terça-feira, 14 de julho de 2009

14 de Julho de 1996

Faz hoje treze anos que fui ordenado presbítero, na Sé Catedral do Porto. Foi o dia mais importante da minha vida. O antes e o depois desse dia imprimiram no meu ser um carácter tal que não me posso entender nem explicar senão em referência a essa opção decisiva e decidida por Jesus Cristo que, ainda hoje, guia e ilumina os meus passos. Por isso, recuso-me a negar esse domingo, recuso-me a alegar qualquer circunstância que me faça olhar para essa opção como um passo em falso, recuso-me a desdizer o que com toda a convicção aí assumi. Sou padre e nunca o deixarei de ser (nem gosto que me apelidem de ex-padre). Se hoje não exerço oficialmente esse ministério, exerço-o numa vida de serviço ao outro muito mais humilde, muito mais pobre, muito mais atenta às angústias e às esperanças dos homens e mulheres do meu tempo, muito mais comprometida amorosamente do que quando estive à frente de diferentes paróquias e de outros serviços eclesiais. Entendo que muitos o não compreendam, que a própria Igreja, que amo, o não aceite e que seja excluído por tentar viver mais verdadeira e radicalmente esse dia catorze de Julho de 1996. Mas não aceito que os murmúrios do Espírito sejam património de alguns, que por falta de oportunidades ou de coragem ou por comodidade passiva na vida, se arvoram em guardiões de uma pureza doutrinal que nega a diversidade da vivência cristã, que omite o mistério vocacional do Espírito, que esquece que é na fraqueza do homem que Ele revela o seu poder.
O que de mais precioso guardo destes anos são os rostos de tantos e tantas com partilhei e partilho alegrias e tristezas, com quem ri, chorei, rezei e fiz festa, com quem celebrei a vida, sofri o impacto da morte, experimentei o imenso amor de Deus. Nesta altura vem-me sempre à memória o salmo 115: "Como agradecerei o Senhor tudo quanto ele me deu? Elevarei o cálice da salvação, invocando o nome do Senhor." Assim vivo o meu sacerdócio: elevo todos os dias o cálice da minha vida, cheio do meu sangue que entrego por amor e deposito n`Ele toda a minha confiança e sei que não serei confundido.
Neste dia, de joelhos diante do Pai e de pé diante dos homens expresso a minha gratidão.

2 comentários:

Maria disse...

Tem uma maneira muito especial de continuar a ser padre, mas de facto, deve continua a exercer com muita coragem, e certamente que todos os leitores que por aqui passam, sentem essa sabedoria e vontade de viver a vocação que escolheu.
Desejo que continue a segui-LO, tal como é agora.

Salete disse...

Aqueles que o conhecem, sentem a verdade das suas palavras.
Há opções na nossa vida que até podem tomar um rumo diferente do projecto inicial, mas a certeza e convicção do primeiro sim, marcam a fidelidade dos passos seguintes.
Quantas conversões não ocorrem perante uma vida simples e de entrega como a sua, que tantos, cheios de formalismos e de regras, estão muito longe de alcançar!
Parabens e Obrigada!