente, nos critérios, nos motivos, nos resultados, na própria vida, o caminho de Deus do caminho do homem.
Nos próximos domingos, Jesus, esperando que caminhemos atrás dele, nos ensinará, com palavras e vida, como são as coisas de Deus. Melhor, como é Deus. E como se pode ser seu discípulo.
Mas uma coisa parece desde já certa: não sejamos tão rápidos a usar etiquetas nem para o Mestre nem para os outros. Sobre Ele repetimos fórmulas e não vivências, algo que a ninguém converte nem chama, nem transforma. Sobre os outros repetimos juízos e aprofundamos divisões e desconfianças, algo de que o mundo já está tão cheio e cansado.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Abre-te
Queria hoje partilhar um pequeno texto do biblista Rodolfo Felices Luna que acabei de ler no site do secretariado nacional da pastoral da cultura. Este texto vem ao encontro da minha reflexão a partir do "Abre-te" do Evangelho de domingo: temos que ser nós a abrir a nossa vida à novidade, ao desafio, ao risco da liberdade. Como me revejo neste pequeno texto! Nele estão muitas das minhas motivações para os caminhos que tenho desbravado. É por isso que não me sinto confundido.
Mas é bem melhor lerem o texto daquele teólogo e que ele seja inspirador para os nossos dias, para os nossos passos... Um bom dia para todos...
"Foi por falta de túmulos no Egipto que nos trouxeste para morrermos no deserto? O que é isto que nos fizeste, fazendo-nos sair do Egipto? (Êxodo 14,11)
Deus fez sair os escravos israelitas do Egipto, mas o Faraó lançou-se na sua perseguição. No meio das dificuldades, os fugitivos começaram a ter saudades da escravatura, culpando Moisés por os ter feito sair da opressão.
Temos a tendência de nos acomodar à infelicidade familiar, em vez de arriscar uma felicidade incerta. Deus pode abrir a porta das nossas prisões e dos nossos túmulos, mas cabe a nós sair e abrirmo-nos à liberdade.
Esta audácia aprende-se! Deus está presente na nossa longa marcha para a terra prometida. Ele ampara-nos e guia-nos para auroras felizes, mas não pode pôr um pé diante do outro em nosso lugar: é a nós que pertence caminhar para a alegria."
Mas é bem melhor lerem o texto daquele teólogo e que ele seja inspirador para os nossos dias, para os nossos passos... Um bom dia para todos...
"Foi por falta de túmulos no Egipto que nos trouxeste para morrermos no deserto? O que é isto que nos fizeste, fazendo-nos sair do Egipto? (Êxodo 14,11)
Deus fez sair os escravos israelitas do Egipto, mas o Faraó lançou-se na sua perseguição. No meio das dificuldades, os fugitivos começaram a ter saudades da escravatura, culpando Moisés por os ter feito sair da opressão.
Temos a tendência de nos acomodar à infelicidade familiar, em vez de arriscar uma felicidade incerta. Deus pode abrir a porta das nossas prisões e dos nossos túmulos, mas cabe a nós sair e abrirmo-nos à liberdade.
Esta audácia aprende-se! Deus está presente na nossa longa marcha para a terra prometida. Ele ampara-nos e guia-nos para auroras felizes, mas não pode pôr um pé diante do outro em nosso lugar: é a nós que pertence caminhar para a alegria."
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
Um Lanche Ajantarado
Por vezes, os meus dias são diversificados porque a vida foi e é diversificada. Se, tal com aqui escrevi, na segunda-feira estive com o jovem casal de namorados Mário e Zsusi , ontem, fui a Válega lanchar com três amigas, jovens de espírito mas já com um pouco mais de idade. Eram a Teresa, a Rosa e a Flauzira que conheci quando por lá paroquiei. São três amigas que fazem questão de manter e aprofundar os laços que então criamos. Diria, até, que hoje ainda somos mais amigos e mais próximos. São pessoas já com uma longa história de vida, feita (como todas as histórias de vida) de alegrias transbordantes e de tristezas profundas, de duros sacrifícios e de esperançosas recompensas, de entregas amorosas e desilusões humanas. Mas o que mais lhes admiro é a capacidade de fazerem a síntese de tudo o que viram, viveram e experimentaram na vida. Essa síntese permite-lhes relativizar o presente, tirar do passado o essencial e olhar o futuro como algo já hoje a iniciar urgentemente. Neste sentido, entendo o seu carinho por mim e sinto-me lisonjeado por ele: entendo-o porque percebo que sou uma importante e boa lembrança nas suas memórias; e, lisonjeado porque realmente não fiz nada de especial, apenas dei o que tinha e era. Tal como hoje. Mas sabem escutei-as, dialoguei, dei-lhes do meu tempo, valorizei-as (porque acreditei que eram capazes de entender as novas linguagens da fé) e dignifiquei o seu trabalho eclesial e a sua vida social e familiar. E isto é o melhor que podemos fazer a alguém.
