Ontem enquanto ia para as aulas, pela A29 e pelas 7,40, começou a tocar na rádio uma música antiga de António Pinho Vargas: Tom Waits. Esta música saiu num álbum em vinil de que já esqueci o nome e que deve estar algures perdido na casa da minha mãe.
Embalado por ela e motivado pelo regresso do sol procurava, por entre a tragédia urbanista das nossas cidades, o mar que naquela auto-estrada, por vezes, se vislumbra. E como ele me parecia brilhante! Ao passar a ponte da Arrábida fiz questão, recusando entrar na cegueira agitada de mais um dia, de olhar para oeste, para a foz, estava uma luz incrível e cá do alto tudo parecia pacificador. Recordei, então, um texto de Sophia, que há pouco reli, Caminho da Manhã do Livro Sexto, e que aqui deixo dois trechos:
Segue entre as casas e o mar até ao mercado que fica depois de uma alta parede amarela. Aí deves parar e olhar um instante para o largo pois ali o visível se vê até ao fim (...) Caminha rente às casas. Num dos teus ombros pousará a mão da sombra, no outro a mão do Sol. Caminha até encontrares uma igreja alta e quadrada.
Lá dentro ficarás ajoelhada na penumbra olhando o branco das paredes e o brilho azul dos azulejos. Aí escutarás o silêncio. Aí se levantará como um canto o teu amor pelas coisas visíveis que é a tua oração em frente do grande Deus invisível.
O que a música, a poesia e o olhar nos fazem! Como é belo o tempo quando o agarramos!
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