No texto deste domingo já encontramos Jesus em Jerusalém e a observar profundamente as motivações, os gestos e as palavras daqueles que deambulavam pelo templo. No evangelho de hoje, Jesus pede-nos uma opção entre duas formas de viver a fé ou melhor, pede-nos que nos analisemos e perguntemos o que fazemos quando celebramos e anunciamos a fé: fazemos teatro religioso ou damos a vida toda.
De um lado, temos o escribas e todos aqueles que usam a religião para se distinguirem dos outros, para alimentarem a aparência, para mascararem a fraternidade ("gostam de exibir longas vestes"); que usam a religião para serem reconhecidos pelos poderes instalados, elogiados pela sociedade e colocados em lugares de destaque (gostam "de receber cumprimentos nas praças"); que usam a religião para ocuparem os lugares reservados nas igrejas, ditarem leis nos sermões que mascaram frustrações e obsessões e alimentam vontades de poder e reconhecimento fúteis (gostam "de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas"); que usam a religião para ocuparem lugares em eventos que alimentam desigualdades sociais e que são autênticos escândalos para aqueles que não têm sequer o básico para subsistir (gostam "dos primeiros lugares nos banquetes"); que usam a religião para carregarem as pessoas com regras, obrigações e despesas que servem para alimentar o seu bem estar material e as suas contas bancárias ("Devoram as casas das viúvas com pretexto de fazerem longas rezas"). Deste lado temos o bom teatro religioso: tem sucesso, mas é falso; é aplaudido socialmente, mas é desprezado pelo íntimo dos homens; é devoto e pio, mas não habita o coração do Pai; tem futuro, mas nada dá e o que possui será comido pelos vermes e pelo tempo, respectivamente.
Do outro lado, temos aquela pobre viúva de quem, se a tradução estivesse bem feita, Jesus disse: "Esta pobre viúva deitou na caixa (das esmolas) mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, a sua vida toda". Deste lado, numa palavra, temos Jesus que dá o que tem, a sua própria vida para que o outro a tenha e a tenha em abundância.
Não é possível viver a fé cristã sem esta opção entre o teatro religioso e o dar a vida e a vida toda sem reservas. Dar tudo o que temos e somos. O resto, meus pacientes e fiéis leitores, é conversa. E conversa interesseira e interessada. Que Jesus os continue a denunciar...
domingo, 8 de novembro de 2009
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1 comentário:
"(...) fazemos teatro religioso ou damos a vida toda. (...)"
É um resumo fantástico, essencialmente quando tão poucos têm a noção do que significa "entregar tudo"...
Esvaziarmo-nos completamente do que faz de nós meras "personagens", não para dar lugar ao "vazio", mas para nos preenchermos de forma plena com aspectos e realidades que nos transcendem, mas que nos tornam mais humanos, na essência da expressão.
Seres com consciência do espaço envolvente e daqueles que nos rodeiam, porque coerentes na forma como mantêem equilibrio desta harmonia e porque abertos à acção de cada um e conscientes da sua própria intervenção.
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