Ontem vivi mais um momento feliz dos meus dias, daqueles com que se tece a utópica felicidade. E por falar em momentos deixo aqui este vídeo tirado do blog do Público Religionline que nos faz perceber como um momento (do mais banal ao maior) nos faz saborear a vida.
Ontem vivi mais um momento feliz dos meus dias, daqueles com que se tece a utópica felicidade. E por falar em momentos deixo aqui este vídeo tirado do blog do Público Religionline que nos faz perceber como um momento (do mais banal ao maior) nos faz saborear a vida.
terça-feira, 8 de setembro de 2009
Dois Filmes
Ontem à noite fui ao cinema ver o último filme de um dos realizadores mais estimulantes do panorama actual: Michael Mann (O Último dos Moicanos, Heat, Colateral, Miami Vice). Inimigos Públicos conta a história de John Dellinger (Johnny Depp), um assaltante de bancos, no tempo da grande depressão americana, que, além de se ver perseguido por Melvin Purvis (Christian Bale), vai sendo ultrapassado, não só pelas novas técnicas de investigação do nascente FBI, como, principalmente, pelos novos tempos que se avizinham e que tornam a sua actividade e o seu código de conduta cada vez mais arcaicos.
Apesar da previsibilidade do seu argumento, o que sublinho é o trabalho de realização, que apoiado pela flutuante câmara digital (que Mann dirige como ninguém actualmente), compõe coreograficamente as diferentes cenas (de perseguição, de relação amorosa, do face to face, os grandes planos) de forma extraordinária e original. É aqui que o filme se afirma e se impõe como um filme de uma beleza visual e cénica que quase que não precisávamos de uma grande história para o recordarmos como bom cinema, servido por um leque de actores em que destaco Bale, cada vez um dos melhores da actualidade.
E já que estamos a falar de cinema, vou só destacar o penúltimo que vi. A última maravilha da Pixar: Up. Com certeza que quem tem seguido a cinematografia deste estúdio já percebeu que estes filmes são cada vez menos para as crianças. A Pixar alia à sua excelência técnica argumentos em que a complexidade das suas personagens principais é basicamente incompreensível para o habitual público de filmes de animação. E ainda bem que assim é porque obriga as crianças a sair da passividade informática e televisiva em que estão enredadas e porque proporciona aos adultos a possibilidade de ir além do visualmente estimulante ou entretido.
Neste Up o risco volta a ser elevado: é preciso coragem para colocar como protagonista um velho viúvo, amargurado e saudoso, eternamente apaixonado pela sua falecida, em busca do último sonho dela. O desafio é vencido ternurenta e magnificamente nos primeiros dez minutos do filme, onde contactamos com a história amorosa deste casal. E quando, por entre perseguições e aventuras pouco entusiasmantes, em breves segundos, este viúvo percebe que tem que deixar para trás tudo o que lhe torna presente a sua esposa. São segundos em que os olhos de um boneco se enchem de lágrimas contidas e dignas, como nunca se viu em animação e raramente se vê no cinema que por aí pulula como fast food. Trazer para um filme de animação a força do amor de duas almas gémeas separadas pela vida e a dureza da vida envelhecida que tem que vencer os obstáculos do corpo, do progresso e da inabitabilidade num mundo cada vez mais estranho são desafios que corajosamente foram atingidos com distinção.
Não é o melhor da Pixar (Walle, Ratatui, Carros, Os Incriveis), mas é, a anos luz, do melhor que o cinema deste ano nos ofereceu.
