Dentro de algumas semanas, a minha irmã Inês vai celebrar o seu casamento com o Sérgio. Por isso, tenho andado atrás do presente para eles, da surpresa que é habitual os irmãos prepararmos para esse dia e, pior de tudo, atrás da roupa para a cerimónia. Lá tenho andado por esses shoppings a entrar e a sair de lojas, a vestir e a despir roupa, a provar e a acertar indumentárias que não foram feitas para mim. E dou comigo a pensar: como é difícil, na vida, tentarmos vestir um fato que não foi feito para nós, que não assenta naquilo que somos e para aquilo que fomos formatados pelas nossas opções ao longo da vida! Há sempre alguma coisa que desequilibra o conjunto. Realmente é bem mais difícil mudar de vida.
Nesta manhã, no site do José Rui Teixeira, encontrei esta verdadeira world music que quero partilhar consigo, em sua homenagem, caro leitor, porque preciso de o sentir desse lado, ao meu lado. É só clicar em baixo...
Stand By Me
terça-feira, 28 de abril de 2009
domingo, 26 de abril de 2009
III Domingo da Páscoa
Do medo à perturbação, da perturbação à alegria, da alegria ao testemunho (mártures=mártires): foi esta a lenta e enigmática evolução dos discípulos e das discípulas de Jesus depois da sua morte. Desta evolução nasceu a nossa convicção da Sua ressurreição.
Neste domingo, escutamos o mais audaz texto da ressurreição (Lc 24, 35-48), onde Jesus afirma não ser um espírito, onde mostra ter carne e ossos, onde come à frente de todos. Com isso quer dizer-nos: "Não sou um fantasma do passado, não sou uma ilusão de corações saudosos, não sou uma intuição racional ou mística, não sou um acontecimento histórico longínquo mas sou presença viva em qualquer lugar, em qualquer tempo. Venço todas as barreiras físicas e todas as coordenadas de tempo para pedir a única barreira que sou incapaz de ultrapassar: a opção pessoal de cada homem e de cada mulher para ser minha testemunha no mundo. Testemunha do amor divino, do arrependimento e do perdão dos pecados".
Foi quando experimentaram esta realidade que aqueles homens e mulheres iniciaram um movimento, que incarnados na humanidade como nenhuma outra religião (por isso, cometendo tantos erros e tantas atrocidades como tantas maravilhas e tantos gestos de amor radical e admirável), chegou até nós crentes da última hora. Mas hoje vivemos como que encerrados nas paredes das nossa comunidades, das nossas burocracias, das nossas tradições, das nossas quinquilharias eclesiásticas sem percebermos porque tantos não dão ouvidos ao nosso testemunho. E porquê?
Porque deixamo-nos de encantar com a alegre notícia pascal, porque deixamo-nos perturbar com os acontecimentos do nosso mundo (tal como os discípulos de então). Ainda não saímos da perturbação que os dias que correm nos provocam e, em vez de proporcionarmos a experiência de Jesus a nós e aos outros, cansamo-nos em defender a indefensável exclusão, em propor insuportáveis cargas moralistas, em olhar as mãos trespassadas de Cristo como sinal de pecado em vez de sinal de amor e de graça. Jesus não pode ser um fantasma na nossa Igreja, onde ninguém vislumbra a Sua realidade viva, a actualidade libertadora da Sua palavra, a suavidade amorosa dos Seus gestos carregados de acolhimento e perdão.
"Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações!", eis a questão que fica neste domingo... Eis a questão que temos que nos colocar: porque andamos perturbados?
Neste domingo, escutamos o mais audaz texto da ressurreição (Lc 24, 35-48), onde Jesus afirma não ser um espírito, onde mostra ter carne e ossos, onde come à frente de todos. Com isso quer dizer-nos: "Não sou um fantasma do passado, não sou uma ilusão de corações saudosos, não sou uma intuição racional ou mística, não sou um acontecimento histórico longínquo mas sou presença viva em qualquer lugar, em qualquer tempo. Venço todas as barreiras físicas e todas as coordenadas de tempo para pedir a única barreira que sou incapaz de ultrapassar: a opção pessoal de cada homem e de cada mulher para ser minha testemunha no mundo. Testemunha do amor divino, do arrependimento e do perdão dos pecados".
Foi quando experimentaram esta realidade que aqueles homens e mulheres iniciaram um movimento, que incarnados na humanidade como nenhuma outra religião (por isso, cometendo tantos erros e tantas atrocidades como tantas maravilhas e tantos gestos de amor radical e admirável), chegou até nós crentes da última hora. Mas hoje vivemos como que encerrados nas paredes das nossa comunidades, das nossas burocracias, das nossas tradições, das nossas quinquilharias eclesiásticas sem percebermos porque tantos não dão ouvidos ao nosso testemunho. E porquê?
Porque deixamo-nos de encantar com a alegre notícia pascal, porque deixamo-nos perturbar com os acontecimentos do nosso mundo (tal como os discípulos de então). Ainda não saímos da perturbação que os dias que correm nos provocam e, em vez de proporcionarmos a experiência de Jesus a nós e aos outros, cansamo-nos em defender a indefensável exclusão, em propor insuportáveis cargas moralistas, em olhar as mãos trespassadas de Cristo como sinal de pecado em vez de sinal de amor e de graça. Jesus não pode ser um fantasma na nossa Igreja, onde ninguém vislumbra a Sua realidade viva, a actualidade libertadora da Sua palavra, a suavidade amorosa dos Seus gestos carregados de acolhimento e perdão.
"Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações!", eis a questão que fica neste domingo... Eis a questão que temos que nos colocar: porque andamos perturbados?
sábado, 25 de abril de 2009
A semana que está a chegar ao fim, foi intensa e produtiva. O trabalho na faculdade correu muito bem (tenho as leituras obrigatórias e os apontamentosdas aulas em sintonia com ritmo das aulas), coloquei a conversa em dia com alguns amigos e recebi notícias de outros que há muito não escutava e, nos dois últimos dias, tive oportunidade de fazer experiência de dois momentos que vale a pena partilhar.
