sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Incompreensível

No início da semana fomos surpreendidos pela detenção, para apresentação a um juiz, do pároco de Boticas por uma alegada participação num esquema de tráfico de armas. A questão da justiça deixo-a à justiça e espero que tudo se averigúe e se esclareça nos lugares próprios que são os tribunais.
O que é verdadeiramente incompreensível é que este sacerdote católico não só tenha em casa um verdadeira arsenal de armamento ilegal e com os números de série apagados, mas também se dedique a emprestar dinheiro com 4% de juros, a negócios imobiliários e à compra e venda de automóveis. O que é incompreensível é que tal fosse do conhecimento dos colegas e da hierarquia e nada tivesse sido feito. O que é incompreensível é que este homem tivesse regressado às suas paróquias e se prepare para celebrar as eucaristias deste fim-de-semana.
Poderão dizer-me que o senhor podia ter os seus negócios, fazer do seu dinheiro o que quisesse e ter um gosto especial pelo coleccionismo de armas. Não, não pode. Não pode ser usurário, nem viver para possuir, nem admirar instrumentos de morte, nem dedicar o seu tempo ao dinheiro. E não pode porque é sacerdote de Jesus Cristo que por definição tem que ser pobre, não violento, generoso e viver não para o lucro, mas para a gratuidade.
A Igreja, neste caso a Diocese de Vila Real, não pode pactuar com estes casos nem assobiar para o lado como se nada fosse com ela. E muito menos fazer de conta que nada se passa, esperando que nunca se descubra os podres de alguns dos seus ministros. E porquê? Porque tem que se lembrar daqueles que como pastor, afinal, têm um lobo. Um Bispo, o pastor de uma diocese, tem que proteger o seu rebanho, não os seus "delegados".
Casos como este são um alerta para que a Igreja, nós os cristãos comprometidos não deixemos de denunciar e agir em conformidade diante de situações que são a negação absoluta de tudo aquilo em que acreditamos. O silêncio é uma forma de cumplicidade. Foi uma atitude semelhante que fez com que a pedofilia alastrasse como erva daninha na Igreja americana. É uma atitude semelhante que faz com que a atracção fatal pelo dinheiro de alguns padres descredibilize tudo o que anunciamos. Se a tua mão é causa de pecado corta-a, dizia Jesus há uns domingos atrás no Evangelho dominical. É mais que tempo de cortar pela raiz a figueira que não dá fruto. Sem pruridos, sem falsas compaixões nem desculpas ridículas como a falta de meios humanos.

Deixo mais uma tira da Mafalda que penso ser oportuna. Bom fim-de-semana.

1 comentário:

Salete disse...

A falta de "coragem" é uma das grandes limitações das hierarquias actuais!
Fazer de conta que tudo está bem, ou viver na expectativa de que ninguém virá a tomar conhecimento...é mais cómodo...
O envolvimento obriga a decisões por vezes constrangedoras e interfere com poderes instalados...
Parece-me, digo-o com tristeza, que impera a máxima do "olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço..."
A coerência é uma atitude desconhecida para muitos e em vias de extinção para outros...
Concordo integralmente consigo!