Só mais um conselho, não gastem dinheiro em ver o filme em 3D (foi o primeiro que vi, por isso não vou, ainda, dizer que é uma fraude), não ganham nada, a não ser uns inúteis e ridículos óculos.
Apesar da previsibilidade do seu argumento, o que sublinho é o trabalho de realização, que apoiado pela flutuante câmara digital (que Mann dirige como ninguém actualmente), compõe coreograficamente as diferentes cenas (de perseguição, de relação amorosa, do face to face, os grandes planos) de forma extraordinária e original. É aqui que o filme se afirma e se impõe como um filme de uma beleza visual e cénica que quase que não precisávamos de uma grande história para o recordarmos como bom cinema, servido por um leque de actores em que destaco Bale, cada vez um dos melhores da actualidade.
E já que estamos a falar de cinema, vou só destacar o penúltimo que vi. A última maravilha da Pixar: Up. Com certeza que quem tem seguido a cinematografia deste estúdio já percebeu que estes filmes são cada vez menos para as crianças. A Pixar alia à sua excelência técnica argumentos em que a complexidade das suas personagens principais é basicamente incompreensível para o habitual público de filmes de animação. E ainda bem que assim é porque obriga as crianças a sair da passividade informática e televisiva em que estão enredadas e porque proporciona aos adultos a possibilidade de ir além do visualmente estimulante ou entretido.
Neste Up o risco volta a ser elevado: é preciso coragem para colocar como protagonista um velho viúvo, amargurado e saudoso, eternamente apaixonado pela sua falecida, em busca do último sonho dela. O desafio é vencido ternurenta e magnificamente nos primeiros dez minutos do filme, onde contactamos com a história amorosa deste casal. E quando, por entre perseguições e aventuras pouco entusiasmantes, em breves segundos, este viúvo percebe que tem que deixar para trás tudo o que lhe torna presente a sua esposa. São segundos em que os olhos de um boneco se enchem de lágrimas contidas e dignas, como nunca se viu em animação e raramente se vê no cinema que por aí pulula como fast food. Trazer para um filme de animação a força do amor de duas almas gémeas separadas pela vida e a dureza da vida envelhecida que tem que vencer os obstáculos do corpo, do progresso e da inabitabilidade num mundo cada vez mais estranho são desafios que corajosamente foram atingidos com distinção.
Não é o melhor da Pixar (Walle, Ratatui, Carros, Os Incriveis), mas é, a anos luz, do melhor que o cinema deste ano nos ofereceu.
Só mais um conselho, não gastem dinheiro em ver o filme em 3D (foi o primeiro que vi, por isso não vou, ainda, dizer que é uma fraude), não ganham nada, a não ser uns inúteis e ridículos óculos.
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Almoço com um Amigo
Acabei de rever e almoçar com um bom amigo que já não via há muitos anos e que fez questão de me apresentar a sua namorada húngara, Mohàcsi Zsuzsanna, que conheceu quando fez Erasmus, em Budapeste. Mais. Como ainda não têm carta, vieram de Válega de comboio e bicicleta até Esmoriz só para estar comigo porque diz que sou alguém muito importante no seu percurso de vida. O Mário é um estudante universitário que conheci em Válega porque fazia parte de um dos meus grupos de jovens, com quem passei horas inesquecíveis e sempre revisitadas. Mantém a sua transparência sincera, a sua dedicação amiga, a sua insaciável vontade de aprender coisas novas, o seu indomável carácter sonhador e uma capacidade de luta que é apanágio daqueles que não nasceram nem em berços de ouro nem rodeados de proteccionismos paternais, geradores de dependências infantis.
Fiquei muito sensibilizado pelo seu gesto e pelas suas palavras porque, afinal de contas, só convivemos um ano e, desde que saí de Válega, foi só a segunda vez que estivemos juntos. É um sinal de como, por vezes, os nossos gestos e as nossas palavras tocam os outros de tal forma que eles nunca mais se esquecem. Fico muito feliz que, no caso do Mário, lhe tenham tocado positivamente e, ainda hoje, o ajudem a conduzir a sua vida. Para ele, para a sua família e para Zsuzsanna um muito obrigado pela dedicação e pela simpatia.