Na quinta-feira, por indicação do blog do meu amigo José Rui Teixeira, descobri, na Rua Formosa, no Porto, entre a Rua de Santa Catarina e a Rua da Alegria, uma loja de arte, a Opção. É verdade, uma loja de arte onde podemos contactar com obras de pintura, desenho, serigrafia, fotografia e, principalmente, com cerâmica artística de grande qualidade. Neste último âmbito, não posso deixar de destacar obras de Karin Somers (de quem sou um apaixonado depois de ver, in loco, duas esculturas suas, na casa do José Rui), Sofia Beça e João Carqueijeiro, entre outros. É uma loja deliciosa onde pode acontecer sermos conduzidos, aconselhados e atendidos pelos próprios artistas. Eu tive a sorte de ter como guia de desejos e gostos a artista Sofia Beça. A sua simpatia disponível e a sua sabedoria bem fundada foram uma preciosa ajuda. Vale a pena passar pelo número 170 daquela estreita rua da baixa portuense e, quem sabe, adquirir uma obra de arte, que aqui se encontram a preços irrecusáveis.
Ontem assisti, na minha faculdade, a uma mesa-redonda, inserida no colóquio internacional e interdisciplinar "Artes da Perversão". Nela participaram o meu amigo José Rui Teixeira (muito bem, na apresentação do suicídio como desafio aos conceitos habituais de perversão a partir da vida e obra de Guilherme de Faria), Laura Ferreira dos Santos (demasiado simplista e parcial na sua visão sobre a morte assistida e a sua perversidade ou não) e José Tolentino de Mendonça (magnífico na abordagem dos Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, nas citações bíblicas presentes nesse livro e na sua proposta de desfatalização da perversão a partir do amor/agapê intuído pelo cristianismo). Além de sair a pensar nas diferentes intervenções, reflecti que a universidade é este espaço de pensamento sem condições nem limites, sem se vergar a utilitarismos económicos nem a asfixias estatais. É um espaço de liberdade. Assim a deixem ser...
Hoje celebra-se o 35º aniversário da Revolução do 25 de Abril. A liberdade é o grande valor democrático e civilizacional que Portugal ainda não aprendeu completamente. Somos centralistas e esperamos tudo do estado: que nos sustente, que nos dê tudo, que nos diga o que devemos fazer, que nos eduque, que nos trate da saúde, que dite formas de agir morais, que seja o nosso "pai". Nisso ainda estamos a aprender a liberdade. Mas poder dizer isto é magnífico. Vivermos num regime que, em duas semanas, faz progredir na carreira militar duas figuras tão opostas politica e humanamente como Jaime Neves e Otelo Saraiva de Carvalho é um regime que sabe o que é a democracia e que aprende a crescer em liberdade.
Hoje, mais que um dia histórico, celebro a liberdade de tudo questionar, de tudo debater e de recusar que pensem por mim e que pensem que sabem o que é melhor para mim do que eu próprio. E muito menos que esse ser pensante seja o estado. Viva a liberdade.
Na quinta-feira, por indicação do blog do meu amigo José Rui Teixeira, descobri, na Rua Formosa, no Porto, entre a Rua de Santa Catarina e a Rua da Alegria, uma loja de arte, a Opção. É verdade, uma loja de arte onde podemos contactar com obras de pintura, desenho, serigrafia, fotografia e, principalmente, com cerâmica artística de grande qualidade. Neste último âmbito, não posso deixar de destacar obras de Karin Somers (de quem sou um apaixonado depois de ver, in loco, duas esculturas suas, na casa do José Rui), Sofia Beça e João Carqueijeiro, entre outros. É uma loja deliciosa onde pode acontecer sermos conduzidos, aconselhados e atendidos pelos próprios artistas. Eu tive a sorte de ter como guia de desejos e gostos a artista Sofia Beça. A sua simpatia disponível e a sua sabedoria bem fundada foram uma preciosa ajuda. Vale a pena passar pelo número 170 daquela estreita rua da baixa portuense e, quem sabe, adquirir uma obra de arte, que aqui se encontram a preços irrecusáveis.
Ontem assisti, na minha faculdade, a uma mesa-redonda, inserida no colóquio internacional e interdisciplinar "Artes da Perversão". Nela participaram o meu amigo José Rui Teixeira (muito bem, na apresentação do suicídio como desafio aos conceitos habituais de perversão a partir da vida e obra de Guilherme de Faria), Laura Ferreira dos Santos (demasiado simplista e parcial na sua visão sobre a morte assistida e a sua perversidade ou não) e José Tolentino de Mendonça (magnífico na abordagem dos Irmãos Karamazov, de Dostoiévski, nas citações bíblicas presentes nesse livro e na sua proposta de desfatalização da perversão a partir do amor/agapê intuído pelo cristianismo). Além de sair a pensar nas diferentes intervenções, reflecti que a universidade é este espaço de pensamento sem condições nem limites, sem se vergar a utilitarismos económicos nem a asfixias estatais. É um espaço de liberdade. Assim a deixem ser...
Hoje celebra-se o 35º aniversário da Revolução do 25 de Abril. A liberdade é o grande valor democrático e civilizacional que Portugal ainda não aprendeu completamente. Somos centralistas e esperamos tudo do estado: que nos sustente, que nos dê tudo, que nos diga o que devemos fazer, que nos eduque, que nos trate da saúde, que dite formas de agir morais, que seja o nosso "pai". Nisso ainda estamos a aprender a liberdade. Mas poder dizer isto é magnífico. Vivermos num regime que, em duas semanas, faz progredir na carreira militar duas figuras tão opostas politica e humanamente como Jaime Neves e Otelo Saraiva de Carvalho é um regime que sabe o que é a democracia e que aprende a crescer em liberdade.
Hoje, mais que um dia histórico, celebro a liberdade de tudo questionar, de tudo debater e de recusar que pensem por mim e que pensem que sabem o que é melhor para mim do que eu próprio. E muito menos que esse ser pensante seja o estado. Viva a liberdade.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Começa bem o dia...
São 8,24h. Existem manhãs assim: acordei, tomei o pequeno almoço e abri o computador para ver os mails, o jornal diário e os blogs dos amigos e dos que sou assíduo leitor. E eis que no blog do Público religionline, dirigido pelo jornalista especialista em assuntos religiosos António Marujo, para mim o melhor em Portugal, encontro esta história de vida de Tony Meléndez. São pouco mais de seis minutos que valem a pena. E esta manhã é feliz porque me falou de Ti Senhor. Já agora um desafio: digam-me depois o que é um milagre...
