quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Gestos

Finalmente me abeiro desta janela sobre os dias. Foram dez intensos dias que apanharam toda a terceira semana de advento (Gestos) e o início desta quarta semana de advento que amanhã, pela meia-noite, se encerrará com a celebração do nascimento de Jesus. Foram dias carregados de reuniões de avaliação (bons resultados os dos meus alunos. A maioria está de parabéns à minha disciplina e às outras) e, principalmente de gestos manifestadores daquela presença tão viva como tão discreta do amor encarnado do nosso Deus, Jesus. É da enumeração desses gestos que caíram tão fundo e tão fertilmente na minha vida que constará este post.
Na segunda-feira, dia catorze de Dezembro, começamos as orações de advento para os alunos do segundo, terceiro ciclos e secundário na capela de colégio. Sobre o lema Estar de Esperanças, cada turma, na hora lectiva de EMRC, sentou-se no chão, leu a Palavra de Deus, rezou com Santo Anselmo e S. Tomás de Aquino e reflectiu sobre o tesouro que trazem em si, para salvação do mundo. Foram momentos emocionantes, íntimos e reveladores que as novas gerações não estão tão insensíveis às vozes do espírito (sempre o soube, o disse e assim agi). Foram os seus gestos comprometidos que me encheram de esperança. Obrigado alunos de EMRC.
Na terça-feira seguinte não esqueço o gesto do aluno Luís Costa, que faz parte do grupo que prepara no colégio o encontro ibérico de Taizé, que me deu generosamente e mal me conhecendo, a ouvir (ainda não parei, desde então) o novo cd dos Muse, The Resistance, de que brevemente aqui terei que falar. Foi um gesto gratuito que me encheu de admiração. Obrigado Luís.
Na quarta-feira vivi esse momento anual inesquecível e carregado de história(s) que é a ceia de natal dos estagiários de Santo Tirso, presidida por essa figura inigualável (um pai para mim) que é o Padre Celestino Ramos. Mas essa noite ficará marcada para sempre pelas palavras que o meu amigo padre José Nuno, dedicado e magnífico capelão do hospital de S. João, me presenteou num livro em que faz o seu testemunho sacerdotal. Escreveu ele: Fernando Mota, a vida muda-nos, mas o essencial permanece. Não consigo dizer muito mais, apenas que este gesto de comunhão me encheu de grato orgulho por partilhar, com tão grande fé e ministério, o essencial. Obrigado Nuno.
Na quinta-feira, como sempre neste primeiro período, pelas 8,10h lá me dirigi para a capela do colégio para rezar as Laudes com os alunos que assim o desejem (são sempre mais de duas dezenas deles). Para minha surpresa, tinham organizado o espaço e a oração de maneira diferente, significando assim as nossas últimas Laudes em conjunto de 2009. Tudo por sua livre iniciativa. Devia-lhes ter aberto o meu coração e agradecer-lhes o serem meus companheiros de caminho. Não consegui, mas daqui lhes digo: esse vosso gesto de fidelidade e compromisso rejuvenesce a minha resposta diária ao Pai. Obrigado companheiros de oração.
Ainda nesse dia, o meu grande amigo José Rui ofereceu-me um lindíssimo presépio e um fortíssimo abraço tão sentidos que só fui capaz de suster as lágrimas porque este gesto de amizade profunda me encheu de um sentimento de gratidão tão grande como de tão consciente indignidade da minha parte por ser alvo de tanto. Obrigado José.
Na sexta celebramos a Eucaristia com os alunos do segundo ciclo: simples, mas participado; ritual, mas significativo; uma aposta ganha pelo entusiasmo criado em todos. Ainda na sexta e no sábado, por entre reuniões de avaliação, foi-se solidificando um sentimento de que falarei daqui a pouco.
No domingo, a minha mãe convidou-me para almoçar e de tarde fomos, com os meus tios Luís e Té, à Casa da Música ver o concerto de Natal da Orquestra Barroca e do Coro da Casa da Música que interpretaram temas de Purcell e o Dixit de Haedel. Foram mútuos gestos de carinho familiar que me enchem de segurança e felicidade. Obrigado a todos.
Ontem, fui o debutante da ceia de Natal do Colégio. Ao longo do dia fui sendo presenteado por colegas que vencendo a minha timidez e o desconhecimento de quem sou, sem nada perguntarem e nada esperarem, me acolheram como um com eles. E esse foi o grande gesto que fui sentindo ao longo destes dias e que ontem se ergueu festivamente, na referida ceia: ser acolhido. Quem não gosta de ser acolhido? Reconhecido? Reabilitado? Foram palavras, sorrisos, gestos, pequenas lembranças, trabalho, alimento e bebida partilhados que me encheram de uma vontade tão indomável como inexprimível de os abraçar a todos e a cada um com um pobre, mas sentido obrigado. Só quem já esteve por terra compreenderá o valor de uma mão estendida...
Caro leitor, se aguentou heroicamente até aqui, compreenderá facilmente donde me vem a confiança tão enraizada de que o Senhor vem todos os dias pelos gestos humanos dos outros. Neste final de advento presenteado por tantos e tão diferentes só posso erguer os braços para o Pai e balbuciar-lhe: Tudo é dom teu.

2 comentários:

vivalda disse...

Ao ler as tuas reflexões deste advento e em especial esta postagem dos gestos tiro como conclusão que de facto ainda existe muita gente que sabe qual verdadeiro sentido do Natal, que o demonstra atraves de gestos simples, gratuitos e sinceros. Foi assim que Deus nos deu o seu Presente! Um presente carregado de simbolismo, mas que eu pela correria constante da minha vida nem paro para o interpretar, preciso de ser "abanada". Na forma como escreves demonstra a tua felicidade, mas o que mais admiro é a tua humildade e o teu agradecimento ao Pai:"...Tudo é dom teu.". Eu agradeço a Deus por te ter colocado no meu caminho pois atraves dos teus gestos concretos Ele torna-se mais presente para mim!

Fernando Mota disse...

Muito obrigado, Vivalda. Também tu és um gesto de Deus na minha vida. Continuação de significativas festas.