domingo, 27 de dezembro de 2009

Mãe

Por feliz coincidência, este ano, o dia de aniversário da minha mãe calha neste domingo da Sagrada Família (amanhã colocarei aqui o meu comentário ao Evangelho) o que me provoca imediatamente algumas reflexões, que aqui deixo com todo o meu ser.
A minha mãe é a nossa família: por ela existimos, com ela crescemos, graças a ela ganhamos vigor, educação, um curso, um lugar na sociedade; à sua volta nos reunimos, é ela, por ela e com ela que nos juntamos, enfim se somos família foi e é porque ela nunca nos abandonou, mesmo quando não nos compreendia, mesmo quando a fazíamos sofrer, mesmo quando contrariávamos a sua vontade e os seus sonhos. Nós não somos uma sagrada família, longe disso, mas Ela é sagrada para a nossa família.
No Evangelho de hoje, Maria vira-se aflita, triste e até zangada para o seu filho fugidio e pergunta-lhe: "Filho, porque procedeste assim connosco?" A nossa mãe quantas vezes o disse a cada um de nós? E disse-o na primeira pessoa do singular porque nos ergueu só e corajosamente singular. Quantas vezes nos vem à memória as muitas vezes que a fizemos chorar solitariamente e sofrer com uma dignidade típica das mães? E melhor: quantas vezes a vimos e a vemos a reerguer-se quando já ninguém esperava e confiava na sua força, na sua capacidade de erguer a cabeça diante da sociedade, quando já ninguém suspeitava que tivesse lucidez e vontade para voltar a começar. Neste último ano, observamos como ela consegue viver diariamente sozinha, pela primeira vez em quase 40 anos, e, surpresa, consegue-o com uma garra, uma vontade e uma profunda confiança em si e na nossa companhia, reagindo vigorosamente às contrariedades.
E nesta solidão percebo o Evangelho quando diz que Maria "guardava todos estes acontecimentos no seu coração": assim vejo a minha mãe, no entardecer dos dias, por vezes suspirando por um mero telefonema dos filhos, a recordar (trazer ao coração) como era cada um de nós ao seu colo, como reagia cada um de nós ao seu chamar, como tudo começou, como nos criou a todos, trazendo à memória centenas de histórias em que partilhamos protagonismo com ela e como chegou agora a um tempo em que parece que é ela que está dependente dos filhos. Mas não. Cada dia que passa, mais te queremos agarrar, proteger, fazer parar o passar inexorável do tempo porque sentimos e sabemos que somos nós que não sabemos viver sem ti. Não te esqueças, quando nasci já tu vivias há muito. E vivias sem nenhum de nós. Nós é que não sabemos viver sem uma mãe. Nunca assim vivemos. E, quando um dia aprendermos a viver sem ti, foi sempre graças a tudo o que nos ensinaste.
Por tudo isto, estás e estarás sempre de parabéns.

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