domingo, 13 de dezembro de 2009

3ª Semana de Advento: Gestos

Recordo que neste advento estamos de esperanças, isto é temos seguido a nossa reflexão como se estivéssemos a viver uma gravidez. De facto, estamos grávidos de Cristo desde o nosso baptismo; trazemos em nós o próprio Jesus e o mundo anseia pelo seu nascimento definitivo e sofre as dores do parto ansiando essa alegria completa. O advento ensina-nos a aprofundar a esperança que nos faz senti-lO junto a nós, mas, ao mesmo tempo, ainda tão distante.
Nesta terceira semana, seguimos a mãe já na passagem do segundo trimestre da sua gravidez para o terceiro trimestre. Duas constantes ganham forma nesta fase: a vida que traz dentro de si manifesta-se de forma bem evidente (está praticamente toda formada e já se sente a mover-se e a dar pontapés) e os que se cruzam com a mãe já a reconhecem como uma grávida porque o volume da sua barriga assim o denuncia. Nesta fase, não só se torna pública a vida em gestação como também já são necessárias mais preparações para o grande dia.
Assim, para esta terceira semana de advento proponho como lema: Gestos porque o que pedem a João Baptista são acções (Que devemos fazer?) e a brevidade do nascimento pede-nos actos concretos.
O que o evangelho desta semana nos pede é que tornemos a nossa gravidez cristã, as raízes da nossa esperança e da nossa alegria bem visiveis no mundo. Não podemos ocultar nem silenciar esta vida que trazemos em nós cada vez mais viva e formada. E porque não podemos esconder a luz debaixo do alqueire nem calar a alegria que brota por O sentirmos dentro de nós, só podemos fazer a pergunta que faziam as pessoas que se deixavam tocar pelo profeta João, nas margens do Jordão: Que devemos fazer? Como mudar o mundo e como mudar a nossa incapacidade para a conversão? Como transformar a terra que caminha para a catástrofe? Como ignorar a nossa capacidade para uma justa redistribuição da riqueza? Como aceitar que ainda hoje existam tantos presépios humanos de miséria e abandono? Nós, os de esperanças não podemos achar que nada há a fazer, não desistimos nem caímos na impotência de dizer: o que podemos nós, tão pequenos, fazer. Não, nós os cristãos não vamos por aí. Pelo contrário perguntamos ao profeta radical: Que devemos fazer?
E se no evangelho a pergunta foi feita por três grupos diferentes (multidões, cobradores de impostos e soldados), proponho que nos sintamos esses três grupos porque, na verdade, eles estão vivos em nós: somos a multidão, mexemos com o dinheiro (publicanos) e temos sempre posições de poder (soldados). Assim, os que vivem de esperanças também têm um código ético, não porque está escrito em tábuas da lei, mas porque a vida que trazemos em nós depende desses gestos éticos para vingar, para iluminar, para se fazer ouvir e para se tornar uma realidade hoje no mundo e na história que são os nossos.
Esse código é simples: o que tem "duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma e quem tiver mantimentos faça o mesmo", isto é o cristão partilha, não acumula, sente que se tem a mais é para ter a oportunidade para dar, sabe que o que tem é tudo dom para se fazer de novo dom. Vós que mexeis no dinheiro: "não exijais nada além do que vos foi prescrito", isto é não procureis lucros fabulosos sempre à custa de perdas terríveis para os outros; não chantageeis, não exturcais, não exijais do dinheiro aquilo que ele não pode dar. Vós que exerceis algum poder: "não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo", isto é patrões, gerentes, chefes de produção, chefes de pessoal, etc. que a vossa conduta e as vossas palavras não humilhem, não firam, não sejam agressões; pais, professores, médicos, juízes, forças policiais, etc. procurai a verdade que ergue, a justiça que dignifica, a dignidade daqueles que estão nas vossas mãos com amor; colegas de turma e de faculdade, companheiros da noite e da festa, amigos de longa data nunca deixem que a presunção e as diferenças sociais, intelectuais e ideológicas provoquem superioridades e inferioridades.
Tal como a grávida espraia vida e não só sente os gestos dessa vida, como também tem gestos que preparam a libertação dessa vida, nós os crentes, para que a vida que trazemos em nós se torne credivel, visivel e santificadora, temos que ter gestos de dignificação do outro e de promoção do outro. O caminho da esperança é a justiça. O caminho para Jesus é a dignidade do outro.

Que devo fazer, Senhor?
Diante da grandeza problemática do mundo e da minha insignificância,
Diante da sedução do ter e da minha fragilidade,
Diante dos critérios do poder e do sucesso e da minha vontade de os seguir,
Diante da boa onda do superficial e da minha vontade em estar na moda,
Diante do ruído que distrai e da minha vontade em permanecer descomprometido,
Diante da azafama destes dias e da minha incapacidade em os organizar.
Que devo fazer, Senhor?

Senhor, tal como a mãe espera que tudo corra bem com o seu filho escondido no seu seio,
Assim eu me entrego a ti na esperança que sejas o oleiro dos meus dias
o guia dos meus passos
a luz nas minhas trevas
a Palavra no meio das palavras
a pá que limpa e joeira a eira dos meus dias atulhada de tanta coisa sem valor.
Senhor, ajuda-me a fazer o que devo para tu vivas e cresças no mundo.

2 comentários:

Salete disse...

Gestos concretos....
Aqueles que tantas vezes faltam, e que nem sempre tal acontece por não sabermos que devem nortear as nossas vidas, a nossa rotina diária...
Por vezes ausentes... porque cansados da inexistência de reciprocidade... cansados da incompreensão e "cegueira" dos destinatários...
Neste advento, em que já sinto o Deus Menino, sinto igualmente uma vontade (mesmo se ténue) de "cruzar os braços"... como se pudesse esquecer que segui-LO passa pelos outros... não há outro caminho... ELE está em cada um, mesmo naqueles que me fazem "querer baixar os braços".
Que sejam esses a via para a redescoberta do valor deste advento, para que ELE renasça, só assim, ELE terá reflexo na minha vida! Só assim O poderei levar aos outros!
Obrigada pela magnifica reflexão.
Parabens...

Fernando Mota disse...

A partir de hoje deixarei sempre uma palavra a quem comenta o meu blog, nem que seja simplesmente um obrigado. E à minha amiga Salete aqui fico o meu agradecimento pelas suas palavras amigas e o desejo que as duras distâncias entre Nazaré e Belém não a façam desistir.