Não deixem de clicar aqui em baixo:
Tony Meléndez
Não deixem de clicar aqui em baixo:
Tony Meléndez
segunda-feira, 20 de abril de 2009
II Domingo de Páscoa
O texto de domingo sobre as duas aparições de Jesus, em que se sublinha a figura do incrédulo Tomé, sempre foi um texto que me deixou incomodado perante a habitual leitura de que Tomé era um descrente e que felizes eramos nós, hoje, porque acreditávamos sem ver. E lá ficavam os cristãos do meu tempo todos satisfeitos como se isso fosse a sua realidade. Ora não é assim.
Vamos por partes. Naquele dia, o primeiro da semana, o primeiro de uma nova humanidade, quem é que não estava naquela sala? Tomé, respondem. E se eu disser que era cada um de nós de que Tomé é simplesmente sinal, simbolo colectivo! É aqui que está o cerne da questão. Ele é o dídimo, o gémeo, o igual a nós crentes da última hora. E não é isto bem verdade? Não vivemos nós os tempos de que só o que se prova é que é real? Não dizemos nós que só no que vejo é que acredito? Não pedimos nós, influenciados pela fá bacoca e inabalável nesse mito que é a ciência, provas para Deus, provas para a ressurreição, provas para a vida eterna? (sabem quantos cristãos em Espanha acreditam na vida eterna? Menos de 50%. A minha experiência pastoral diz-me que entre os nossos cristãos o número não deve ser muito diferente!)
Somos filhos da suspeita, do primado da razão e da arrogância do poder dos sentidos. A razão não nos engana? Os sentidos não nos traem? O coração não nos levou tantas vezes por caminhos errados? A ciência não se desdisse vezes sem conta? E a tecnologia e o progresso respondem-nos às questões do sentido? Seremos hoje mais felizes que os nossos antepassados?
Temos que pedir nesta Páscoa (vão ser cinquenta dias) ao Senhor que nos ensine a acreditar. Só temos razões para acreditar: é porque vemos a vida à nossa volta, é porque temos os pés bem assentes na terra, é porque não nos é indiferente o nosso sofrimento e o sofrimento do inocente que cremos que o Senhor está vivo e que este Deus, que é nosso e por nós, quer-nos tanto que não nos é capaz de nos abandonar nem na morte. Porque vemos o mundo acreditamos e porque acreditamos vemos.
Vamos por partes. Naquele dia, o primeiro da semana, o primeiro de uma nova humanidade, quem é que não estava naquela sala? Tomé, respondem. E se eu disser que era cada um de nós de que Tomé é simplesmente sinal, simbolo colectivo! É aqui que está o cerne da questão. Ele é o dídimo, o gémeo, o igual a nós crentes da última hora. E não é isto bem verdade? Não vivemos nós os tempos de que só o que se prova é que é real? Não dizemos nós que só no que vejo é que acredito? Não pedimos nós, influenciados pela fá bacoca e inabalável nesse mito que é a ciência, provas para Deus, provas para a ressurreição, provas para a vida eterna? (sabem quantos cristãos em Espanha acreditam na vida eterna? Menos de 50%. A minha experiência pastoral diz-me que entre os nossos cristãos o número não deve ser muito diferente!)
Somos filhos da suspeita, do primado da razão e da arrogância do poder dos sentidos. A razão não nos engana? Os sentidos não nos traem? O coração não nos levou tantas vezes por caminhos errados? A ciência não se desdisse vezes sem conta? E a tecnologia e o progresso respondem-nos às questões do sentido? Seremos hoje mais felizes que os nossos antepassados?
Temos que pedir nesta Páscoa (vão ser cinquenta dias) ao Senhor que nos ensine a acreditar. Só temos razões para acreditar: é porque vemos a vida à nossa volta, é porque temos os pés bem assentes na terra, é porque não nos é indiferente o nosso sofrimento e o sofrimento do inocente que cremos que o Senhor está vivo e que este Deus, que é nosso e por nós, quer-nos tanto que não nos é capaz de nos abandonar nem na morte. Porque vemos o mundo acreditamos e porque acreditamos vemos.
sábado, 18 de abril de 2009
Oito Dias Depois
E passaram oito dias sobre a manhã de Páscoa e voltamos ao ritmo das nossas vidas. Voltamos àquela percepção de que nada mudou, de que o mundo continua mergulhado nas suas já longas e profundas feridas que nenhum desenvolvimento se mostra capaz de sarar, de que este país aprofunda a sua histórica melancolia que lhe impede de olhar o horizonte como desafio e que resignadamente apenas aponta para as nuvens negras que se levantam.
Foi uma semana sem história em que alguns me escreveram contando seus sucessos pessoais e muitos me pediram ajuda para os salvar de naufrágios iminentes. Cada vez estou mais certo que precisamos da salvação que nos vem do alto. Só ela nos possibilita olhar o outro como um irmão, a sentir o sofrimento alheio e a querer ser protagonista da solidariedade, da bondade e da caridade. Só ela nos alimenta a esperança.
Termino este texto oferecendo-vos uma curta metragem premiada que descobri no insubstituível blog de Laurinda Alves. Para o entender é necessário saber inglês, mas se não for esse o seu caso peça a alguém que saiba que partilhe três minutos consigo. E se mesmo isso não for possível, veja na mesma, as imagens e a música valem a pena. É só clicar em baixo.
Nenhum homem é uma ilha
Foi uma semana sem história em que alguns me escreveram contando seus sucessos pessoais e muitos me pediram ajuda para os salvar de naufrágios iminentes. Cada vez estou mais certo que precisamos da salvação que nos vem do alto. Só ela nos possibilita olhar o outro como um irmão, a sentir o sofrimento alheio e a querer ser protagonista da solidariedade, da bondade e da caridade. Só ela nos alimenta a esperança.
Termino este texto oferecendo-vos uma curta metragem premiada que descobri no insubstituível blog de Laurinda Alves. Para o entender é necessário saber inglês, mas se não for esse o seu caso peça a alguém que saiba que partilhe três minutos consigo. E se mesmo isso não for possível, veja na mesma, as imagens e a música valem a pena. É só clicar em baixo.
