sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Deus. A eterna questão.

Acordar e dar de caras com mais um estimulante comentário sobre Deus no meu blog, desta feita escrito pelo meu amigo e saudoso André, precisamente no dia em que acordei com a vontade resoluta de limpar a minha casa, carregada de pó, é uma desafio a que não devo virar a cara. Vou fazê-lo o mais objectiva e sucintamente possível porque não quero fazer deste espaço, local de polémica nem maçar ninguém com longos textos argumentativos. Além disso, não pretendo adiar conversas pessoais há muito prometidas e, por diversas circunstância, sempre adiadas.

Vou responder aos dois desafios concretos colocados pelo André, na segunda parte do seu comentário.

Os predicados tradicionais de eternidade, omnipotência, omnisciência (a infinita bondade, nem tanto) não são afirmações cristãs (Cf. Os dois credos cristãos), mas sim afirmações filosóficas sobre Deus, muitas vezes coladas indevidamente, ainda hoje, ao Deus cristão. E, penso, que a sua não presença nos símbolos de fé cristãos advém da sua difícil compaginação com a fé cristã num Deus pessoal (Cf. Deus trino e uno). Georges Minois, na sua História do Ateísmo, apresenta os descrentes como todos os que não reconhecem a existência de um Deus pessoal que intervenha na sua vida: ateus, agnósticos, cépticos, panteístas, mas também deístas. De facto, embora não se saiba propriamente o que significa Deus enquanto absoluto pessoal, um Deus que fosse menos que uma pessoa, isto é da ordem do neutro, do isso ou do aquilo, que poderia dizer ao Homem? Heidegger dizia que ao Deus causa sui, impessoal, o Homem não pode rezar.

A convicção cristã de que “Deus é amor” (mais uma vez confrontar com o dogma da Santíssima Trindade) leva-a a entender a presença do Deus Transcendente como uma presença fundada num amor pessoal (poderá ser de outra forma o amor?) e criador, não por necessidade deste, mas pela paradoxal constituição humana: uma concretude máxima e uma abertura sem fim à totalidade do real e do possível que o leva a colocar sempre a pergunta por Deus. Ora, é essa dupla realidade que penso sustentar também a convicção cristã num Deus pessoal porque Este permite pensar (e crer) na salvação do Homem concreto e pessoal, e não reduzi-lo a um momento da “Totalidade” impessoal. Entregar-se confiadamente ao Deus pessoal cristão é fruto da convicção que existo não para a Sua glória, mas para a minha realização plena como homem.

Sobre a segunda questão (e como já vai longo este post… paciência a todos os leitores que chegaram até aqui) apelo ao prólogo de S. João (Jo 1, 1-18) que é muito claro: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória…” (Jo 1, 14). A questão está mais uma vez em como se entende esta encarnação, como ela aconteceu no acontecimento histórico Jesus e como se verifica essa união hipostática. É um perigo antigo e vale a pena ler toda essa polémica dos séculos IV, V e VI para percebermos como problemas antigos se tornam novos.

Jesus é a encarnação de um Deus trino, isto é Jesus é a encarnação do Filho de Deus. E se há coisa que o NT afirma é esta realidade. Posso argumentar rapidamente com a praxis de Jesus e a sua subversão de lutar contra deus. Ele é o Deus derrotado e renunciado pelos homens, algo nunca visto nem ouvido. Ele é o Deus do amor, algo radicalmente original. Ele é o Deus dos fracos, das prostitutas, dos pecadores, dos marginalizados pela sociedade, dos ostracizados pelas religiões. Nem antes dele os homens entenderam Deus assim, nem depois dele o acolheram verdadeira e realmente assim (Cf. História). “Na verdade, este homem era filho de Deus” (Mc 15, 39), disse o centurião ao ver como Jesus tinha expirado aos gritos de Eloí, Eloí… É uma argumento pobre filosoficamente? Talvez, mas desconfio que a filosofia tem mais perguntas que respostas. Tal como a fé?

Bem que post enorme! Caro leitor chegou até aqui? É de uma paciência infinita. Tal como Deus?

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