Fiquei muito sensibilizado pelo seu gesto e pelas suas palavras porque, afinal de contas, só convivemos um ano e, desde que saí de Válega, foi só a segunda vez que estivemos juntos. É um sinal de como, por vezes, os nossos gestos e as nossas palavras tocam os outros de tal forma que eles nunca mais se esquecem. Fico muito feliz que, no caso do Mário, lhe tenham tocado positivamente e, ainda hoje, o ajudem a conduzir a sua vida. Para ele, para a sua família e para Zsuzsanna um muito obrigado pela dedicação e pela simpatia.
domingo, 6 de setembro de 2009
XXIII Domingo do Tempo Comum
Depois de virulência das palavras de Jesus contra as autoridades religiosas dos judeus e contra a exterioridade da vivência religiosa do seu povo, ele parte para as regiões habitadas por pagãos para comunicar com diferentes culturas, com novas formas de linguagem e com novas mentalidades. Neste percurso surge-nos a cena da cura de um "surdo que mal podia falar". Estamos diante de um milagre que, como todos os outros no evangelho, é muito mais que uma cura. É um sinal para ler, interpretar e aplicar aos nossos dias e à nossa vida.
Este sinal é dos poucos milagres em que Jesus não utiliza só a palavra, mas também o gesto ("meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva toca-lhe a língua") que aliado ao "Effathá" ("Abre-te") nos indica claramente o alcance deste momento.
Um surdo é alguém incapaz de comunicar(pelo menos no tempo de Jesus isto era muito mais visível porque não havia uma linguagem gestual como nos nossos tempos) porque, não escutando, não é capaz de acolher ou contrapor nada a ninguém. É como se não tivesse nunca um interlocutor. Está só e fechado.
Em toda esta cena este surdo/mudo é imagem de todos os que se fecham nas suas certezas (Cf. os judeus no domingo passado), que se enclausuram nos seus problemas pessoais (como se fossem as pessoas mais azaradas da terra, numa auto-indulgência medíocre), que, incapazes de escutar os apelos dos homens e mulheres de hoje tão aferrados que estão à suas velhas seguranças, têm uma linguagem imperceptível e irrelevante para a nossa humanidade (Jesus nunca foi irrelevante para os seus porque nunca se ficou pela crítica, mas teve gestos e palavras de proximidade amorosa). Este surdo/mudo é imagem de uma sociedade da comunicação formada por indivíduos cada vez mais isolados e individualistas, mais uniformizados e menos plurais e que tendem a fechar-se ao que se passa e sente à sua volta, próximo de si, nas suas casas, no íntimo de cada um...
Jesus é muito claro: é tudo uma questão de saber ouvir e de saber falar (Cf. os gestos do milagre), de se abrir ao outro, à opinião contrária, a diferentes formas de vida, aos novos códigos e símbolos linguísticos, às emergentes formas culturais de pensar, rezar, agir, ser.
"Abre-te"... Abre os ouvidos para escutar... Solta a língua para dialogar... Eis a postura do cristão hoje: aprende a escutar e sê capaz do diálogo. Nada disto é para perderes a tua originalidade e riqueza que brotam da tua união a Cristo, mas é a única forma de não viveres um cristianismo egoísta, utilitarista, retrógrado, insensivel, alheado, velho. Isto é, é a única forma de passares de um cristianismo religioso e fossilizado, para uma fé cristã em relação pessoal e permanente com o Mestre e, como ele, com o mundo.
Igreja: abre-te, assume os riscos e as exigências do diálogo com o mundo porque o pior surdo é o que não quer ouvir e o pior mudo é o que se nega a responder...
A cada um desafia: abre-te e sai do carpir a tua sorte e do ter pena de ti. Escuta os outros, escuta a vida, dialoga com ambos e percebe que só de cabeça erguida e em diálogo reflectido (acolher e dar), com tudo o que nos rodeia e somos, é que seremos capazes de subir acima da nossa vidinha e dos meus isolamentos estéreis. Abre-te...
Este sinal é dos poucos milagres em que Jesus não utiliza só a palavra, mas também o gesto ("meteu-lhe os dedos nos ouvidos e com saliva toca-lhe a língua") que aliado ao "Effathá" ("Abre-te") nos indica claramente o alcance deste momento.