Nenhum homem é uma ilha
domingo, 12 de abril de 2009
Domindo da Páscoa da Ressurreição de Jesus
Na primeira Páscoa (a judaica) descobre-se um Deus que não aceita a opressão: "Cantemos ao Senhor que Se Revestiu de Glória" cantávamos há pouca horas plenos de entusiasmo em Vigília Pascal.
Na Páscoa que hoje celebramos (a de toda a humanidade) percebemos que Deus não tolera a morte. Que Deus não abandona ninguém ao poder absurdo de uma vida para a morte definitiva. Que Deus não deixa cair no abismo do vazio o sangue de um inocente, o sangue de um justo, o sangue de um amante. Deus hoje diz-nos claramente: "Esse Jesus a quem tantas vezes o abandonais, o traís, e, cansados de esperar, regressais à antiga vida. A esse Jesus a quem tantas vezes pretendestes silenciar o seu modo de ser e falar está vivo e é o único futuro. Jesus é o futuro! Este é o primeiro dia de uma nova criação que está nas vossas mãos tornar possível. Por isso, Ele, o meu Filho, está convosco vivo e companheiro".
A Páscoa é o rasgar dos nossos limites, é o não nos contentarmos com um cadáver, é o não aceitarmos os factos consumados, é o não pactuarmos com as fronteiras e os limites porque o que nos constitui homens é esta insatisfação permanente, é esta vontade de ir mais além, é esta vontade de transgredir todas as metas. E a Ressurreição de Jesus diz-nos que estamos abertos ao infinito, que estamos lançados para um futuro maior, que estamos lançados para a eternidade e que é por isso que nada aqui nos enche, nada nos sacia, nada nos realiza porque a nossa pátria e o nosso tempo são a grande manhã de Páscoa feita pelas mãos de Deus. Este é o oitavo dia. Este é o verdadeiro dia criado pelas mãos de Deus. Para um dia assim todos nós nascemos. Por isso, VIVA A VIDA!
Para todos os amigos que aqui se abeiram uma Santa Páscoa.
Na Páscoa que hoje celebramos (a de toda a humanidade) percebemos que Deus não tolera a morte. Que Deus não abandona ninguém ao poder absurdo de uma vida para a morte definitiva. Que Deus não deixa cair no abismo do vazio o sangue de um inocente, o sangue de um justo, o sangue de um amante. Deus hoje diz-nos claramente: "Esse Jesus a quem tantas vezes o abandonais, o traís, e, cansados de esperar, regressais à antiga vida. A esse Jesus a quem tantas vezes pretendestes silenciar o seu modo de ser e falar está vivo e é o único futuro. Jesus é o futuro! Este é o primeiro dia de uma nova criação que está nas vossas mãos tornar possível. Por isso, Ele, o meu Filho, está convosco vivo e companheiro".
A Páscoa é o rasgar dos nossos limites, é o não nos contentarmos com um cadáver, é o não aceitarmos os factos consumados, é o não pactuarmos com as fronteiras e os limites porque o que nos constitui homens é esta insatisfação permanente, é esta vontade de ir mais além, é esta vontade de transgredir todas as metas. E a Ressurreição de Jesus diz-nos que estamos abertos ao infinito, que estamos lançados para um futuro maior, que estamos lançados para a eternidade e que é por isso que nada aqui nos enche, nada nos sacia, nada nos realiza porque a nossa pátria e o nosso tempo são a grande manhã de Páscoa feita pelas mãos de Deus. Este é o oitavo dia. Este é o verdadeiro dia criado pelas mãos de Deus. Para um dia assim todos nós nascemos. Por isso, VIVA A VIDA!
Para todos os amigos que aqui se abeiram uma Santa Páscoa.
sábado, 11 de abril de 2009
Reflexões e Memórias Diante de um Túmulo
O sábado santo é o dia do silêncio do sepulcro, é o dia em que o grupo dos discípulos de Jesus abre brechas por todos os lados. O violento impacto da Sua morte e do comportamento negacionista, traidor e medroso dos Seus companheiros ribombeia ininterruptamente nas suas cabeças.É o dia de trazer à memória, já que o coração está desfeito, a vida d`Aquele homem fascinante.
Podíamos resumir (muito resumidamente) a Sua vida em cinco eixos:
Quantos de nós já pensamos assim? Na verdade, estamos quase sempre em Sábado Santo: houve uma sexta-feira santa (e são tantas as que permanecem) e parece que tarda o definitivo domingo pascal da humanidade.
Tudo isto trazemos à memória porque o passado não nos é indiferente. Somos seus filhos e com ele podemos acreditar no futuro. Mais, podemos transformar o futuro.
E porque sou filho do meu passado e com ele lanço-me no futuro e acredito que irá ser melhor, partilho convosco mais duas fotografias do ensaio de há cinco anos para a vigília pascal da paróquia de Válega. Naquele altar feito túmulo vazio se nos abriram os olhos e fizemos a experiência do ressuscitado. E eramos muitos. E estávamos alegres. E celebramos a vida.
Não, não é saudosismo. É um desafio para viver a mesma alegria interior na exterioridade tão pobre e tão fria de tantas celebrações. E garanto-vos que esta memória (com muitas outras e de outras paragens) me aquece o coração e não me permite desanimar nem desistir.
Podíamos resumir (muito resumidamente) a Sua vida em cinco eixos:
- O Reino de Deus, centro das suas palavras e dos seus gestos, que mais não é que a utopia de uma comunidade humana baseada na justiça (das bem-aventuranças), na paz, na verdade, na liberdade e nos amor.
- A Sua relação com Deus, a quem chamava de "Abba" porque se sentia seu filho, baseada na confiança, no amor e na obediência.
- A Sua relação com os homens com quem cultivava uma proximidade absoluta, sem acepção de pessoas, apesar da Sua dedicação especial aos marginalizados do seu tempo (mulheres, pecadores, pobres e crianças).
- A Sua postura diante da lei que aprova quando está ao serviço do homem. Mas que reprova violentamente quando coloca o homem numa posição de escravo.
- Finalmente, a Sua atitude diante do templo, que respeita como espaço de encontro com Deus, que relativiza porque não é o único espaço de encontro com o Pai e que recusa quando se converte em antro de ladrões e de insensíveis ao sofrimento do homem.
