segunda-feira, 1 de junho de 2009

Imaginarius 2009

Neste fim-de-semana decorreu em Santa Maria da Feira o Imaginarius, Festival Internacional de Teatro de Rua. Assim, na sexta-feira e no sábado participei entusiasticamente em mais esta magnifica organização do município feirense a fazer ver a muitas e de maior nomeada câmaras deste país.
Hoje vou falar-vos do espectaculo nocturno "O Mundo de Pinóquio", uma co-produção do grupo alemão Titanick Theatre com o Acert e o Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua, que constituía uma parada, que percorria várias ruas feirenses, liderada por um impressionante Pinóquio de mais de sete metros de altura. Este engenho cénico é uma criação do Trigo Limpo teatro Acert.
Pinóquio é o símbolo de toda a criança que, sendo uma criação de adultos, anseia libertar-se de todas as suas manipulações, tornar-se autónoma e, fascinada pelo mundo à sua volta, tornar-se um adulto livre para o poder explorar todo. Ora, a parada mostra-nos o paradoxo deste pensar da criança com o sonho do adulto que tenta não deixar morrer a criança que existe em si e não se deixar instrumentalizar pelas regras sociais. O paradoxo está aqui: enquanto a criança sonha ser adulto, o adulto sonha ser criança e aprende, olhando para elas, que como adulto pode melhor concretizar esse seu sonho, usando toda a sua liberdade e capacidade criativa.
Em toda esta procissão moderna, que não deixa ninguém indiferente nem passivo, acompanham Pinóquio uma série de personagens adultas (militar, cientista, sacerdote, prostitutas, um rei, um mordomo, etc) que, diante do espanto de Pinóquio, lhe oferecem uma festa de dança, de música, de gastronomia, de espuma, de jogos de água, de luz, de pirotecnia e de som. O espanto de Pinóquio é o espanto das crianças diante dos momentos em que os adultos, pelos diferentes constituintes da festa e do convívio, se lhes manifestam como autênticos petizes que, deitando mão de toda a sua imaginação e capacidade técnica, conseguem trazer ao de cima todo o seu espírito infantil, que os liberta e os torna mais humanos e maduros. No espectáculo, Pinóquio vai participando, no festim agradecido que o mundo dos adultos lhe oferece, integrando-se em todas as dinâmicas criadas e dançando ao som de uma música ao vivo, tão delirante como poética que a ninguém era indiferente. Os adultos, num crescendo de saudável loucura e contagiante alegria, vão descobrindo que não só a sua potência criadora atinge níveis espantosos quando aposta no lúdico como espaço de encontro com o outro, como também intuem que quanto mais forem pessoas maduras mais têm a oportunidade de tornar mais vivo o espírito de criança que tanto buscam.
É um espectáculo de mais de uma hora que converge a si milhares de pessoas em que todos querem participar pois sentem que o mundo manipulador em que vivemos apenas nos quer como seres produtivos e consumidores, formatados e sem diversidade, incapazes do sonho e da festa. Não são, hoje, as crianças tão manipuladas económica, politica e culturalmente e, com elas, as suas famílias?
Estão aqui as novas linguagens simbólicas e reflexivas que as instituições mais antigas têm que assumir para não perderem relevância. Não posso deixar de escrever esta provocação sugerida pela minha participação no celebração eucarística de sábado, precisamente na Igreja Matriz de Santa Maria da Feira: Porque estava aquela magnífica igreja tão vazia? Porque é que, numa missa que era da catequese, só se viam sexagenários e, muito pontualmente, crianças, jovens e pessoas da classe etária 25-55? Eram 18,30 e as ruas à sua volta começavam a encher-se de pessoas que buscam linguagens que as motivem, surpreendam e as façam reflectir. Que as libertem das amarras discriminatórias e dos não-valores morais que lhes querem impor. Que encontram nas respostas tradicionais apenas o enfadonho repetir de fórmulas que ninguém compreende nem entende e que a ninguém toca emocional e intelectualmente.

Já que estou sem máquina fotográfica, logo que tiver imagens do evento coloco aqui no blog.

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