Proponho que neste advento coloquemos de lado aquela forma infantil de o descrever e de o propor como vivência: preparar o nascimento de Jesus, como se Ele já não tivesse nascido, como se Ele não caminhasse todos os dias ao nosso lado, como se Ele não fosse uma realidade hoje, no nosso mundo. O advento não é preparar o natal. Para isso, as tradições e a pressão social já nos empurram. Então, para que é o advento?
Para aprofundar diferentes dimensões da proposta de vida cristã que, por vezes, com o passar dos dias, se vão diluindo e dissolvendo. Este ano centro a minha reflexão na Esperança. Não aquela esperança resignada à espera de dias melhores. Não aquela esperança do jogador do euromilhões que acha que esta semana é que vai ser. Não aquela esperança da criança que anseia ser grande, do adulto que sonha sentir-se realizado ou do velho que pede um pouco mais de repouso. A esperança de que falo é a esperança cristã que é diferente porque é animada por uma certeza: já está em realização, isto é Jesus - a nossa esperança - já está no meio de nós, é connosco, habita em nós.
Por isso, a proposta sobre a esperança terá que ser a partir daquelas que esperam naquele e com aquele que já é uma realidade: as mães. Elas esperam algo que já é vida, que já está em crescimento, que já está em caminho no mundo, que já estabelece relações pessoais com os outros no mundo, que já é presença. Ora, é idêntica a esperança do cristão. Também nós esperamos activamente que Jesus se afirme na vida e no coração dos homens de uma forma plena, que nasça no mundo. Mas o que é certo é que Ele já está no meio do mundo, no coração dos homens. Ele já está em crescimento, em gestação no seio do anseios da humanidade que espera por tempos de paz, justiça, fraternidade, amor. O tempo que vivemos é um tempo grávido de Cristo e este advento ajuda-nos a perceber os movimentos de Deus na história e impele-nos a agir para que Deus se fortaleça e se torne realidade na nossa história. Para que nasça.
Assim, o meu lema deste advento é Andar de Esperança porque, tal como a grávida traz em si o seu filho vivo, cada cristão traz em si Jesus de Nazaré. E por isso, tem que estar atento à sua presença, ao seu crescimento dentro de si, aos seus movimentos, aos seus pontapés que avivam a vida de cada dia e que nos falam da sua presença viva. O cristão tem que estar atento à suas opções para não deixar que este menino que traz em si não desfaleça por falta de cuidados, atenção e carinho. O cristão tem que estar sempre alerta para ao primeiro sinal não deixar de acolher alegremente a vida como um dom.
Esta primeira semana de advento tem como lema: A Surpresa. A surpresa de Maria diante do anúncio incompreensível do anjo, diante do sentir-se grávida de Deus, diante da simples percepção de gerar em si a esperança do mundo. A mesma surpresa da mãe que recebe a notícia de que está grávida, notícia que tudo transforma e que a faz olhar a vida, o amanhecer e o entardecer com uma nova esperança. A surpresa que apela, tal como Jesus, à vigilância e à oração. À vigilância porque todos os cuidados são poucos diante de uma vida tão frágil e tão dependente dos nossos cuidados. E tudo sem nada vermos, sem nada tocarmos, apenas confiando que aquela pequena célula irá crescer imparavelmente até se tornar pessoa autónoma e livre. À oração porque quando nada podemos fazer, quando nada dominamos, quando toda a técnica e saber humanos aparecem impotentes diante do rumo que a natureza (e Deus?) decidem tomar, só nos resta colocarmo-nos nas mãos do Pai, como e com Maria ("Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra"). Orantes e vigilantes, erguemo-nos e levantamos a cabeça porque somos portadores da vida, do amor e nada poderá separar-nos do amor de Deus feito carne.
Nós os cristãos por mais pequena que seja esta vida que trazemos em nós, Jesus, o Salvador; por mais lento e imperceptível que seja o seu poder renovador e vital só podemos colocarmo-nos no caminho, o caminho que é Cristo, o caminho do homem para que o homem vença como irmão e filho, como a obra prima de Deus.
Senhor,
Sinto que em mim és muito pouco e quase imperceptível,
Sinto que não sou digno que te alojes no mais profundo do meu ser,
Sinto que não estou preparado para fazeres da minha vida uma vida contigo.
Mal te conheço, pouco te amo, menos confio.
As preocupações da vida tornam pesado o meu coração,
A embriaguês do sucesso e do ter ocupam as minhas forças,
A devassidão da riqueza e do meu egoísmo monopolizam os meus dias.
Mas mesmo assim, contra todas a expectativas, tu vieste e estás comigo.
Surpreendentemente dizes-me que me amas, que esperas muito do meu caminho
E que o mundo anseia que lhe mostre a Tua face, a face do Amor
Pelas minhas palavras que aprendi de ti
Pelos meus gestos que recebi de ti
Pelo meu amor que do teu lado aberto jorrou sobre a minha vida
Pelo meu espírito de esperança que do teu suspiro recebi.
E pedes-me que grite com voz de profeta: Deus habita no meu de nós, deixai-o existir.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário