O caminho de Jesus até Jerusalém (até à cruz) aproxima-se do fim. Ao sair de Jericó (última etapa) e acompanhado por uma multidão de discípulos (que já percebemos ao longo dos últimos domingos não terem a mais pequena ideia para onde o seu Mestre caminha) e curiosos, Jesus coloca-se no caminho e eis que fora do Seu caminho, à margem dos que O seguem, surge um cego. Mas, se nos detivermos a olhar atentamente para o texto de Marcos percebemos que estamos diante de um texto bem diferente do de uma cura. Porque sobre este cego são-nos fornecidas muitas informações pessoais: filho de Timeu, chama-se Bartimeu, está sentado à beira do caminho e pede esmola. Somente nos chamamentos de Pedro e André, Tiago e João e Levi, Marcos nos dá tanta informação sobre as suas personagens, o que nos remete imediatamente não para um milagre, mas para o chamamento deste homem e para a sua conversão ao caminho de Jesus.
Ao ouvir dizer que Jesus passava pela sua vida, Bartimeu não detém nem deixa deter o seu grito por salvação, por alguém que o escute, por sair das margens para que a vida, as suas decisões e a sociedade (religião oficial?) o tinham atirado. Grita porque está longe e aos marginalizados ninguém quer escutar nem quer deixar que eleve a sua voz. Grita como nós no início de cada Eucaristia: Kýrie eléêson que, à letra, pede a Deus que nos pegue maternalmente ao colo, que nos embale com seus braços, que nos sorria com a sua tranquilidade, que nos olhe doce e amorosamente nos olhos. Que Deus ficaria impávido diante do pobre, do só, do esquecido, do fruto da cegueira e da surdez dos outros (e também dos crentes)? E Jesus pára. Pára à nossa porta, à nossa beira, ao grito de dor esperançosa que lhe lançamos. Jesus pára e chama (três vezes Marcos escreve a palavra chamar), chama ao encontro, chama ao diálogo, chama ao chamamento, à vocação. E Bartimeu deixa tudo para trás, deixa o pouco que tem: as suas poucas esmolas caídas no imundo manto que recolhia a caridadesinha alheia. E salta porque nada o faz hesitar, nada o faz pensar duas vezes, é a salvação que o chama, é alguém que o quer ver, falar e aceitar como homem que é em toda a sua dignidade. (Confrontem a atitude deste homem com a do rico que se sentia o melhor homem do mundo).
E eis o diálogo: Que queres que te faça? (a mesma pergunta que Jesus fez no Evangelho passado aos ambiciosos filhos de Zebedeu que não sabiam o que pediam) E Bartimeu pede luz, sentido, um rumo, um caminho, Vida com qualidade (bem diferente dos dois irmãos - poder; e do homem rico - vida eterna). E Jesus só lhe diz: Vai. Sai da margem, ergue a cabeça, és alguém querido e amado, não te coloques nem te deixes colocar à margem, olha como nunca estás só nem quando todos te abandonam e esquecem e marginalizam. E assim percebeu, o filho de Timeu, que só há um caminho, que só há um rumo, que só há uma luz: Jesus caminhando para o gesto maior do amor.
Quantas vezes nos sentimos à margem da vida? Quantas vezes nos envergonham as nossas opções que pensamos que nem Deus nos escuta, embala e olha? Quantas vezes nos deixamos calar pelas multidões e pelos seguidores ignorantes do Mestre que em vez de estenderem a mão nos pontapeiam e enxotam para as margens da vida? Meus amigos gritemos bem alto que afinal na Palavra não são os maus costumes nem a crueldade de Deus (sim, a crueldade dos homens está lá bem explícita) que encontramos, mas o Caminho da Luz de um Deus que se abeira dos mais esquecidos, perdidos e maltratados da vida. Sim, ele é injusto porque esquece, não ouve, deixa partir e condena os cheios de si, carregados de vontade de poder, os que procuram estar acima dos outros, os soberbos.
Senhor Jesus tem piedade de mim...
domingo, 25 de outubro de 2009
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1 comentário:
Ao ler a tua reflexão deste domingo, mais uma vez sinto que a minha vida se encaixa nela, pois quantas vezes tomo decisões, atitudes das quais sinto vergonha e penso que nem Jesus me perdoará, mas a verdade é que estou perante um Deus AMOR e não um Deus Castigador!Sou pecadora e na minha humildade exprimo as mesmas palavras que tu: Senhor tem piedade de mim! Por vezes sinto-me como o "cego" que se encontra na margem da rua, mas que procura o caminho,escuta o chamamento e está disponivel para o seguir!
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