Um surdo é alguém incapaz de comunicar(pelo menos no tempo de Jesus isto era muito mais visível porque não havia uma linguagem gestual como nos nossos tempos) porque, não escutando, não é capaz de acolher ou contrapor nada a ninguém. É como se não tivesse nunca um interlocutor. Está só e fechado.
Em toda esta cena este surdo/mudo é imagem de todos os que se fecham nas suas certezas (Cf. os judeus no domingo passado), que se enclausuram nos seus problemas pessoais (como se fossem as pessoas mais azaradas da terra, numa auto-indulgência medíocre), que, incapazes de escutar os apelos dos homens e mulheres de hoje tão aferrados que estão à suas velhas seguranças, têm uma linguagem imperceptível e irrelevante para a nossa humanidade (Jesus nunca foi irrelevante para os seus porque nunca se ficou pela crítica, mas teve gestos e palavras de proximidade amorosa). Este surdo/mudo é imagem de uma sociedade da comunicação formada por indivíduos cada vez mais isolados e individualistas, mais uniformizados e menos plurais e que tendem a fechar-se ao que se passa e sente à sua volta, próximo de si, nas suas casas, no íntimo de cada um...
Jesus é muito claro: é tudo uma questão de saber ouvir e de saber falar (Cf. os gestos do milagre), de se abrir ao outro, à opinião contrária, a diferentes formas de vida, aos novos códigos e símbolos linguísticos, às emergentes formas culturais de pensar, rezar, agir, ser.
"Abre-te"... Abre os ouvidos para escutar... Solta a língua para dialogar... Eis a postura do cristão hoje: aprende a escutar e sê capaz do diálogo. Nada disto é para perderes a tua originalidade e riqueza que brotam da tua união a Cristo, mas é a única forma de não viveres um cristianismo egoísta, utilitarista, retrógrado, insensivel, alheado, velho. Isto é, é a única forma de passares de um cristianismo religioso e fossilizado, para uma fé cristã em relação pessoal e permanente com o Mestre e, como ele, com o mundo.
Igreja: abre-te, assume os riscos e as exigências do diálogo com o mundo porque o pior surdo é o que não quer ouvir e o pior mudo é o que se nega a responder...
A cada um desafia: abre-te e sai do carpir a tua sorte e do ter pena de ti. Escuta os outros, escuta a vida, dialoga com ambos e percebe que só de cabeça erguida e em diálogo reflectido (acolher e dar), com tudo o que nos rodeia e somos, é que seremos capazes de subir acima da nossa vidinha e dos meus isolamentos estéreis. Abre-te...
sábado, 5 de setembro de 2009
A Minha Unidade Lectiva
Ontem fui comprar os manuais de E.M.R.C. para o sétimo ano e para o oitavo ano e encontrei o director do Secretariado Diocesano do Ensino da Igreja nas Escolas e colega do grupo de trabalho de elaboração dos manuais para o secundário, que me deu a notícia de que a minha unidade lectiva sobre os novos movimentos religiosos já tinha saído.
Portanto, aí está a novíssima capa do meu trabalho deste ano neste grupo. Foi uma nova que me deixou muito satisfeito mas com uma pequeno travo amargo ao folhear e ler a unidade que escrevi. Foi pena não me a terem enviado para uma revisão porque evitaria algumas imprecisões dispensáveis, proporia algumas mudanças gráficas e tomaria conhecimento de algumas modificações (legítimas) sobre o meu texto. Teria sido útil e curial. Mas o mais importante é que o ensino de E.M.R.C., no ensino secundário, está enriquecido com mais três unidades lectivas (Valores e Ética Cristã; A Civilização do Amor; Os novos Movimentos Religiosos) que são uma subsídio indispensável para um ensino rigoroso, profundo, denso e sério desta disciplina. E é uma honra para mim protagonizar, com muitos outros, este movimento de enriquecimento e renovação.
De saída, uma referência ao manual do sétimo ano, que, ontem pela primeira vez tive entre mãos. Que salto qualitativo. Ainda não o experimentei em contexto de sala de aula, mas parece-me muito bom. Talvez um pouco extenso (tenho dúvidas se o conseguirei dar todo num ano lectivo), mas está apelativo, rigoroso e é altamente diginificador desta disciplina. Parabéns aos seus autores.
