Não deve existir nenhuma religião que, no dia em que celebra a solenidade do seu Deus como rei do universo, coloque como texto central da sua liturgia um interrogatório em que o poder político julga o próprio Deus, desconfiando não só do seu testemunho mas também da sanidade de tudo o que diz e faz.
Ora, ao escutarmos hoje Pilatos, numa aparente posição de superioridade, a interrogar Jesus sobre se ele é rei podemos ser levados a pensar, tal como o procurador romano pensava, que o mundo e os seus poderes julgam Jesus. Mas não. Quem está a ser julgado é Pilatos pois a decisão que tomar revelará o seu coração, colocará a nu aquilo que é, manifestará o que o move. E na verdade, na resposta final que dará a Jesus (omitida no Evangelho de hoje) - "Que é a verdade?" - Pilatos demonstra que em nada acredita, que a nada de maior entrega o seu coração, que em nada investe o seu poder, o seu sentido de justiça, a sua vida a não ser na perpetuação do seu poder tão vazio e corruptível como todos os poderes deste mundo. Pilatos mais não é do que a imagem de tantos de nós, que hoje não acreditamos que a verdade existe, não cremos que vale a pena lutar por valores maiores, que relativizamos tudo pensando que tudo tem o mesmo valor, que desisitimos de lutar por um reino sem guardas, sem senhores, sem poderosos, sem juizes que dispõe da vida do outro, sem desigualdades que alimentam rancores e projectos de vingança.
Assim, nós os cristãos, sabendo que o nosso reino não sendo do tipo dos deste mundo em que vivemos, somos chamados a construir um outro reino, o reino de Deus onde Jesus inspira, guia, acompanha os nossos passos com a sua palavra e com a sua presença. E não importa que poucos nos acompanhem, que muitos zombem de nós e que acabemos mortos sem ver o seu sucesso porque o que fazemos e construímos todos os dias é para a glória e salvação de todos os homens. Não é nem para os obrigar a aceitar Aquele que é a verdade nem para instalar uma teocracia cristã. Não, infelizmente esses já foram erros que cometemos no passado. O que fazemos é aproximar cada vez mais o reino anunciado por Jesus onde todos os de coração aberto à novidade e à alegria, à paz e ao acolhimento, ao perdão e ao amor terão lugar.
"Sou Rei" e venho para quem quiser escutar a minha voz. Eis a nossa missão: escutá-lo activamente, Hoje, aqui, na realidade dos nossos dias. E só assim Ele se tornará rei da nossa vida e do mundo à nossa volta. E assim aos poucos, ao sabor da história dos corações acolhedores de cada homem o reino do Senhor será uma realidade.
domingo, 22 de novembro de 2009
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1 comentário:
Trata-se de um Rei fora do vulgar... um Rei que continua hoje a não ser compreendido.
Será que alguém o olha como tal, conseguindo abstrair-se da ausência de um exército e do poder típico dos reis tradicionais e comuns...?
Para muitos uma personagem da história, para mim, O único em quem confiar, o único incapaz de potenciar a repetição de sofrimentos passados...
Face à incoerência e indiferença dos homens... fica o caminho aberto para Aquele que nunca defraudará as expectativas NELE depositadas...
Reaprender a confiar exclusivamente neste Rei sem exercito, mas que se revela como o único "porto seguro", aquele que não falha.
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