domingo, 5 de abril de 2009

Domingo de Ramos

Hoje a paixão de Jesus segundo S. Marcos deveria ser lida na sua forma longa em todas as Igrejas porque só ela consegue passar a paleta de cores com que o evangelista mais próximo, no tempo, de Jesus pinta este momento marcante e decisivo da vida de toda a humanidade. Nessa forma longa admiramos a unção de Betânia, o "serei eu" de cada discípulo na hora em que Jesus anuncia que um deles o trairá, a agonia do horto e a perplexidade dos discípulos. Ao lermos a forma longa percebemos que depois de preso Jesus apenas fala três vezes: diante do poder religioso afirma-se filho de Deus ("Eu Sou"); diante do poder político afirma-se Rei ("É como dizes"); e diante do Pai ora ("Meu Deus, Meu Deus porque me abandonaste?"). Três vezes Pedro o nega. Três vezes é tentado na cruz: pelos que passavam, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos ladrões. Três mulheres são citadas ao pé da cruz. E Três pessoas viram a pedra rolar sobre o túmulo.
Jesus é morto pelos religiosos e pelo poder político do seu tempo ("Escândalo para judeus e loucura para gentios"). Jesus é morto por uma conveniente e conivente aliança entre os dois poderes deste mundo: religião e política (no sentido de forma de vida da cidade, no sentido de cultura). Porque aos primeiros é insuportável um Deus connosco, um Deus amor, perdão, bom, desinstalador. Aos segundos, não vale a pena lutar pelo justo, pelo inocente, pela verdade porque tudo é relativo, tudo passa rapidamente, tudo, na vida, não passa de um jogo de toma-lá-dá-cá, de negociações, de cedências e compromissos. Nada é permanente. Nada é essencial.
E foi um soldado pagão, um homem que já tinha visto morrer às suas mãos tantos outros homens, o único, que em todo o Evangelho de Marcos, reconheceu, ao ve-lO assim expirar, quem era aquele desfigurado crucificado: "Na verdade, este homem era Filho de Deus". Como és surpreendente, Senhor!
Termino com o Salmo 21 (22), aquele que Jesus rezou ao Pai na cruz. Com esse salmo me uno na sua oração por todos os inocentes e sofredores deste mundo.
2Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste,
rejeitando o meu lamento, o meu grito de socorro?
3Meu Deus, clamo por ti durante o dia e não me respondes;
durante a noite, e não tenho sossego.
4Tu, porém, és o Santo
e habitas na glória de Israel.
5Em ti confiaram os nossos pais;
confiaram e Tu os libertaste.
6A ti clamaram e foram salvos;
confiaram em ti e não foram confundidos.
7Eu, porém, sou um verme e não um homem,
o opróbrio dos homens e o desprezo da plebe.
8Todos os que me vêem escarnecem de mim;
estendem os lábios e abanam a cabeça.
9«Confiou no SENHOR, Ele que o livre;
Ele que o salve, já que é seu amigo.»
10Na verdade, Tu me tiraste do seio materno;
puseste-me em segurança ao peito de minha mãe.
11Pertenço-te desde o ventre materno;
desde o seio de minha mãe, Tu és o meu Deus.
12Não te afastes de mim, porque estou atribulado
e não há quem me ajude.
13Rodeiam-me touros em manada;
cercam-me touros ferozes de Basan.
14Abrem contra mim as suas fauces,
como leão que despedaça e ruge.
15Fui derramado como água;
e todos os meus ossos se desconjuntaram;
o meu coração tornou-se como cera
e derreteu-se dentro do meu peito.
16A minha garganta secou-se como barro cozido
e a minha língua pegou-se-me ao céu da boca;
reduziste-me ao pó da sepultura.
17Estou rodeado por matilhas de cães,
envolvido por um bando de malfeitores;
trespassaram as minhas mãos e os meus pés:
18posso contar todos os meus ossos.
Eles olham para mim cheios de espanto!
19Repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam a minha túnica.
20Mas Tu, SENHOR, não te afastes de mim!
És o meu auxílio: vem socorrer-me depressa!
21Livra a minha alma da espada,
e, das garras dos cães, a minha vida.
22Salva-me da boca dos leões;
livra-me dos chifres dos búfalos.
23Então anunciarei o teu nome aos meus irmãos
e te louvarei no meio da assembleia.
24Vós, que temeis o SENHOR, louvai-o!
Glorificai-o, descendentes de Jacob!
Reverenciai-o, descendentes de Israel!
25Pois Ele não desprezou nem desdenhou a aflição do pobre,
nem desviou dele a sua face;
mas ouviu-o, quando lhe pediu socorro.
26De ti vem o meu louvor na grande assembleia;
cumprirei os meus votos na presença dos teus fiéis.
27Os pobres comerão e serão saciados;
louvarão o SENHOR, os que o procuram.
«Vivam para sempre os vossos corações.»
28Hão-de lembrar-se do SENHOR e voltar-se para Ele
todos os confins da terra;
hão-de prostrar-se diante dele
todos os povos e nações,
29porque ao SENHOR pertence a realeza.
Ele domina sobre todas as nações.
30Diante dele hão-de prostrar-se todos os grandes da terra;
diante dele hão-de inclinar-se todos os que descem ao pó
e assim deixam de viver.
31Uma nova geração o servirá
e narrará aos vindouros as maravilhas do Senhor;
32ao povo que vai nascer dará a conhecer a sua justiça,
contará o que Ele fez.

3 comentários:

Salete disse...

Noto com tristeza que os dias que se aproximam são olhados apenas numa perspectiva histórica.
Como episódios que pertencem ao passado, que nada têm de actual!
Os Cristãos parecem insensiveis à Paixão de Cristo... parece que não lhes diz nada...
O individualismo impede-os de sentir e ver a actualidade da PAIXÃO...
Vivemos entre um povo que volta a cruxificar... indiferente, porque não vê, nem identifica o rosto de Cristo em quem passa...
Que eu seja capaz de viver e perceber a actualidade destes dias e de O rever em cada um...
Obrigada pela reflexão que porporcionou!

Catarina disse...

Apesar d a Paixão de Crito ter surgido a cerca de 2000 e poucos anos podemose continuar a ver seres humanos tds os dias a serem crucificados isto porque ninguém tem piedade de quem luta, de quem sofre, porque estão todos marimbando-se para o que os outros sofrem nemguém sabe dar valor, axo que só mmo kem paça por elas...
Jesus foi o primeiro a dar-no o exemplo e nós temos que acreditar que por vexes apesar da cruz parecer muito pesada vão surgir momentos em k a dor vai aliviar...

Unknown disse...

Todos nós, religiosos ou não, deveriamos uma vez na vida ouvir este salmo.
Ninguém permanecerá indiferente, ninguém será o mesmo, e para sempre ficará no seu interior uma mensagem de responsabilidade perante os outros, perante Deus.