Quem tiver dúvidas sobre a qualidade deste trabalho da Igreja folheie, qualquer um dos novos manuais de E.M.R.C. e verificará como os conteúdos desta disciplina são sérios, científicos, uma mais valia para a escola e não têm nada de comum com a catequese paroquial. Se formos sérios e isentos na nossa análise verificaremos que uma disciplina assim é indispensável na escola laica, plural, ocidental e que se pretende como integral na sua formação.
Portanto, aí está a novíssima capa do meu trabalho deste ano neste grupo. Foi uma nova que me deixou muito satisfeito mas com uma pequeno travo amargo ao folhear e ler a unidade que escrevi. Foi pena não me a terem enviado para uma revisão porque evitaria algumas imprecisões dispensáveis, proporia algumas mudanças gráficas e tomaria conhecimento de algumas modificações (legítimas) sobre o meu texto. Teria sido útil e curial. Mas o mais importante é que o ensino de E.M.R.C., no ensino secundário, está enriquecido com mais três unidades lectivas (Valores e Ética Cristã; A Civilização do Amor; Os novos Movimentos Religiosos) que são uma subsídio indispensável para um ensino rigoroso, profundo, denso e sério desta disciplina. E é uma honra para mim protagonizar, com muitos outros, este movimento de enriquecimento e renovação.
De saída, uma referência ao manual do sétimo ano, que, ontem pela primeira vez tive entre mãos. Que salto qualitativo. Ainda não o experimentei em contexto de sala de aula, mas parece-me muito bom. Talvez um pouco extenso (tenho dúvidas se o conseguirei dar todo num ano lectivo), mas está apelativo, rigoroso e é altamente diginificador desta disciplina. Parabéns aos seus autores.
Quem tiver dúvidas sobre a qualidade deste trabalho da Igreja folheie, qualquer um dos novos manuais de E.M.R.C. e verificará como os conteúdos desta disciplina são sérios, científicos, uma mais valia para a escola e não têm nada de comum com a catequese paroquial. Se formos sérios e isentos na nossa análise verificaremos que uma disciplina assim é indispensável na escola laica, plural, ocidental e que se pretende como integral na sua formação.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Última Hora
Soube agora: o programa Jogo Duplo em que o meu irmão participou vai hoje para o ar às 21h. Divirtam-se. Eu, já sabem, diverti-me muito.
Boas Notícias
Passei a manhã, no colégio Luso-Francês, na preparação do novo ano lectivo. Sim, é verdade, este ano vou dar aulas. É um horário incompleto e, com certeza, vou ganhar menos que o subsídio que estava a receber, mas isso é muito pouco importante porque um convite destes faz-nos sentir reconhecidos no nosso valor, acolhidos pelos outros e valorizados pelo que somos. Coisas sem preço.
Estarei a substituir, por um ano, um colega que foi realizar a profissionalização na disciplina de E.M.R.C.
Vou tentar conjugar as aulas com a faculdade, como trabalhador estudante, para adiantar o máximo possível e o melhor possível o meu curso de filosofia.
Nesta altura tenho que agradecer ao meu amigo José Rui, que nunca se esqueceu de mim, e à irmã Aurora, que bondosamente me acolheu numa tão prestigiada instituição de ensino.
Vai ser uma ano de muito trabalho (aulas, faculdade e manuais) para o qual peço e espero poder estar à altura.
É impressionante as voltas que a vida me traz. É magnífico como a minha história, a cada dia que passa, se enriquece com novas situações, pessoas, experiências, atitudes e conhecimento. Com tudo o que a vida tem de bom ou de menos bom, crescemos...
Penso que ainda não falei aqui de um blog de um amigo e colega da equipa de criação dos manuais, chamado Tribo de Jacob. É uma blog interessantíssimo, nomeadamente na perspectiva cristã, porque, além de trazer ao de cima a a cultura e maturidade cristã do jornalista e amigo António Jorge, é uma fonte de informação preciosa sobre efemérides ligadas ao cristianismo e sobre artigos do mesmo âmbito que vão saindo na imprensa.
Falo neste lugar informático porque ontem o Jorge publicou alguns posts sobre uma personagem que admiro imenso (a vida e a obra): Tolkien, o genial e crente criador da saga O Senhor dos Anéis. Quem me conhece já se entusiasmou ou entediou com o meu irreprimível entusiasmo com a obra de Tolkien, que li apaixonadamente e que vi e revi, vezes sem conta, no cinema.