Quantos de nós já pensamos assim? Na verdade, estamos quase sempre em Sábado Santo: houve uma sexta-feira santa (e são tantas as que permanecem) e parece que tarda o definitivo domingo pascal da humanidade.
Tudo isto trazemos à memória porque o passado não nos é indiferente. Somos seus filhos e com ele podemos acreditar no futuro. Mais, podemos transformar o futuro.
E porque sou filho do meu passado e com ele lanço-me no futuro e acredito que irá ser melhor, partilho convosco mais duas fotografias do ensaio de há cinco anos para a vigília pascal da paróquia de Válega. Naquele altar feito túmulo vazio se nos abriram os olhos e fizemos a experiência do ressuscitado. E eramos muitos. E estávamos alegres. E celebramos a vida.
Não, não é saudosismo. É um desafio para viver a mesma alegria interior na exterioridade tão pobre e tão fria de tantas celebrações. E garanto-vos que esta memória (com muitas outras e de outras paragens) me aquece o coração e não me permite desanimar nem desistir.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Uma Reflexão e Uma Recordação em Sexta-Feira Santa
Ao contemplarmos Aquele que trespassaram podemos pensar que foram as suas dores e a sua morte que nos salvaram. Mas não! Foram o seu amor, a sua entrega, a sua lealdade ao Pai e a sua amizade a cada um de nós ("Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos". Jo 15, 13) que nos curaram. Eramos habitantes do limite. E o maior limite era a morte. Hoje celebramos e recordamos a transformação do limite em limiar. Aí se abrem todos os horizontes. Num tempo em que os horizontes parecem carregados e sem perspectivas, eis que o mistério da cruz (não um enigma que se decifra, mas um mistério) nos convida a entrar no seu íntimo, a interrogar, a guardar silêncio e a acreditar na possibilidade da vida.
Há cinco anos, em Válega, celebramos a paixão com uma linguagem original, com profundidade reflexiva, com densidade de sentido (com arte). Oferecemos o que jamais tinham visto. Recusamo-nos a repetir. Trago essa recordação aqui porque encontrei algumas fotos dos ensaios que enriqueceram este dia. Que pena que o belo nem sempre faça tradição.
Há cinco anos, em Válega, celebramos a paixão com uma linguagem original, com profundidade reflexiva, com densidade de sentido (com arte). Oferecemos o que jamais tinham visto. Recusamo-nos a repetir. Trago essa recordação aqui porque encontrei algumas fotos dos ensaios que enriqueceram este dia. Que pena que o belo nem sempre faça tradição.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Quatro Recordações para Quinta-Feira Santa
Dentro de uma hora inicia-se, na Sé Catedral do Porto, a Missa Crismal onde, além da bênção, para mais um ano, dos óleos do crisma, dos catecúmenos e dos enfermos, se faz a renovação das promessas sacerdotais. Lá estarão presentes grande parte dos bispos, dos sacerdotes e dos diáconos que servem a Igreja de Jesus Cristo em caminho nestas terras da Diocese do Porto. Eu, que participei muitos anos nessa celebração e que lá tenho muitos amigos, coloco-os a todos, nas minhas orações, aos pés dAquele que nos "amou até ao fim".
Hoje é um dia de recordações (recordare-trazer de novo ao coração). Quando estava em Santo Tirso, celebrava a quinta-feira santa na paróquia de Lamelas, com a presença das outras duas paróquias que tinha: o coro era dos coros das três paróquias, os leitores, os acólitos e as pessoas do lava-pés também. Mas como a igreja paroquial de Lamelas era muito pequena, celebrávamos a Ceia do Senhor numa enorme tenda colocada no átrio da igreja. Mesmo assim a tenda (tenda da reunião como Moisés no deserto, o "nosso tabernáculo" como muitos a apelidavam) era pequena para o número de pessoas que ali afluía. Dava muito trabalho a muita gente, mas era um momento único. Soube há meses que deixaram de fazer esta celebração na tenda porque o número de pessoas não justificava. Voltaram para a pequena e restaurada igreja. Por vezes, parece-me que muita gente está a andar para trás e a restaurar passados. Espero estar enganado.
Repetir o gesto de lavar os pés de Jesus era um dos momentos de maior estremecimento interior que todos os anos experimentava. E vivia-o como a confirmação da renovação das promessas sacerdotais que tinha feito de manhã, na missa crismal. Hoje interiormente renovo todas as minhas promessas passadas e deixo silenciosa e compungidamente que o Senhor me abrace os pés porque a firmeza do meu andar e a generosidade da minha oferta de vida dependem desse gesto de pobreza e doação de que a cruz será consumação.
Jesus disse-lhes: "Dei-vos o exemplo, para que assim como Eu fiz, vós façais também". (Jo 13, 15).
Jesus disse-lhes: "Fazei isto em minha memória" (Lc 22, 19).
A fé cristã celebra-se no culto (fazer memória) e concretiza-se nos gestos solidários com os outros (Dei-vos o exemplo).
Missas sem lavarmos os pés uns aos outros é como um cristianismo sem cruz.
Hoje é um dia de recordações (recordare-trazer de novo ao coração). Quando estava em Santo Tirso, celebrava a quinta-feira santa na paróquia de Lamelas, com a presença das outras duas paróquias que tinha: o coro era dos coros das três paróquias, os leitores, os acólitos e as pessoas do lava-pés também. Mas como a igreja paroquial de Lamelas era muito pequena, celebrávamos a Ceia do Senhor numa enorme tenda colocada no átrio da igreja. Mesmo assim a tenda (tenda da reunião como Moisés no deserto, o "nosso tabernáculo" como muitos a apelidavam) era pequena para o número de pessoas que ali afluía. Dava muito trabalho a muita gente, mas era um momento único. Soube há meses que deixaram de fazer esta celebração na tenda porque o número de pessoas não justificava. Voltaram para a pequena e restaurada igreja. Por vezes, parece-me que muita gente está a andar para trás e a restaurar passados. Espero estar enganado.
