sábado, 11 de abril de 2009

Reflexões e Memórias Diante de um Túmulo

O sábado santo é o dia do silêncio do sepulcro, é o dia em que o grupo dos discípulos de Jesus abre brechas por todos os lados. O violento impacto da Sua morte e do comportamento negacionista, traidor e medroso dos Seus companheiros ribombeia ininterruptamente nas suas cabeças.É o dia de trazer à memória, já que o coração está desfeito, a vida d`Aquele homem fascinante.
Podíamos resumir (muito resumidamente) a Sua vida em cinco eixos:
  1. O Reino de Deus, centro das suas palavras e dos seus gestos, que mais não é que a utopia de uma comunidade humana baseada na justiça (das bem-aventuranças), na paz, na verdade, na liberdade e nos amor.
  2. A Sua relação com Deus, a quem chamava de "Abba" porque se sentia seu filho, baseada na confiança, no amor e na obediência.
  3. A Sua relação com os homens com quem cultivava uma proximidade absoluta, sem acepção de pessoas, apesar da Sua dedicação especial aos marginalizados do seu tempo (mulheres, pecadores, pobres e crianças).
  4. A Sua postura diante da lei que aprova quando está ao serviço do homem. Mas que reprova violentamente quando coloca o homem numa posição de escravo.
  5. Finalmente, a Sua atitude diante do templo, que respeita como espaço de encontro com Deus, que relativiza porque não é o único espaço de encontro com o Pai e que recusa quando se converte em antro de ladrões e de insensíveis ao sofrimento do homem.
Como podemos ter abandonado um homem assim? Como lhe podemos ter virado as costas? Como fomos capazes de o negar tantas vezes, nós que comemos com Ele, que escutamos as Suas palavras, que em nome dele falamos? Terá valido a pena? Ter-nos-emos enganado? Afinal nada mudou, o mundo continua como sempre foi, temos que levar a vida para a frente como antigamente, como o mundo nos exige e empurra e segundo os seus critérios.
Quantos de nós já pensamos assim? Na verdade, estamos quase sempre em Sábado Santo: houve uma sexta-feira santa (e são tantas as que permanecem) e parece que tarda o definitivo domingo pascal da humanidade.
Tudo isto trazemos à memória porque o passado não nos é indiferente. Somos seus filhos e com ele podemos acreditar no futuro. Mais, podemos transformar o futuro.

E porque sou filho do meu passado e com ele lanço-me no futuro e acredito que irá ser melhor, partilho convosco mais duas fotografias do ensaio de há cinco anos para a vigília pascal da paróquia de Válega. Naquele altar feito túmulo vazio se nos abriram os olhos e fizemos a experiência do ressuscitado. E eramos muitos. E estávamos alegres. E celebramos a vida.
Não, não é saudosismo. É um desafio para viver a mesma alegria interior na exterioridade tão pobre e tão fria de tantas celebrações. E garanto-vos que esta memória (com muitas outras e de outras paragens) me aquece o coração e não me permite desanimar nem desistir.

1 comentário:

Salete disse...

É uma memória que não aquece apenas o seu coração...
Na corrida diária do tempo, poucos são os momentos que se tornam permanentes, que ressurgem com a mesma força inicial quando lembrados...
Recordo esta Vigila Pascal como se tivesse ocorrido ontem.
Mais do que a inovadora dinâmica preparada para aquele dia, recordo a profundidade da Ressurreição que senti acontecer naquele dia!
Acredito na força dos simbolos e na reflexão que suscitam, a pura teoria é passageira, não deixa marcas.
Fico feliz por fazermos parte das lembranças que aquecem o seu coração!