Assim, e num dia feliz, termino citando o feiticeiro Gandalf respondendo ao temeroso Frodo, no primeiro tomo, A Irmandade do Anel. Eis o diálogo.
Frodo: Quem me dera que o anel não me tivesse vindo parar às mãos. Que nada disto estivesse a acontecer.
Gandalf: Sentes como todos os que vivem eras conturbadas. Mas não lhes cabe essa decisão, apenas a de saber o que fazer do tempo que nos é concedido. Outras forças agem neste mundo, além das do desejo do mal.
Estarei a substituir, por um ano, um colega que foi realizar a profissionalização na disciplina de E.M.R.C.
Vou tentar conjugar as aulas com a faculdade, como trabalhador estudante, para adiantar o máximo possível e o melhor possível o meu curso de filosofia.
Nesta altura tenho que agradecer ao meu amigo José Rui, que nunca se esqueceu de mim, e à irmã Aurora, que bondosamente me acolheu numa tão prestigiada instituição de ensino.
Vai ser uma ano de muito trabalho (aulas, faculdade e manuais) para o qual peço e espero poder estar à altura.
É impressionante as voltas que a vida me traz. É magnífico como a minha história, a cada dia que passa, se enriquece com novas situações, pessoas, experiências, atitudes e conhecimento. Com tudo o que a vida tem de bom ou de menos bom, crescemos...
Penso que ainda não falei aqui de um blog de um amigo e colega da equipa de criação dos manuais, chamado Tribo de Jacob. É uma blog interessantíssimo, nomeadamente na perspectiva cristã, porque, além de trazer ao de cima a a cultura e maturidade cristã do jornalista e amigo António Jorge, é uma fonte de informação preciosa sobre efemérides ligadas ao cristianismo e sobre artigos do mesmo âmbito que vão saindo na imprensa.
Falo neste lugar informático porque ontem o Jorge publicou alguns posts sobre uma personagem que admiro imenso (a vida e a obra): Tolkien, o genial e crente criador da saga O Senhor dos Anéis. Quem me conhece já se entusiasmou ou entediou com o meu irreprimível entusiasmo com a obra de Tolkien, que li apaixonadamente e que vi e revi, vezes sem conta, no cinema.
Assim, e num dia feliz, termino citando o feiticeiro Gandalf respondendo ao temeroso Frodo, no primeiro tomo, A Irmandade do Anel. Eis o diálogo.
Frodo: Quem me dera que o anel não me tivesse vindo parar às mãos. Que nada disto estivesse a acontecer.
Gandalf: Sentes como todos os que vivem eras conturbadas. Mas não lhes cabe essa decisão, apenas a de saber o que fazer do tempo que nos é concedido. Outras forças agem neste mundo, além das do desejo do mal.
terça-feira, 1 de setembro de 2009
O Início de Setembro
Ontem, de manhã, passei pelo centro de emprego e pela segurança social e partilhei os espaços onde as estatísticas ganham faces e muitos sonhos ficam congelados. Faz hoje um ano que entrei, pela primeira vez, num centro de emprego e, com um número na mão, esperei horas para iniciar o processo que oficialmente me colocava na percentagem dos desempregados (quantas décimas percentuais significa um desempregado? Deve ser um número muito pequeno. Será esse o valor de uma pessoa?). Atirado iniquamente para uma situação assim, mas não abandonado pelos amigos e, principalmente pela família, compreendi o que é sentir-se dispensado e excluído; motivado por muitos (muitos mais dos que "até entendem" as razões para o meu saneamento), reagi à vontade de baixar os braços e ao conformismo derrotado, voltei a estudar, continuei a procurar e mantive a esperança. Realmente tudo é benção e eu ergo, todos os dias, os braços ao céu porque Deus tem sido mesmo muito meu amigo. Sim, é uma expressão de criança, mas só assim se acolhe e se confia, no meio da dor de uma ferida que nunca cicatrizará.
