Este é o terceiro domingo em que o Evangelho nos impele a reflectir sobre a fé. E na sua perspectiva caracteristicamente cristã porque coloca os seus actores numa posição optativa diante de Jesus.
Os nazarenos tinham ouvido falar de Jesus, das suas palavras cheias de autoridade e sabedoria, dos seus prodígios e dos poderes que saíam das suas mãos e, por isso, tinham ocorrido em massa à sinagoga da sua cidade para confirmarem se aquele que tinham visto crescer, o filho de Maria (isto é, claramente depreciativo porque os filhos eram-no sempre em referência ao seu pai. Ao dizerem filho de Maria insultavam-no porque não merece, pela sua conduta e pela desonra para a memória dos antepassados, ser chamado filho de um pai), o carpinteiro (o trabalhador manual sem qualificação), o que os seus irmãos procuravam por o acharem enlouquecido (Cf. Mc 3, 21) era mesmo o protagonista daquilo tudo. Os nazarenos estavam scandalizso (verbo grego que à letra se traduz por escandalizados, bem melhor que o perplexos usado na tradução oficial), isto é por quem se toma este sujeito? Quem pensa ele que é? Quem pensa ele que engana? Nós sabemos tudo sobre ele, profissão, família, história, linhagem, como nos pode enganar? E o muito que sabiam dele (que objectivamente era nada) e as muitas certezas que sobre ele tinham impedia-os de ver quem tinham diante de si, de escutar profundamente as suas palavras, de se deixarem tocar, transformar, ressuscitar com a força que emanava de si. E a pessoas assim, tão cheias de si, tão entendidas, tão convencidas do seu saber, da sua perspicácia, da sua familiaridade nada pode Jesus dar nem transformar.
A fé em Jesus não é saber meia dúzia de títulos que fomos acumulando sobre ele. A fé em Jesus não é conhecer momentos da sua vida, pormenores da sua biografia nem tê-lo por grande figura histórica mas que em nada se distingue de todas as outras figuras do passado. A fé em Jesus não é ficar à espera que ele realize mudanças de corações, em corações que não pressentem que o necessitem. A fé em Jesus é algo de muito mais exigente porque é a fé, o encontro pessoal com o mistério que é o outro, qualquer outro; que, neste caso de Jesus, é o encontro com a sua pessoa, que é algo que, quando acontece, revoluciona totalmente a vida. A fé cristã exige muito do crente porque exige que ele se encontre com o Mestre, que ele alimente uma relação pessoal e íntima com ele porque só assim conhecemos alguém, só assim o entenderemos, só assim a sua palavra germina. A fé cristã não se alimenta de conceitos, definições, edifícios teórico-racionais, mas depende vitalmente desta relação pessoal com Jesus. A fé cristã pede uma formulação racional e doutrinal coerente e séria, mas esta só brota, antes de tudo o mais, do encontro pessoal com Jesus de Nazaré. Essa é a condição da sua verdade e da sua vitalidade.
Em Nazaré, muitos sabiam quem ele era e ajuizavam o seu passado, mas não o conheciam nem deixaram transformar o presente das suas vidas.
Hoje, muitos intitulam a sua pessoa e gloriam seu passado, mas nunca o encontraram nem entabularam uma relação entre iguais, entre duas pessoas, uma relação pessoal. Afinal, o grande nome da fé.
domingo, 5 de julho de 2009
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