quinta-feira, 9 de abril de 2009

Quatro Recordações para Quinta-Feira Santa

Dentro de uma hora inicia-se, na Sé Catedral do Porto, a Missa Crismal onde, além da bênção, para mais um ano, dos óleos do crisma, dos catecúmenos e dos enfermos, se faz a renovação das promessas sacerdotais. Lá estarão presentes grande parte dos bispos, dos sacerdotes e dos diáconos que servem a Igreja de Jesus Cristo em caminho nestas terras da Diocese do Porto. Eu, que participei muitos anos nessa celebração e que lá tenho muitos amigos, coloco-os a todos, nas minhas orações, aos pés dAquele que nos "amou até ao fim".

Hoje é um dia de recordações (recordare-trazer de novo ao coração). Quando estava em Santo Tirso, celebrava a quinta-feira santa na paróquia de Lamelas, com a presença das outras duas paróquias que tinha: o coro era dos coros das três paróquias, os leitores, os acólitos e as pessoas do lava-pés também. Mas como a igreja paroquial de Lamelas era muito pequena, celebrávamos a Ceia do Senhor numa enorme tenda colocada no átrio da igreja. Mesmo assim a tenda (tenda da reunião como Moisés no deserto, o "nosso tabernáculo" como muitos a apelidavam) era pequena para o número de pessoas que ali afluía. Dava muito trabalho a muita gente, mas era um momento único. Soube há meses que deixaram de fazer esta celebração na tenda porque o número de pessoas não justificava. Voltaram para a pequena e restaurada igreja. Por vezes, parece-me que muita gente está a andar para trás e a restaurar passados. Espero estar enganado.

Repetir o gesto de lavar os pés de Jesus era um dos momentos de maior estremecimento interior que todos os anos experimentava. E vivia-o como a confirmação da renovação das promessas sacerdotais que tinha feito de manhã, na missa crismal. Hoje interiormente renovo todas as minhas promessas passadas e deixo silenciosa e compungidamente que o Senhor me abrace os pés porque a firmeza do meu andar e a generosidade da minha oferta de vida dependem desse gesto de pobreza e doação de que a cruz será consumação.

Jesus disse-lhes: "Dei-vos o exemplo, para que assim como Eu fiz, vós façais também". (Jo 13, 15).
Jesus disse-lhes: "Fazei isto em minha memória" (Lc 22, 19).
A fé cristã celebra-se no culto (fazer memória) e concretiza-se nos gestos solidários com os outros (Dei-vos o exemplo).
Missas sem lavarmos os pés uns aos outros é como um cristianismo sem cruz.

1 comentário:

Salete disse...

Nestes dias de intenso simbolismo, olho atrás e revejo a minha vida...
Enquanto olhava o sacrário vazio, pensava em como desejo "esvaziar-me" para que ELE fale mais alto e preencha a minha vida...
Escolhi dizer-lhE SIM!
Volvidos anos, reafirmo-o com a certeza do primeiro dia, com a maturidade do decurso do tempo e com a força da minha alma.
A si,obrigada por tudo, continua a ser um dom o facto dos nossos caminhos se terem cruzado!