No domingo passado fui ao cinema ver uma filme praticamente ignorado pelas audiências porque foi incognitamente lançado pela distribuidora. Se não fosse o meu hábito e gosto pela crítica cinematográfica também não me tinha apercebido deste filme, que deve ser o melhor filme sobre guerra dos últimos anos: Estado de Guerra, de Kathryn Bigelow.
A acção desenrola-se no Iraque, onde acompanhamos uma unidade de minas e armadilhas que tem que lidar não só com o carácter improvável e cada vez mais sofisticado, em técnica como em maldade, de uma bomba que pode estar escondida no entulho, ou num carro, ou num corpo humano ou nas entranhas de um adolescente. Como também tem que lidar com aqueles que constituem a própria equipa e com as suas idiossincrasias. O filme gira à volta desta equipa que é liderada pelo homem que desmantela carinhosamente cada bomba, que admira a sua cada vez maior complexidade, que guarda religiosamente as peças detonadoras de cada uma das centenas de bombas que desmantelou, que parte para cima do lugar armadilhado como quem se lança sobre uma droga: é um vício, é uma decisão dominada pela adrenalina que tomou conta não só do corpo como de toda a vida daquele homem, como se perceberá no final do filme. Este viciado é protegido em todas as missões pelos outros dois elementos da equipa: o jovem assustado e questionador do sentido do que faz todos os dias e o homem racional que vê e tenta agir em cada acção segundo os cânones militares, as competencias apreendidas e que olha para aquela sua experiência como um intervalo que faz na construção do seu projecto de vida. Um intervalo que descobrirá ter que terminar...
O que destaco neste filme é que a sua realizadora (ex-mulher de James Cameron) não entra pelo discurso político nem filosófico sobre o sentido (ao falta dele) da guerra, sobre as suas razões, sobre a sua avaliação moral, sobre os seus dramas humanos (físico e psicológicos). Apenas expõe a faceta particular daquela unidade e a sua forma pragmática de estar em combate: alguém há-de safar-se. Aliás, é isso que seus os elementos pretendem: fazer bem o seu trabalho e sair dali (quem vir o filme, descobrirá com um dos protagonistas, que não será bem assim...). Não procuram razões, nem culpados, nem inocentes que são tudo coisas que não existem nas guerras...
Para a realizadora a guerra é uma experiência limite em que o homem radicaliza tudo o que tem: a vontade de viver, a vontade de se ultrapassar e ultrapassar cada vez maiores desafios e a cegueira/vício que esse ir cada vez mais longe provoca. Não é assim com o dinheiro? Com as vitórias? Com o sucesso profissional? O campo de batalha apenas potencia tudo isso.
Além de tudo isto, é um filme de acção, suspense, muito bem filmado por várias câmaras digitais e com interpretações no ponto. Se ainda o encontrar (no Porto, só está no Gaia Shopping), é uma excelente opção...
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