Repetir o gesto de lavar os pés de Jesus era um dos momentos de maior estremecimento interior que todos os anos experimentava. E vivia-o como a confirmação da renovação das promessas sacerdotais que tinha feito de manhã, na missa crismal. Hoje interiormente renovo todas as minhas promessas passadas e deixo silenciosa e compungidamente que o Senhor me abrace os pés porque a firmeza do meu andar e a generosidade da minha oferta de vida dependem desse gesto de pobreza e doação de que a cruz será consumação.
Jesus disse-lhes: "Dei-vos o exemplo, para que assim como Eu fiz, vós façais também". (Jo 13, 15).
Jesus disse-lhes: "Fazei isto em minha memória" (Lc 22, 19).
A fé cristã celebra-se no culto (fazer memória) e concretiza-se nos gestos solidários com os outros (Dei-vos o exemplo).
Missas sem lavarmos os pés uns aos outros é como um cristianismo sem cruz.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Um Sentido
Depois de um fim-de-semana de emoções fortes (no domingo estive com os meus irmãos, a minha mãe e as minhas sobrinhas) tenho vivido estes primeiros dias da semana santa a organizar apontamentos da faculdade, a estudar e a ler. Na solidão dos meus dias experimento a falta da tensão que vivia nestas alturas quando preparava com afinco e entusiasmo as celebrações do tríduo pascal. Nessa altura mal tinha tempo para reflectir e rezar, hoje, com tempo em abundância, preciso de algo que torne fecunda esta abundância para que as imensas coisas que pululam a minha reflexão encontrem ordem, expressão e sentido.
Ontem estive a ler umas coisas sobre Viktor Frankl, fundador da chamada logoterapia, um terceira corrente da psicoterapia. Ele que passou por Auschwitz, onde perdeu a mãe, o pai e a esposa defendia que o impulso primário da pessoa não é nem o prazer nem a vontade de poder, mas a vontade de sentido: "A realidade humana refere-se sempre a algo para lá de si mesma. Está dirigida para algo que não é ela mesma. Os seres humanos procuram mais para lá de si mesmos: um sentido no mundo. Procuram encontrar um significado a realizar, uma causa a servir, uma pessoas a quem amar. E só assim os seres humanos se comportam como verdadeiros humanos". No campo de concentração descobriu aquilo que ninguém pode tirar a uma homem: "a última das liberdades humanas - a escolha da atitude pessoal perante um conjunto de circunstâncias - para decidir o seu próprio caminho. (...) Essa tríade trágica na qual se incluem a dor, a culpa e a morte, pode chegar a transformar-se em algo de positivo, quando se enfrenta com a postura e a atitude correctas."
A falta de sentido é a fonte da dor, do desnorte, das crises (seja económicas, sociais, culturais, politicas, familiares ou pessoais), do vazio e do tédio do nosso tempo. Nesta semana nós, os cristãos, apresentamos ao mundo o núcleo do sentido da nossa vida. Será que temos disso noção? Será que fazemos a diferença? Não andam tantos de nós preocupados em cumprir as tradições que são vistas pelos nossos contemporâneos, na melhor das hipóteses, como um folclore revivalista que observam como turistas em busca de originalidades em extinção? São isso respostas à procura de sentido? Que experiência religiosa proporcionaremos aos que nestes dias afluírem às nossas igrejas? E cada um de nós pessoalmente como os viverá? Sorvendo-os ansiosamente como umas férias que escorregam por entre os dedos? Esparramando-se no sofá fazendo zapping até adormecer? Comentando as incidências futebolísticas ao lado das incidências das celebrações que assistimos mas em que não participamos nem vivenciamos? Tudo isto só serve para reprimir a nossa sede de sentido. E se nós os crentes não nos sentimos saciados, quem a saciará?
Como os discípulos à mesa da última ceia, espantados com o anuncio da traição de um deles, sinto que todos podemos dizer: "Serei eu Senhor?"
Ontem estive a ler umas coisas sobre Viktor Frankl, fundador da chamada logoterapia, um terceira corrente da psicoterapia. Ele que passou por Auschwitz, onde perdeu a mãe, o pai e a esposa defendia que o impulso primário da pessoa não é nem o prazer nem a vontade de poder, mas a vontade de sentido: "A realidade humana refere-se sempre a algo para lá de si mesma. Está dirigida para algo que não é ela mesma. Os seres humanos procuram mais para lá de si mesmos: um sentido no mundo. Procuram encontrar um significado a realizar, uma causa a servir, uma pessoas a quem amar. E só assim os seres humanos se comportam como verdadeiros humanos". No campo de concentração descobriu aquilo que ninguém pode tirar a uma homem: "a última das liberdades humanas - a escolha da atitude pessoal perante um conjunto de circunstâncias - para decidir o seu próprio caminho. (...) Essa tríade trágica na qual se incluem a dor, a culpa e a morte, pode chegar a transformar-se em algo de positivo, quando se enfrenta com a postura e a atitude correctas."
A falta de sentido é a fonte da dor, do desnorte, das crises (seja económicas, sociais, culturais, politicas, familiares ou pessoais), do vazio e do tédio do nosso tempo. Nesta semana nós, os cristãos, apresentamos ao mundo o núcleo do sentido da nossa vida. Será que temos disso noção? Será que fazemos a diferença? Não andam tantos de nós preocupados em cumprir as tradições que são vistas pelos nossos contemporâneos, na melhor das hipóteses, como um folclore revivalista que observam como turistas em busca de originalidades em extinção? São isso respostas à procura de sentido? Que experiência religiosa proporcionaremos aos que nestes dias afluírem às nossas igrejas? E cada um de nós pessoalmente como os viverá? Sorvendo-os ansiosamente como umas férias que escorregam por entre os dedos? Esparramando-se no sofá fazendo zapping até adormecer? Comentando as incidências futebolísticas ao lado das incidências das celebrações que assistimos mas em que não participamos nem vivenciamos? Tudo isto só serve para reprimir a nossa sede de sentido. E se nós os crentes não nos sentimos saciados, quem a saciará?
