domingo, 6 de dezembro de 2009

2ª Semana de Advento: A Realidade

O Evangelho deste segundo domingo do Advento começa com uma aparentemente simples informação geográfica e política do início da pregação de João baptista. Nessa informação aparecem os nomes dos grandes daquele tempo: o imperador Tibério, em Roma, o seu procurador Pilatos, em Jerusalém, os filhos de Herodes, o grande, governadores do norte e do leste da Palestina e "amigos" do império e, claro, o poder religioso de Anás e Caifás, também ele comprometido com o império. Ora, é neste contexto histórico que Deus se manifesta. Deus não é um ser impávido e fora do tempo, distante e esquecido do homem. A sua encarnação é histórica e autêntica. Tem um espaço e um tempo. É no meio do homem.
Mas aquela informação diz-nos algo mais: Deus e a sua palavra não passam pelos poderosos nem pelos locais mais "in" da política, da economia e do social. Deus passa ao lado do centro do mundo, Deus não se revela nos grandes, dos que ofuscam o Seu brilho, o brilho da sua estrela, com os holofotes da fama, do domínio e do sucesso. Jesus aí não está nem vem. Assim, lemos que a palavra de Deus foi dirigida a um pobre e louco João, perdido, lá, longe de tudo, onde as riquezas só pesam e atrasam: no deserto distante. E aí, onde só vai quem se sente atraído pela Palavra, ouve-se uma voz: Preparai o caminho...
Proponho que regressemos ao lema deste advento inspirado na mulher grávida: Estamos de Esperanças.
Depois da "Surpresa" da semana passada, chegamos hoje à "Realidade". A realidade de que a Palavra de Deus hoje nos dá notícia é de que o Senhor não está nem em Washington, com Obama, nem em Pequim, Moscovo ou Bruxelas. Não aparece nem nos índices bolsistas de Wall Streett, Tóquio ou Londres. Muito menos faz parte das listas dos famosos de Hollywood ou dos rankings dos mais poderosos da Forbes. A palavra de Deus passa mais uma vez ao lado dos holofotes mediáticos e políticos, para se anichar, como o bebé em gestação no seio da sua mãe, na vida de cada um de nós pretendendo que lhe dediquemos todas as atenções. Tal como a mãe, depois da surpresa inicial, vai retomando as suas lides habituais, sem nunca deixar de estar atenta aos sinais do seu bebé em débil e periclitante crescimento e já preparando algumas coisas para o novo ser que vai sentido em si. Nós os cristãos, grávidos de Cristo, depois da surpresa de nos sabermos portadores de Jesus para o mundo e sentindo que a sua vida em nós é ainda tão pequena, em tão lenta formação e que nos causa ainda tantas náuseas a amarguras, vamos retomando a nossa vida, pressionados pela sociedade e pela crise, mas sempre atentos e em acção para não deixarmos que montes de discórdia se ergam, vales de desigualdade se aprofundem, caminhos tortuosos nos distraiam.
A esperança que temos vem desta realidade: Deus escolhe o mais simples, o mais incomum, o mais silencioso, o mais imponderável para vir e se tornar presente. Foi assim com João baptista, foi assim em Belém, é assim hoje. A grávida sente que traz em si o centro do mundo (mas, meu Deus, como é tão pequeno, indefeso e dependente de tanto)! e, por isso, tudo faz para que ele vingue, desenvolva e fortaleça. Deus escolhe-nos, não porque sejamos os melhores, mas, pelo contrário, porque somos o sítio mais improvável (meu Deus, quem sou eu para que me chames a ser teu!?) para Ele vingar, desenvolver e fortalecer a esperança dos homens num mundo novo. Nesta semana que a nossa "gravidez" seja profética e propiciadora de um novo Caminho. Não num sítio imaginário, mas na Realidade.

Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas: Ajudai-me, Senhor, a ser um bom caminho, um atento guia e um fiel companheiro para todos os que comigo se cruzam.

Toda a ravina será preenchida: Ajudai-me, Senhor, a não fazer distinções entre amigos e pessoas por terem menos posses, por terem menos sucesso, por não partilharem os meus gostos que eu, por não viverem a mesma fé, por não terem um estilo de vida que eu considero o mais certo e digno. Ajuda-me a lutar contra as desigualdades.

Todo o monte e colina serão abatidos: Ajudai-me, Senhor, a deitar abaixo a arrogância, a ambição desmedida, a auto-suficiência que me faz ver os outros ou como rivais ou como objectos.

Os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos: Ajudai-me, Senhor, a ser carinhosamente verdadeiro e a ser filho, amigo e trabalhador sem qualquer espécie de fingimento.



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