Coloquei ontem em dia a leitura do Público de que sou assinante da sua edição impressa on-line. E, na segunda-feira e na terça-feira, saíram dois estudos muito interessantes sobre os portugueses: um sobre as suas necessidades e satisfação com a vida e outro sobre os seus valores pessoais e sociais.
Sobre este último concluía a jornalista Bárbara Wong: "Ter uma família sólida, amar e ser amado, ser um profissional competente, ser honrado e ter amigos leais são os principais objectivos. Ser famoso e rico são das suas últimas prioridades. Nas tomadas de decisão, o que mais os influência é a consciência e a família. A Bíblia e os líderes religiosos pesam mais do que a ciência ou a comunicação social." É interessante notar, cruzando os dois inquéritos, como a família é a instituição pela qual os portugueses mais lutam, na qual colocam todas as suas forças, pela qual estão dispostos a morrer (87,4%) e na qual encontram o seu espaço privilegiado de entreajuda. A família já não é reduzida ao casamento religioso/civil (65,6% concorda totalmente ou em parte com esta afirmação), mas é indispensável para a educação das crianças (80% entendem que uma criança precisa de um pai e de uma mãe para ser feliz). A solidez familiar é convictamente valorizada (sete em cada dez indivíduos reprovam relações sexuais com vários parceiros ou as relações extraconjugais), e é o espaço social onde os portugueses se sentem mais satisfeitos (7,72 numa escala de 1-10).
Outro dado muito interessante é que realmente os portugueses são pobres financeiramente: mais de metade não tem condições financeiras nem para usufruir totalmente de um período de baixa médica (50,9%), nem para pagar uma semana de férias fora de casa (61,9%) e mais de metade vive com um orçamento familiar abaixo dos 900 euros (57%). Mesmo assim o grau de satisfação (6,6) e de felicidade (7,3) estão acima do ponto médio de uma escala de 1 a 10. Isto é, é a família que amortece o choque da crise económica e que permite que sejam muito poucos os que se sentem excluídos (6,6 sentem-se excluídos e 72,9 não ou raramente) ou deprimidos (10,1% sentem-se muitas vezes e 59% raramente ou nunca).
Se juntarmos a estes dados aqueles que demonstram a maior confiança dos portugueses no ensino privado em relação ao público (76,4% / 66,9% respectivamente), na saúde privada em relação à pública (73.9% / 57,2% respectivamente) e nenhuma confiança nas instituições que nos governam (muita ou alguma confiança - 30,4%; pouca ou nenhuma confiança - 69,6%) penso podermos concluir que o estado tem que repensar verdadeiramente uma política familiar que defenda e promova a família nuclear (pai, mãe e filhos), que a permita alargar-se sem constrangimentos económicos e sociais, que a permita escolher livremente o tipo de ensino e de cuidados de saúde para os seus, que a possibilite integrar no seu seio os mais idosos e doentes, que a trate como o verdadeiro motor de uma sociedade desenvolvida, empenhada e comprometida com a vida e com o país. E, se os portugueses manifestam também pouca participação cívica e pouca vontade de arriscar, é porque o estado sempre os tratou paternalistamente e como incapazes de conduzirem autonomamente a sua vida o que deseduca, infantiliza e aprofunda dependências. E isto acontece desde o Estado Novo.
A família é o grande anseio dos portugueses, é por ela que trabalham, é para ela que vivem. Quanto mais os políticos a ignorarem mais os portugueses os ignorarão, se fecharão no seu individualismo e Portugal continuará irremediavelmente paralisado.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
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