segunda-feira, 20 de julho de 2009

XVI Domingo do Tempo Comum

No evangelho de ontem, Jesus procura com os discípulos um local isolado, onde fosse possível descansarem juntos e avaliarem calmamente a missão que tinham realizado. No entanto, tal movimento foi antecipado por muitos na multidão. É contrastante o ambiente dos dois itinerários: a lenta, poética e meditativa viagem por mar dos discípulos com o seu Mestre; e a apressada, peregrina e ansiosa busca, pelos caminhos da terra, dos mais atentos e desejosos membros da multidão. Os primeiros procuram a solidão e o encontro tranquilo consigo e com Jesus; os segundos buscam desenfreada e ansiosamente o encontro com Jesus que definitivamente os mobiliza. Nesta espécie de duelo, um dos grupos vê frustrada a sua intenção. E quem tem que recuar é quem detém o poder de dizer não; é quem pode pura e simplesmente despedir a multidão e impor a sua vontade. Mas não o faz porque, ao ver aquela multidão, as suas entranhas se comoveram, sentiu como que um aperto de coração, um nó no estômago que todos já sentimos quando percebemos que as lágrimas encontram a sua raiz em algo tão cá dentro que nem sabemos exprimir. Assim comovido e afectado, Jesus nada mais pôde fazer senão ficar com eles porque, na verdade, todos são seus e foi para todos que ele veio.
Também hoje são muitos os que ainda procuram o Senhor. E procuram-no na sua Igreja, procuram-no em cada um de nós seus discípulos. E nós não temos qualquer desculpa para os despedir, para os ignorar, para os repelir, para os deixar sós. São muitos os que fazem um esforço enorme para se manterem fiéis; são muitos os que vencem grandes obstáculos para escutarem e celebrarem a palavra; são muitos os que renunciam a outras propostas para virem ao encontro dos Mestre em nós; são imensos os que sem terem dão, sem tempo vêm, sem fé esclarecida procuram-na, sem rumo buscam-o, sem uma vida digna lutam por reconstrui-la. Andamos demasiado virados sobre nós mesmos, sobre as nossas questões internas, sobre as nossas eficácias e funcionamentos pastorais, sobre os nossos anos paulinos, sacerdotais e afins e esquecemos de olhar para aqueles que se abeiram de nós, despidos de posses e orgulhos, pedindo-nos apenas o nosso amor atento e a nossa (d`Ele) palavra de vida.
Definitivamente, ou acolhemos ou não viajamos na barca do Mestre.
Termino com o "santo" D. Hélder Câmara:

"Qualquer que seja a tua condição de vida
Não te deixes aprisionar pelo saboroso cerco da tua pequena família.
De uma vez por todas adopta a família humana.
Procura não te sentires estranho em nenhuma parte do mundo.
Sê um homem no meio dos outros homens.
Que nenhum problema de qualquer povo te seja indiferente.
Vibra com as alegrias e as esperanças de cada grupo humano.
Faz teus os sofrimentos e as humilhações dos teus irmãos na humanidade.
Vive à escala mundial ou, melhor, universal."

1 comentário:

Salete disse...

Fazer paragem... ser capaz de fazer turismo interior!
Reforçar a capacidade de resistir a ventos dominantes, de ser fiel às brisas que vão surgindo...
A pausa necessária para de forma renovada ir contra a corrente, ignorar esquemas envelhecidos e ultrapassados…
Redescobrir o sentido e ganhar lugar na barca!