terça-feira, 9 de junho de 2009

Daniel Faria

O Daniel Faria partiu para junto de Deus há dez anos. Éramos amigos desde 1983. Eu era pároco em Santo Tirso há três anos. Ele vivia no Mosteiro de Singeverga, no mesmo concelho, por isso várias vezes nos encontrávamos. Não tantas como deveriam ter sido. Mas ninguém esperava aquela finta do tempo...
Deixo mais um poema seu, que muitas vezes dei aos meus jovens nas actividades maiores do Verão.





Lembra-te do teu Criador nos dias da mocidade
A tua única herança para os dias da desgraça
Cava fundo o coração para a lembrança
Antes que digas não tenho mais prazer
Antes que a noite seja noite e não vejas mais o sol nem as estrelas nem os filhos]
Antes que voltem as nuvens como a chuva depois da viuvez
Antes do dia em que as mulheres, uma a uma, pararem de moer
Quando a escuridão cair sobre os que olham pela janela
Quando se fecha a porta da rua e o ruído não diminui
Quando se acorda com o canto do pássaro e as palavras desaparecem
Quando a altura se assemelha aos sustos que se apanham no caminho
Quando a amendoeira está em flor e o gafanhoto se torna pesado
Quando o tempero perde o sabor

Antes que a tua única herança seja a lembrança
Antes que o fio de prata se rompa e a roldana rebente no poço
Antes de tudo isto
Põe uma escada e sobe ao cimo do que vês.

A fotografia é do grande amigo comum Joaquim Santos. E se não erro, foi tirada no santuário da Senhora da Lapa, na Serra da Lapa, concelho de Sernancelhe.
Um dia escreveu-me dizendo que eu era a mais antiga das suas amizades... Ainda o é e será...

3 comentários:

Alírio Camposana disse...

Penso que um dia lá nos encontraremos todos. É tudo uma questão de tempo. Vamos vivendo as nossas vidas, aqui em baixo, o melhor que sabemos ou podemos até esse dia chegar, onde reencontraremos todas as pessoas de quem gostámos e gostamos.

Um abraço e viva os La Fura!

Unknown disse...

É incrível como me lembro do teu amigo e era eu muito pequeno: de olhos claros, aparentemente frágil, humilde, muito calado e tímido no nosso mundo, mas por aquilo que sei, com um força interior tão pessoal e só compreendida pelas suas obras.
Eu era pequeno, mas era e sou observador. Não me esqueço de certo tipo de pessoas.
Aproveito e deixo uma mensagem:
"Houvesse um sinal a conduzir-nos
E unicamente ao movimento de crescer nos guiasse. Termos das árvores
A incomparavél paciência de procurar o alto
A verde bondade de permanecer
E orientar os pássaros"

Catarina disse...

A vida como se costuma dixer é madrasta...
Mas assim teria de ser.
A nossa vida é como uma caminhada, que imaginamos bem longa mas por vexes para alguns esta é tão curta...