quarta-feira, 8 de abril de 2009

Um Sentido

Depois de um fim-de-semana de emoções fortes (no domingo estive com os meus irmãos, a minha mãe e as minhas sobrinhas) tenho vivido estes primeiros dias da semana santa a organizar apontamentos da faculdade, a estudar e a ler. Na solidão dos meus dias experimento a falta da tensão que vivia nestas alturas quando preparava com afinco e entusiasmo as celebrações do tríduo pascal. Nessa altura mal tinha tempo para reflectir e rezar, hoje, com tempo em abundância, preciso de algo que torne fecunda esta abundância para que as imensas coisas que pululam a minha reflexão encontrem ordem, expressão e sentido.
Ontem estive a ler umas coisas sobre Viktor Frankl, fundador da chamada logoterapia, um terceira corrente da psicoterapia. Ele que passou por Auschwitz, onde perdeu a mãe, o pai e a esposa defendia que o impulso primário da pessoa não é nem o prazer nem a vontade de poder, mas a vontade de sentido: "A realidade humana refere-se sempre a algo para lá de si mesma. Está dirigida para algo que não é ela mesma. Os seres humanos procuram mais para lá de si mesmos: um sentido no mundo. Procuram encontrar um significado a realizar, uma causa a servir, uma pessoas a quem amar. E só assim os seres humanos se comportam como verdadeiros humanos". No campo de concentração descobriu aquilo que ninguém pode tirar a uma homem: "a última das liberdades humanas - a escolha da atitude pessoal perante um conjunto de circunstâncias - para decidir o seu próprio caminho. (...) Essa tríade trágica na qual se incluem a dor, a culpa e a morte, pode chegar a transformar-se em algo de positivo, quando se enfrenta com a postura e a atitude correctas."
A falta de sentido é a fonte da dor, do desnorte, das crises (seja económicas, sociais, culturais, politicas, familiares ou pessoais), do vazio e do tédio do nosso tempo. Nesta semana nós, os cristãos, apresentamos ao mundo o núcleo do sentido da nossa vida. Será que temos disso noção? Será que fazemos a diferença? Não andam tantos de nós preocupados em cumprir as tradições que são vistas pelos nossos contemporâneos, na melhor das hipóteses, como um folclore revivalista que observam como turistas em busca de originalidades em extinção? São isso respostas à procura de sentido? Que experiência religiosa proporcionaremos aos que nestes dias afluírem às nossas igrejas? E cada um de nós pessoalmente como os viverá? Sorvendo-os ansiosamente como umas férias que escorregam por entre os dedos? Esparramando-se no sofá fazendo zapping até adormecer? Comentando as incidências futebolísticas ao lado das incidências das celebrações que assistimos mas em que não participamos nem vivenciamos? Tudo isto só serve para reprimir a nossa sede de sentido. E se nós os crentes não nos sentimos saciados, quem a saciará?
Como os discípulos à mesa da última ceia, espantados com o anuncio da traição de um deles, sinto que todos podemos dizer: "Serei eu Senhor?"

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