segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sagrada Família de Jesus, Maria e José

Que pode a família de Nazaré dizer às famílias de hoje? Que sinais orientadores encontramos neste Evangelho, conhecido pela perca e encontro do menino Jesus no templo de Jerusalém?
Um grande sinal: um filho é sempre desconcertante. Para os pais e para o mundo. Sei que o texto é uma construção de Lucas que já nos apresenta Jesus como sinal de contradição entre o poder religioso e o poder paternal e prenúncio da relativização que Jesus fará da família carnal, diante da possibilidade da abertura à família humana (Quem são a minha mãe e os meus irmãos? Aqueles que escutam a Palavra de Deus, dirá Jesus). Mas, penso poder dizer que Jesus é o iluminador da família cristã actual, na medida que consiga fazer passar no seu seio dois valores fundamentais: a liberdade e o saber viver como irmãos.
A liberdade que nos vem de Jesus é a liberdade que não se deixa manietar pela incompreensão e o fechamento à novidade das estruturas de poder que nos rodeiam socialmente. A família também pode ser uma ignóbil e injusta estrutura de poder se servir de abrigo a violências, a injustiças, a descriminações, a manipulações psicológicas, à perpetuação de estratificações sociais e económicas. Por vezes, na justa ânsia de defender a família temos tendência em ocultar dramas e prisões que ela muitas vezes legitima. Na família inspirada pela família de Jesus a liberdade de quem sabe que existem valores maiores que a carne e o sangue leva a que vejamos todo o outro como irmão e, por isso, aquela família será sempre um espaço de liberdade e de encontro voluntário, onde todas as diferenças têm lugar, tal como (deveria ser) a Igreja de Cristo.
O caminho dos filhos nem sempre coincide com o dos sonhos dos pais. Nem com o que a sociedade tinha estipulado. Assim, também o de Jesus. E isso, hoje, tal como então, provoca incompreensão ("Mas eles não entenderam as palavra que Jesus lhes disse"). A questão está em saber como agir com tal incompreensão. E aí Maria e José dão-nos mais uma lição: diante do mistério maior que temos entre mãos (um filho) só temos que o acompanhar a crescer, transmitir serenamente o que acreditamos e deixar que cresça em autonomia pessoal, intelectual e espiritual. E que cresça com e nunca contra.
Assim, a partir do evangelho de hoje, a família cristã deve ser um espaço que promove a autonomia adulta, a liberdade responsável, o compromisso social pelo outro e a abertura à novidade misteriosa que é cada ser humano. Só se assim for, vale a pena lutar pela tão referida família.

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