segunda-feira, 20 de abril de 2009

II Domingo de Páscoa

O texto de domingo sobre as duas aparições de Jesus, em que se sublinha a figura do incrédulo Tomé, sempre foi um texto que me deixou incomodado perante a habitual leitura de que Tomé era um descrente e que felizes eramos nós, hoje, porque acreditávamos sem ver. E lá ficavam os cristãos do meu tempo todos satisfeitos como se isso fosse a sua realidade. Ora não é assim.
Vamos por partes. Naquele dia, o primeiro da semana, o primeiro de uma nova humanidade, quem é que não estava naquela sala? Tomé, respondem. E se eu disser que era cada um de nós de que Tomé é simplesmente sinal, simbolo colectivo! É aqui que está o cerne da questão. Ele é o dídimo, o gémeo, o igual a nós crentes da última hora. E não é isto bem verdade? Não vivemos nós os tempos de que só o que se prova é que é real? Não dizemos nós que só no que vejo é que acredito? Não pedimos nós, influenciados pela fá bacoca e inabalável nesse mito que é a ciência, provas para Deus, provas para a ressurreição, provas para a vida eterna? (sabem quantos cristãos em Espanha acreditam na vida eterna? Menos de 50%. A minha experiência pastoral diz-me que entre os nossos cristãos o número não deve ser muito diferente!)
Somos filhos da suspeita, do primado da razão e da arrogância do poder dos sentidos. A razão não nos engana? Os sentidos não nos traem? O coração não nos levou tantas vezes por caminhos errados? A ciência não se desdisse vezes sem conta? E a tecnologia e o progresso respondem-nos às questões do sentido? Seremos hoje mais felizes que os nossos antepassados?
Temos que pedir nesta Páscoa (vão ser cinquenta dias) ao Senhor que nos ensine a acreditar. Só temos razões para acreditar: é porque vemos a vida à nossa volta, é porque temos os pés bem assentes na terra, é porque não nos é indiferente o nosso sofrimento e o sofrimento do inocente que cremos que o Senhor está vivo e que este Deus, que é nosso e por nós, quer-nos tanto que não nos é capaz de nos abandonar nem na morte. Porque vemos o mundo acreditamos e porque acreditamos vemos.

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