sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Será o Amor Atractivo?

No dia 28 de Agosto introduzi, neste blog, o contador de visitas sitemeter e foi com satisfação que verifiquei, hoje de manhã, que nestes trinta e dois dias este meu cantinho foi alvo de 1.652 visitas e 2.698 page views. Não sei como agradecer a todos aqueles indefectíveis que, apesar dos meus silêncios, não desistem de aqui se abeirarem. Não sei (suspeito que não) nem é importante se aqueles números são significativos no universo dos blogs, mas para mim são reconfortantes e animadores. Muito obrigado.

Com esta semana consegui ir estabilizando o meu tempo e as minhas actividades. Deixarei só para reflexão uma magnífico texto de Francesco Alberoni que li na passada terça-feira no cada vez melhor jornal I. Tinha este título: O Amor é um Risco, o Sexo não. Mas Quem Não Arrisca Não Petisca. E foi ontem objecto de reflexão numa das minhas turmas de nono ano, que demonstrou uma maturidade e um conjunto de valores que me fazem manter a esperança. Neste texto o sociólogo italiano demonstra e bem que hoje o verdadeiro tabu já não é o sexo mas o amor que parece cada vez mais como uma (im)possibilidade a evitar. Vale a pena ler.

Na segunda metade do século xix, a sexualidade era escondida, proibida, recalcada. Ao observar o arco histérico dos pacientes de Charcot, o jovem Freud achou logo que tinha origem num desejo sexual que, por não poder ser satisfeito, se exprimia no corpo. Contudo, era possível falar e escrever de amor sem limites. Existe uma continuidade ideal entre livros como "Anna Karenina", "O Monte dos Vendavais" e filmes como "Love is a Many Splendored Thing" e "Um Homem e Uma Mulher". Hoje em dia são cada menos os romances e os filmes cujo tema é um amor apaixonado. Em compensação, o erotismo e o sexo sem amor estão cada vez mais presentes. Na vida real, há jovens que aos trinta anos já tiveram experiências sexuais que as mães nem teriam imaginado, mas ainda não viveram um grande amor. Não encontraram a pessoa certa, ou ficaram inibidas. É como se houvesse uma inversão do binómio sexualidade-amor.
A sexualidade começou por ser perigosa (pelo risco de uma maternidade indesejada), pelo que era controlada e reprimida. Actualmente, o maior perigo está em abandonarmo-nos ao amor, pelo sofrimento que ele pode causar, sobretudo quando a sexualidade é livre e a fidelidade deixou de ser considerada uma virtude e um dever essencial. A psicanálise diz-nos que, quando um impulso é reprimido, se manifesta por sintomas de substituição. O arco histérico era o substituto de um desejo sexual proibido.
E haverá substitutos do amor apaixonado reprimido? No livro "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, que retrata um mundo em que tudo é planeado e não há enamoramento, as necessidades inconscientes eram satisfeitas com uma "injecção de paixão violenta".
No mundo de hoje, há alguma coisa que corresponda à "injecção de paixão violenta"? Penso que sim: a procura da excitação paroxística da discoteca, a falta de regras das raves, a anulação da pessoa nas festas e orgias e, de forma mais geral, o estado induzido pelas drogas. Depois de dissociado do amor, o sexo torna-se fácil, enquanto amor se torna difícil e é substituído por estados paroxísticos artificiais. Há mesmo quem preveja, como Attali, o desaparecimento do amor exclusivo. Alguns neuropsicológos procuram fármacos para "acender" e "apagar" o amor. Na minha opinião, são vias que empobrecem a humanidade. O amor é um risco, mas quem não o corre não vive.

1 comentário:

Salete disse...

O amor implica uma entrega, que fará sentido na medida em que signifique também um abandono, ainda que consciente, do nosso próprio sentir e ser...!
Porque significa confiar, também implica correr riscos...
Esta responsabilidade parece incompativel com a realidade em que, infelizmente, vivemos, do "instantaneo" e do "descartável".
Cabe a quem vive e acredita de forma diferente marcar a diferença e insistir em ir contra a corrente!
Obrigada por esta reflexão!