domingo, 2 de agosto de 2009

XVIII Domingo do Tempo Comum

Tal como já tínhamos adiantado no final do nosso anterior comentário, a multidão não entendeu o sinal de Jesus. Em vez de perceber o milagre da partilha, fixou-se no receber; em vez de abrir o coração ao milagre da generosidade, procurou o seu interesse particular; em vez de vislumbrar, na multiplicação dos pães e dos peixes, um Deus gratuito no seu amor doador, agarrou-se a um deus religioso à espera de obras e doações dos seus fiéis, decisivas para a sua bondade.
Jesus desmascara o seu egoísmo e o perigo terrível de uma religião que, em vez de estimular a generosidade, a partilha e a caridade, alimenta o egoísmo do homem que busca simplesmente a sua salvação pessoal, o seu sentir-se bem individualmente, enfim, uma religiosidade capitalista e individualista que busca o seu sucesso individual e a resolução dos seus problemas pessoais. O que Jesus denuncia é uma postura que se fica pelo baptizar os filhos, pela primeira comunhão, pelo ir à missa, pelo casamento religioso e não acolhe o amor generoso de Deus e o coloca ao serviço dos outros. Denuncia os que seguem um materialismo religioso que se fica pelos costumes e as tradições, que procura ou reconhecimento social ou o contentamento dos pais mais velhos. Uma religião vivida por rotina ou descaro de consciência. Uma religião que, tal como a sociedade abastada em que vivemos, somente se preocupa em acumular...
O que vem de Deus não são sinais espectaculares nem exteriores, mas o "pão de Deus", o próprio Jesus que não corresponde às ambições do homem nem lhe resolve os problemas fechando-o sobre si mesmo. O que verdadeiramente desce do céu, como o próprio Jesus nos revela, é o que abre o homem aos outros, arrancando-o de si mesmo, e lançando-o na história e no dia-a-dia. O que desce verdadeiramente do céu é o amor, a simplicidade humilde, a generosidade, a entrega, o ser humano. É Deus que nos faz humanos. E Jesus é o pão que não perece e que alimenta uma vida assim. E o mundo de hoje denuncia que nós os cristãos não nos temos alimentado desse pão.
Termino com uma oração de Rufo González que tudo isto coloca diante do Senhor:
"Em ti, Senhor, vemos a verdadeira imagem de Deus: alheada das nossas imagens mesquinhas, ressentidas e rancorosas; Em ti vemos um Espírito de vida que ama sem medida, que sustenta e respeita a nossa consciência e liberdade de realização plena, que se alegra com a nossa alegria, luta connosco contra os nossos fracassos, que aguenta a nossa rebeldia porque não pode deixar de respeitar a nossa liberdade, que nunca se resigna e continua a chamar e a esperar o nosso regresso ao seu amor: "olha que estou à porta e chamo: se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele" (Ap 3, 20).

1 comentário:

vivalda disse...

Como são verdadeiras as palavras que nos diriges neste texto, vivemos num mundo em que ser Igreja é batizar os filhos, fazer as festas religiosas, mas não somos capazes de acolher o que nos dá Jesus! Este que como homem foi humilde, simples, acolheu todos mesmo o mais pecador. E eu quantas vezes sou humilde? Quantas vezes deixo o meu materialismo para me colocar ao serviço desse Amor que Ele me deu e dá como exemplo? E Tu pai sempre ao meu lado respeitando a minha forma de ser, mas sempre à espera do meu regresso! Doi-me ter consciência do ser humano frágil e rebelde que sou, mas tentarei em cada momento da minha vida não ser egoista e viver o Amor que Ele me dá com os outrso!