Como os discípulos à mesa da última ceia, espantados com o anuncio da traição de um deles, sinto que todos podemos dizer: "Serei eu Senhor?"
domingo, 5 de abril de 2009
Domingo de Ramos
Hoje a paixão de Jesus segundo S. Marcos deveria ser lida na sua forma longa em todas as Igrejas porque só ela consegue passar a paleta de cores com que o evangelista mais próximo, no tempo, de Jesus pinta este momento marcante e decisivo da vida de toda a humanidade. Nessa forma longa admiramos a unção de Betânia, o "serei eu" de cada discípulo na hora em que Jesus anuncia que um deles o trairá, a agonia do horto e a perplexidade dos discípulos. Ao lermos a forma longa percebemos que depois de preso Jesus apenas fala três vezes: diante do poder religioso afirma-se filho de Deus ("Eu Sou"); diante do poder político afirma-se Rei ("É como dizes"); e diante do Pai ora ("Meu Deus, Meu Deus porque me abandonaste?"). Três vezes Pedro o nega. Três vezes é tentado na cruz: pelos que passavam, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos ladrões. Três mulheres são citadas ao pé da cruz. E Três pessoas viram a pedra rolar sobre o túmulo.
Jesus é morto pelos religiosos e pelo poder político do seu tempo ("Escândalo para judeus e loucura para gentios"). Jesus é morto por uma conveniente e conivente aliança entre os dois poderes deste mundo: religião e política (no sentido de forma de vida da cidade, no sentido de cultura). Porque aos primeiros é insuportável um Deus connosco, um Deus amor, perdão, bom, desinstalador. Aos segundos, não vale a pena lutar pelo justo, pelo inocente, pela verdade porque tudo é relativo, tudo passa rapidamente, tudo, na vida, não passa de um jogo de toma-lá-dá-cá, de negociações, de cedências e compromissos. Nada é permanente. Nada é essencial.
E foi um soldado pagão, um homem que já tinha visto morrer às suas mãos tantos outros homens, o único, que em todo o Evangelho de Marcos, reconheceu, ao ve-lO assim expirar, quem era aquele desfigurado crucificado: "Na verdade, este homem era Filho de Deus". Como és surpreendente, Senhor!
Termino com o Salmo 21 (22), aquele que Jesus rezou ao Pai na cruz. Com esse salmo me uno na sua oração por todos os inocentes e sofredores deste mundo.
Jesus é morto pelos religiosos e pelo poder político do seu tempo ("Escândalo para judeus e loucura para gentios"). Jesus é morto por uma conveniente e conivente aliança entre os dois poderes deste mundo: religião e política (no sentido de forma de vida da cidade, no sentido de cultura). Porque aos primeiros é insuportável um Deus connosco, um Deus amor, perdão, bom, desinstalador. Aos segundos, não vale a pena lutar pelo justo, pelo inocente, pela verdade porque tudo é relativo, tudo passa rapidamente, tudo, na vida, não passa de um jogo de toma-lá-dá-cá, de negociações, de cedências e compromissos. Nada é permanente. Nada é essencial.
E foi um soldado pagão, um homem que já tinha visto morrer às suas mãos tantos outros homens, o único, que em todo o Evangelho de Marcos, reconheceu, ao ve-lO assim expirar, quem era aquele desfigurado crucificado: "Na verdade, este homem era Filho de Deus". Como és surpreendente, Senhor!
Termino com o Salmo 21 (22), aquele que Jesus rezou ao Pai na cruz. Com esse salmo me uno na sua oração por todos os inocentes e sofredores deste mundo.
- 2Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste,
- rejeitando o meu lamento, o meu grito de socorro?
- 3Meu Deus, clamo por ti durante o dia e não me respondes;
- durante a noite, e não tenho sossego.
- 4Tu, porém, és o Santo
- e habitas na glória de Israel.
- 5Em ti confiaram os nossos pais;
- confiaram e Tu os libertaste.
- 6A ti clamaram e foram salvos;
- confiaram em ti e não foram confundidos.
- 7Eu, porém, sou um verme e não um homem,
- o opróbrio dos homens e o desprezo da plebe.
- 8Todos os que me vêem escarnecem de mim;
- estendem os lábios e abanam a cabeça.
- 9«Confiou no SENHOR, Ele que o livre;
- Ele que o salve, já que é seu amigo.»
- 10Na verdade, Tu me tiraste do seio materno;
- puseste-me em segurança ao peito de minha mãe.
- 11Pertenço-te desde o ventre materno;
- desde o seio de minha mãe, Tu és o meu Deus.
- 12Não te afastes de mim, porque estou atribulado
- e não há quem me ajude.
- 13Rodeiam-me touros em manada;
- cercam-me touros ferozes de Basan.
- 14Abrem contra mim as suas fauces,
- como leão que despedaça e ruge.
- 15Fui derramado como água;
- e todos os meus ossos se desconjuntaram;
- o meu coração tornou-se como cera
- e derreteu-se dentro do meu peito.
- 16A minha garganta secou-se como barro cozido
- e a minha língua pegou-se-me ao céu da boca;
- reduziste-me ao pó da sepultura.
- 17Estou rodeado por matilhas de cães,
- envolvido por um bando de malfeitores;
- trespassaram as minhas mãos e os meus pés:
- 18posso contar todos os meus ossos.
- Eles olham para mim cheios de espanto!
- 19Repartem entre si as minhas vestes
- e sorteiam a minha túnica.
- 20Mas Tu, SENHOR, não te afastes de mim!
- És o meu auxílio: vem socorrer-me depressa!
- 21Livra a minha alma da espada,
- e, das garras dos cães, a minha vida.
- 22Salva-me da boca dos leões;
- livra-me dos chifres dos búfalos.
- 23Então anunciarei o teu nome aos meus irmãos
- e te louvarei no meio da assembleia.
- 24Vós, que temeis o SENHOR, louvai-o!
- Glorificai-o, descendentes de Jacob!
- Reverenciai-o, descendentes de Israel!
- 25Pois Ele não desprezou nem desdenhou a aflição do pobre,
- nem desviou dele a sua face;
- mas ouviu-o, quando lhe pediu socorro.
- 26De ti vem o meu louvor na grande assembleia;
- cumprirei os meus votos na presença dos teus fiéis.
- 27Os pobres comerão e serão saciados;
- louvarão o SENHOR, os que o procuram.
- «Vivam para sempre os vossos corações.»
- 28Hão-de lembrar-se do SENHOR e voltar-se para Ele
- todos os confins da terra;
- hão-de prostrar-se diante dele
- todos os povos e nações,
- 29porque ao SENHOR pertence a realeza.
- Ele domina sobre todas as nações.
