terça-feira, 30 de junho de 2009

XIII Domingo do Tempo Comum

Desde o Dia de S. João vivi dias de clausura para me preparar para o terrível exame de Lógica. De quinta-feira até ontem às 13,30H não estive para ninguém e só saí para ir à Eucaristia, no sábado à noite. Está feito, esperemos que definitivamente e dia 9 e 16 tenho mais dois exames. Há que não perder o ritmo.

Mas vamos ao texto do Evangelho de domingo.
Mais uma vez o tema da fé. Diria que nesta magnífica passagem podemos reflectir sobre a ousadia da fé. As duas personagens à volta das quais se desenvolve toda a cena são Jairo, "um dos chefes da sinagoga", e uma "certa" e anónima mulher que sofria há doze anos. A mesma idade da agonizante filha de Jairo.
Cada um deles vive um movimento oposto da sua fé.
A mulher vive uma fé interior, silenciosa, última esperança para quem tudo tinha perdido em tratamentos ineficazes, última mão estendida numa sociedade e numa religião que a ostracizavam e a consideravam impura, última e derradeira possibilidade de saída de um beco em que a doença e a cultura do seu tempo a tinham enfiado. Esta mulher ousou e, contra toda a esperança, rompeu por entre a multidão que a desprezava e a temia e viu-se exposta na grandeza da sua fé quando Jesus a trata por "minha filha" (única vez que Jesus o diz em todos os evangelhos) e assim a faz uma consigo. Filhos dele não são os que o apertam de todos os lados, mas os que no íntimo do seu coração fazem uma verdadeira e ousada opção por Ele. Opção que deve ser manifestada diante de todos, na pequenez do discípulo simples e verdadeiro ("assustada e a tremer (...) veio prostrar-se diante de Jesus e disse-lhe a verdade").
Jairo, faz o movimento contrário (do público ao privado) mas também ele cheio da ousadia da fé. Colocando em causa a sua reputação social e religiosa (um chefe da sinagoga não podia reconhecer assim Jesus), cai aos pés de Jesus e pede-lhe a vida para a sua filha (mais uma vez, voltem a pensar no minha filha de Jesus à mulher. Assim, como Jairo, pensa Jesus naqueles a quem chama de filhos...). Jairo afirma publicamente e ousadamente a sua fé que, ao longo de toda a passagem, não deixa de ser colocada à prova (é a multidão e a mulher que atrasam Jesus, é a notícia da morte da sua filha, são os choros e os gritos à porta de sua casa). A certa altura, Jesus desafia-o a entrar em si, despede a multidão e impõe o silêncio, para que no resto do caminho o chefe da sinagoga percebesse se a sua fé tinha realmente raízes interiores e atingiam em cheio o seu coração. As palavras "não temas. Basta que tenhas fé" são o desafio a todo o homem para que perceba se a sua fé é uma adesão pessoal e íntima ou apenas uma epidérmica emoção ou uma ressequida árvore alimentada por caudais pantanosos de uma tradição sem alma. Assim, Jairo e Jesus entram onde se encontrava a menina a quem Jesus chama de "talitha", isto é irmã, feminino de talya que quer dizer irmão. Irmãos de Jesus são aqueles que vivem a ousadia da fé publicamente, mas que a têm enraizada no mais profundo local das opções fundamentais: o coração.
Este texto extraordinário não é um apelo à caridade, como ouvi no sábado (interpretação legítima, mas pobre), mas uma proposta de reflexão pessoal sobre a fé que nos anima. Esta vive deste duplo movimento: do interior para a sua expressão exterior e vice-versa. Se nos ficarmos pelo primeiro vivemos um espiritualismo egoísta e não provado pelo encontro com o mundo. Se ficamos pelo segundo, vivemos um activismo vazio e rapidamente o mundo e as agruras da vida nos levarão na onda das maiorias flutuantes que vivem ao sabor das correntes.

1 comentário:

Salete disse...

Está fantástica a proposta de reflexão!
A ousadia da primeira manifestação pública de fé parece requerer uma coragem capaz de ultrapassar a timidez que por vezes nos afecta.
Contudo, só será verdadeira se primeiramente estiver enraizada no no nosso coração.
Só transmitimos a verdade do que primeiro sentimos... nesta coerência, ninguém duvidará quando publicamente ousarmos afirmar o que acreditamos e que a nossa vida já revela de forma concreta.
Uma convergência necessária de que o texto é reflexo!