Depois desta manhã, à tarde, estive a arrumar caixas de livros (sim já não cabem na minha biblioteca) de liturgia, catequese, sacramentologia e alguns de espiritualidade mais específica. Com eles arrumei ordenadamente as minha homilias desde 1996 e alguns guiões de celebrações que fui realizando. Podia deitar muitas destas coisas fora, mas não consigo porque são parte de mim, são constitutivos da minha história, são eu mesmo. Mesmo que um dia perca a memória, um pouco ou até muito de mim estão naquelas folhas A5 manuscritas, sem valor literário, teológico ou histórico, que me marcaram e marcaram muitas pessoas.
Depois disso, fui até à praia do Furadouro ter com uma amiga com quem falo muitas vezes informaticamente, mas que há muito não conversava face a face. E como é diferente dialogar assim. Foi uma conversa de dois amigos, ao sabor da brisa suave da beira mar, que, desde que se conheceram, nunca mais leram os dias com os olhos de antigamente. E assim, marcados profundamente pelo passado que nos juntou, cultivamos uma amizade mutuamente apoiada no presente e comprometida com o desenrolar futuro da vida.
Falei destas duas coisas da minha tarde de ontem porque elas nos revelam como o nosso eu, o nosso ser mais íntimo em nós, se alimenta e manifesta: pelo corpo e pela memória (sei que não é só assim nem só por aí, mas isso são outras conversas). Não chega o telemóvel ou o messenger ou até uma carta ou mail. Realmente uma relação faz-se pelo rosto diante do outro rosto que se me impõe com toda a sua força ética; uma relação só se realiza pela observação ao vivo e em directo de tudo o que o corpo do outro expressa e é; eu só me entendo, conheço e avalio por referência à relação corporal com o outro. Finalmente, a memória, não na sua fiabilidade e correcta interpretação dos factos (que sabemos que é muito enganadora), mas no que ela traz à superfície dos dias e ao despoletar de sentimentos/pensamentos que nos ajudam a compreender e a entender o passado, os outros e aquilo que sou e, até, aquilo que valho. Na verdade, é neste corpo que percorre o tempo (que não passa e está sempre presente e por isso, na verdade, as feridas nunca cicatrizam) que se ama, que se acolhe o outro e com ele a salvação.
Depois desta manhã, à tarde, estive a arrumar caixas de livros (sim já não cabem na minha biblioteca) de liturgia, catequese, sacramentologia e alguns de espiritualidade mais específica. Com eles arrumei ordenadamente as minha homilias desde 1996 e alguns guiões de celebrações que fui realizando. Podia deitar muitas destas coisas fora, mas não consigo porque são parte de mim, são constitutivos da minha história, são eu mesmo. Mesmo que um dia perca a memória, um pouco ou até muito de mim estão naquelas folhas A5 manuscritas, sem valor literário, teológico ou histórico, que me marcaram e marcaram muitas pessoas.
Depois disso, fui até à praia do Furadouro ter com uma amiga com quem falo muitas vezes informaticamente, mas que há muito não conversava face a face. E como é diferente dialogar assim. Foi uma conversa de dois amigos, ao sabor da brisa suave da beira mar, que, desde que se conheceram, nunca mais leram os dias com os olhos de antigamente. E assim, marcados profundamente pelo passado que nos juntou, cultivamos uma amizade mutuamente apoiada no presente e comprometida com o desenrolar futuro da vida.
Falei destas duas coisas da minha tarde de ontem porque elas nos revelam como o nosso eu, o nosso ser mais íntimo em nós, se alimenta e manifesta: pelo corpo e pela memória (sei que não é só assim nem só por aí, mas isso são outras conversas). Não chega o telemóvel ou o messenger ou até uma carta ou mail. Realmente uma relação faz-se pelo rosto diante do outro rosto que se me impõe com toda a sua força ética; uma relação só se realiza pela observação ao vivo e em directo de tudo o que o corpo do outro expressa e é; eu só me entendo, conheço e avalio por referência à relação corporal com o outro. Finalmente, a memória, não na sua fiabilidade e correcta interpretação dos factos (que sabemos que é muito enganadora), mas no que ela traz à superfície dos dias e ao despoletar de sentimentos/pensamentos que nos ajudam a compreender e a entender o passado, os outros e aquilo que sou e, até, aquilo que valho. Na verdade, é neste corpo que percorre o tempo (que não passa e está sempre presente e por isso, na verdade, as feridas nunca cicatrizam) que se ama, que se acolhe o outro e com ele a salvação.
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