- 30Diante dele hão-de prostrar-se todos os grandes da terra;
- diante dele hão-de inclinar-se todos os que descem ao pó
- e assim deixam de viver.
- 31Uma nova geração o servirá
- e narrará aos vindouros as maravilhas do Senhor;
- 32ao povo que vai nascer dará a conhecer a sua justiça,
- contará o que Ele fez.
sábado, 4 de abril de 2009
Regresso
Cheguei há duas horas da Casa da Torre, em Soutelo, onde passei o dia a orientar as reflexões deste sábado de retiro que um grupo, formado por catecúmenos do Centro Catecúmenal do Porto e por alunos do Colégio Luso-Francês, aceitou realizar para melhor viver o tempo forte que se avizinha. Foi um regresso a uma casa onde vivi momentos marcantes e inesquecíveis. E este foi mais um deles.
Quando o José Rui Teixeira me convidou para este trabalho foi com prontidão e entusiasmo que o aceitei. Foi um gesto de confiança e de caridade cristã que jamais esquecerei. Foi um dia em que confirmei que o estado de uma pessoa não é decisivo nem indispensável para se levar à prática uma frase tão antiga como marcante para mim: "É necessário que Ele cresça e eu diminua".
Foi também um sábado em que revi um amigo (daqueles que não vemos há muito mas que não esquecem nem se esquecem) com quem há muito não conversava: o Joaquim Paulo Silva (Juca).
Agradeço ao Senhor a Sua bondade e misericórdia por continuar-me a chamar e a inspirar para trabalhar na sua messe. Peço ao Senhor por todos aqueles com quem hoje partilhei a minha fé e a Sua palavra: que Te encontrem. Que Te experimentem. Que se deixem tocar por Ti. Que vivam de tal forma que Tu, Senhor, e os outros os queiram para sempre.
Que bem começou esta Semana Santa! É tudo Graça.
Quando o José Rui Teixeira me convidou para este trabalho foi com prontidão e entusiasmo que o aceitei. Foi um gesto de confiança e de caridade cristã que jamais esquecerei. Foi um dia em que confirmei que o estado de uma pessoa não é decisivo nem indispensável para se levar à prática uma frase tão antiga como marcante para mim: "É necessário que Ele cresça e eu diminua".
Foi também um sábado em que revi um amigo (daqueles que não vemos há muito mas que não esquecem nem se esquecem) com quem há muito não conversava: o Joaquim Paulo Silva (Juca).
Agradeço ao Senhor a Sua bondade e misericórdia por continuar-me a chamar e a inspirar para trabalhar na sua messe. Peço ao Senhor por todos aqueles com quem hoje partilhei a minha fé e a Sua palavra: que Te encontrem. Que Te experimentem. Que se deixem tocar por Ti. Que vivam de tal forma que Tu, Senhor, e os outros os queiram para sempre.
Que bem começou esta Semana Santa! É tudo Graça.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Três Breves Notas de Uma Semana a Terminar
Ontem foi o meu último dia de aulas antes das breves férias da Páscoa (só a semana santa). Hoje vou dedicar-me por inteiro a preparar o retiro que amanhã vou orientar, na Casa da Torre, em Soutelo, Vila Verde. Vai ser uma oportunidade não só para parar um pouco, mas também para voltar a propor a lectio divina como método de encontro com Deus. Não é possível ser cristão sem fazer a experiência de Jesus Cristo. Vou tentar que o consigamos.
No domingo fui almoçar a casa de uma família de Válega que, há anos, insistia para nos encontrarmos. Estavam lá também outros ex-paroquianos. Como sempre foi uma experiência marcante. Eles são uma família de lavradores directos, simples, fiéis e de uma solidez impressionante. Ao regressar a casa perguntava-me porque é que gostavam tanto de mim? Só estive em Válega quinze meses, fui a casa deles talvez umas cinco vezes, porque me guardam com tanto carinho e saudade? Não lhes fiz nada de especial: ia a sua casa, comia com eles à mesa, visitava e conversava com o seu pai doente (que ainda me reconheceu) e convidei o filho para acólito e a filha andava num grupo de jovens. Nada mais. Mas talvez seja por tudo isso: tratei-os sempre como iguais, como irmãos, como família. Nada lhes perguntei, nada lhes exigi, nada inquiri. Apenas me sentei e me serviram. Partilhei da sua mesa e da sua vida. Tratei-os com a dignidade dos iguais. Onde aprendi a ser assim?
Na quarta a minha sobrinha Maria (na foto é a que está no meio) foi operada à garganta. As coisas que não foram fáceis e a recuperação vai ser exigente. Para ela um forte abraço e como sei que tem que comer muitos gelados e dos mais gelados aí vai um anúncio da pré-história, do tempo da mãe e dos tios, de que já todos nos rimos. É so clicar em baixo.
um spot gelado
No domingo fui almoçar a casa de uma família de Válega que, há anos, insistia para nos encontrarmos. Estavam lá também outros ex-paroquianos. Como sempre foi uma experiência marcante. Eles são uma família de lavradores directos, simples, fiéis e de uma solidez impressionante. Ao regressar a casa perguntava-me porque é que gostavam tanto de mim? Só estive em Válega quinze meses, fui a casa deles talvez umas cinco vezes, porque me guardam com tanto carinho e saudade? Não lhes fiz nada de especial: ia a sua casa, comia com eles à mesa, visitava e conversava com o seu pai doente (que ainda me reconheceu) e convidei o filho para acólito e a filha andava num grupo de jovens. Nada mais. Mas talvez seja por tudo isso: tratei-os sempre como iguais, como irmãos, como família. Nada lhes perguntei, nada lhes exigi, nada inquiri. Apenas me sentei e me serviram. Partilhei da sua mesa e da sua vida. Tratei-os com a dignidade dos iguais. Onde aprendi a ser assim?
Na quarta a minha sobrinha Maria (na foto é a que está no meio) foi operada à garganta. As coisas que não foram fáceis e a recuperação vai ser exigente. Para ela um forte abraço e como sei que tem que comer muitos gelados e dos mais gelados aí vai um anúncio da pré-história, do tempo da mãe e dos tios, de que já todos nos rimos. É so clicar em baixo.
um spot gelado
Subscrever:
Mensagens (Atom)