Diz-se que em política o que parece, é. E, na verdade, nas eleições de ontem o P.S. teve o terceiro pior resultado da sua história, viu o bloco à sua esquerda a ter mais de vinte por cento dos votos e viu a direita a renascer das cinzas e a atingir no seu conjunto quarenta por cento dos votos. É evidente que mais de trinta por cento dos eleitores que costumam votar não o fizeram, mas parece evidente que esse número, nas futuras legislativas, vai-o fazer e vai-se distribuir por todos os partidos o que terá como consequência que, em Outubro, provavelmente, não haverá maioria absoluta de nenhum partido, o que não é nenhuma tragédia, como em Portugal é habitual ouvir-se.
E aqui coloca-se a questão mais importante à democracia portuguesa: trinta e cinco anos de regime democrático e na mais grave crise desde o Verão de 1975 estamos preparados para trocar ideias, colocar sobre a mesa os nossos projectos, as nossas concepções económicas e sociais e governar para o bem comum e não para o bem das cooperações que pululam à volta dos partidos e que paralisam o estado? Sinceramente parece-me que não e isso é sintoma da juventude doente da nossa democracia. E digo isso por diferentes razões, mas hoje fico-me por uma tão simples como triste, que mais uma vez, ontem, pude constatar.
Já notaram como em Portugal se comemora uma vitória eleitoral ou como se aceita uma derrota à imagem do discurso futebolístico? Já se aperceberam que apoia-se um partido como se fosse o clube lá da terra? Cantam-se cânticos adaptados das claques futebolísticas e entoam-se discursos como se se falasse para adeptos? Nunca ouviram seguidores de um partido a remoerem invectivas violentas e condoídas contra os adversários? Só que no futebol ninguém é de um clube por opções racionais ou por eles defenderem um projecto económico ou um projecto de país. No futebol, o adepto é-o porque sim. É uma crença não justificada nem procura sê-lo.
O incompreensível é que, na política, o militante e o simpatizante comportam-se, na sua maioria, da mesma forma. Muitos nem balbuciar um discurso coerente de justificação opcional por A ou por B são capazes. Atente-se nas guerras das facções dentro dos partidos, seja a nível local e nacional: quantas vezes se discutem projectos, ideias e concepções políticas e sociais? Quantas vezes se ultrapassa o discurso pessoal e se apresenta ideias reformadoras? Quantas vezes vingam a amizade interessada, o calculismo e a demagogia? Porque o que importa é vencer o adversário, nem que seja sem o árbitro (povo) ver ou perceber. E depois, existem os muitos que, dizendo que não gostam de política, nem votam tal como os que não gostando de futebol não o vêm nem o discutem nem lhe conhecem as regras. Como se política e futebol fossem a mesma coisa e tivessem as mesmas consequências!
Parece-me que a democracia é uma construção demasiado frágil para se ter uma postura assim: leviana, interesseira e irracional. É uma construção tão lenta e periclitante que não se compadece nem com egoísmos pessoais nem com egoísmos partidários. Talvez o agudizar da crise nos ajude a arrepiar caminho, senão, não tenham dúvidas, os extremismos vão medrar e tudo será mais difícil.
segunda-feira, 8 de junho de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Parabéns pelo texto!!!!
Pergunto..., alguém acredita nestes "gajos" que vivem de interesses, cunhas, dinheiros, rivalidades, poder, pré-reformas e reformas luxuriantes?
Que campanha foi esta das europeias? Só se falou da vizinha do lado, e das histórias da "Maria". Tenham vergonha e vejam a vossa figura de 7 cães a um osso.
Extremismo - acredita que já esteve muito mais longe.
Enviar um comentário