Na sexta-feira à noite escutava, na SIC notícias, alguns comentadores a perorarem que a campanha para as eleições autárquicas tinham sido pouco participada e pouco clarificadora. É o que faz viver em Lisboa e pensar que o país funciona e rege-se segundo os ritmos da capital. Quem vive fora dos grandes centro urbanos sabe muito bem que a campanha autárquica movimenta muita gente, é vivida com interesse e, por vezes, com entusiasmo pelas populações e é acompanhada com atenção pelos eleitores que, porque fazem as suas opções sem condicionalismos partidários e ideológicos, precisam de conhecer bem as propostas e os candidatos para poderem decidir. Nestas eleições, a proximidade das populações com os decisores políticos proporcionam o exercício de uma democracia de proximidade e de sensibilidade aos anseios (por vezes tão simples, mas tão significativos) das populações que nunca seria possível numa política nacional. São muitas as juntas e as câmaras onde depois das eleições as cores políticas desaparecem diante das necessidades da freguesia ou do concelho. O poder autárquico é o coração de democracia. Quando os eleitores dele descrerem, rapidamente deixarão de acreditar nos políticos nacionais e na democracia como solução.
Da noite de ontem podemos concluir que o grande vencedor foi o PS: ganhou mais 22 câmaras que em 2005, melhorou o seu resultado de há quatro anos (mais votos, mais percentagem e mais mandatos), conquistou a maioria absoluta em Lisboa e em Beja (câmara do PC desde 1974), a maioria dos votos na também capital de distrito Leiria (sempre PSD) e conseguiu simbólicas vitórias como no bastião social democrata Barcelos ou como a reconquista da Figueira da Foz. É verdade que perdeu Faro, deixou fugir símbolos como Espinho e apanhou algumas banhadas pouco dignificantes (Porto, Aveiro, Gaia), mas acaba por ser o único que subiu significativamente em todos os itens em relação a 2005.
O PSD continua a ser o maior partido autárquico, aumentou a sua votação no Porto, em Aveiro, em Sintra, em Gaia (todas com o CDS), venceu em Faro, em Felgueiras (ambas também em coligação), em Espinho, mas perdeu 17 câmaras (sozinho ou coligado) e algumas bem simbólicas como Leiria. Não foi uma noite vitoriosa, foi o crepúsculo de uma morte lenta, iniciado há mais que quinze dias.
Em relação aos outros três partidos pouco há a dizer: o PCP é ainda uma força autárquica, mas tem o menor número da câmaras desde 1974 e viu a sangria de Beja, Marinha Grande, Alcácer (para o PS) e Sines (Independente que o PC escorraçou). Teve como consolação o desastroso resultado do BE que não conseguiu um vereador sequer no Porto e em Lisboa e não tem em nenhuma câmara do país qualquer posição de charneira. Mais, com o CDS coligado em muitos locais com o PSD, nem assim o Bloco teve mais votos que o CDS sozinho. Muito mau. O CDS é quase irrelevante nas contas autárquicas e, as suas coligações disfarçam o seu fraco poder local. No entanto, existem derrotas do PSD que talvez se tivessem evitado com uma coligação.
Finalmente, uma reflexão sobre o distrito do Porto e o Norte do distrito de Aveiro/sul da diocese do Porto.
Porto: O PS aguenta-se em Matosinhos apesar de Narciso, conquista a Trofa (foi sempre do PSD), mantém as outras Câmaras, mas tem derrotas pesadíssimas no Porto, em Gaia, Paredes, Penafiel e Maia. O PSD perde uma câmara (Trofa) mas ganha Felgueiras (com o CDS), aguenta-se em Valongo (com o CDS) graças à divisão local do PS e afunda-se em Vila do Conde, Matosinhos, Gondomar (todas com o CDS) e Baião.
No sul da diocese do Porto, no distrito de Aveiro: O PS conquistou Castelo de Paiva, mas perdeu Espinho; o PSD vice-versa. No resto, o habitual: PS reforçou em Ovar (contra coligação PSD/CDS) e em Arouca; o PSD reforçou em S. João da Madeira e manteve Feira, Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra (aqui, como curiosidade, o CDS foi o segundo partido mais votado).
Terminado um longo ciclo eleitoral de três eleições, façamos votos que todos sejam dignos da confiança neles depositada: governos e oposições.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
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