domingo, 25 de outubro de 2009

XXX Domingo do Tempo Comum

O caminho de Jesus até Jerusalém (até à cruz) aproxima-se do fim. Ao sair de Jericó (última etapa) e acompanhado por uma multidão de discípulos (que já percebemos ao longo dos últimos domingos não terem a mais pequena ideia para onde o seu Mestre caminha) e curiosos, Jesus coloca-se no caminho e eis que fora do Seu caminho, à margem dos que O seguem, surge um cego. Mas, se nos detivermos a olhar atentamente para o texto de Marcos percebemos que estamos diante de um texto bem diferente do de uma cura. Porque sobre este cego são-nos fornecidas muitas informações pessoais: filho de Timeu, chama-se Bartimeu, está sentado à beira do caminho e pede esmola. Somente nos chamamentos de Pedro e André, Tiago e João e Levi, Marcos nos dá tanta informação sobre as suas personagens, o que nos remete imediatamente não para um milagre, mas para o chamamento deste homem e para a sua conversão ao caminho de Jesus.
Ao ouvir dizer que Jesus passava pela sua vida, Bartimeu não detém nem deixa deter o seu grito por salvação, por alguém que o escute, por sair das margens para que a vida, as suas decisões e a sociedade (religião oficial?) o tinham atirado. Grita porque está longe e aos marginalizados ninguém quer escutar nem quer deixar que eleve a sua voz. Grita como nós no início de cada Eucaristia: Kýrie eléêson que, à letra, pede a Deus que nos pegue maternalmente ao colo, que nos embale com seus braços, que nos sorria com a sua tranquilidade, que nos olhe doce e amorosamente nos olhos. Que Deus ficaria impávido diante do pobre, do só, do esquecido, do fruto da cegueira e da surdez dos outros (e também dos crentes)? E Jesus pára. Pára à nossa porta, à nossa beira, ao grito de dor esperançosa que lhe lançamos. Jesus pára e chama (três vezes Marcos escreve a palavra chamar), chama ao encontro, chama ao diálogo, chama ao chamamento, à vocação. E Bartimeu deixa tudo para trás, deixa o pouco que tem: as suas poucas esmolas caídas no imundo manto que recolhia a caridadesinha alheia. E salta porque nada o faz hesitar, nada o faz pensar duas vezes, é a salvação que o chama, é alguém que o quer ver, falar e aceitar como homem que é em toda a sua dignidade. (Confrontem a atitude deste homem com a do rico que se sentia o melhor homem do mundo).
E eis o diálogo: Que queres que te faça? (a mesma pergunta que Jesus fez no Evangelho passado aos ambiciosos filhos de Zebedeu que não sabiam o que pediam) E Bartimeu pede luz, sentido, um rumo, um caminho, Vida com qualidade (bem diferente dos dois irmãos - poder; e do homem rico - vida eterna). E Jesus só lhe diz: Vai. Sai da margem, ergue a cabeça, és alguém querido e amado, não te coloques nem te deixes colocar à margem, olha como nunca estás só nem quando todos te abandonam e esquecem e marginalizam. E assim percebeu, o filho de Timeu, que só há um caminho, que só há um rumo, que só há uma luz: Jesus caminhando para o gesto maior do amor.
Quantas vezes nos sentimos à margem da vida? Quantas vezes nos envergonham as nossas opções que pensamos que nem Deus nos escuta, embala e olha? Quantas vezes nos deixamos calar pelas multidões e pelos seguidores ignorantes do Mestre que em vez de estenderem a mão nos pontapeiam e enxotam para as margens da vida? Meus amigos gritemos bem alto que afinal na Palavra não são os maus costumes nem a crueldade de Deus (sim, a crueldade dos homens está lá bem explícita) que encontramos, mas o Caminho da Luz de um Deus que se abeira dos mais esquecidos, perdidos e maltratados da vida. Sim, ele é injusto porque esquece, não ouve, deixa partir e condena os cheios de si, carregados de vontade de poder, os que procuram estar acima dos outros, os soberbos.
Senhor Jesus tem piedade de mim...

1 comentário:

vivalda disse...

Ao ler a tua reflexão deste domingo, mais uma vez sinto que a minha vida se encaixa nela, pois quantas vezes tomo decisões, atitudes das quais sinto vergonha e penso que nem Jesus me perdoará, mas a verdade é que estou perante um Deus AMOR e não um Deus Castigador!Sou pecadora e na minha humildade exprimo as mesmas palavras que tu: Senhor tem piedade de mim! Por vezes sinto-me como o "cego" que se encontra na margem da rua, mas que procura o caminho,escuta o chamamento e está disponivel para o seguir!