quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Filosofia(s)

No curso de filosofia estão bem latentes duas formas de abordagem da realidade: a da filosofia anglo-saxónica e a da chamada filosofia continental. A primeira segue os grandes mestres Ingleses (Hume, Locke, Russel, etc.) e é hoje a mais trabalhada nas grandes faculdades de filosofia dos E.U.A. e tem cada vez mais seguidores entusiastas no meio docente da nossa academia. No entanto, nota-se entre os alunos que comigo estudam um certo mal estar pela (aparente?) cedência da filosofia às ciências e à sua tentativa de se legitimar diante delas adoptando uma linguagem e uma relação pouco consentâneas com aquilo que deve ser o seu objecto e o seu método.
Em reacção a isto li no imprescindível blog do bispo D. António Couto um excerto de um livro de Edgar Morin em que ele reage contra o dogma da simplificação que ele considera consubstanciado nesta frase de Hobbes: "tudo o que existe tem três dimensões, a saber, comprimento, largura e altura, e aquilo que não tem três dimensões não existe nem está em parte alguma". Morin reage assim: "O dogma da simplificação que contém a morte continua a impor-se por aí como verdade científica (…), e continua a rejeitar para fora do saber aquilo que resiste ao seu controlo. E os defensores deste dogma vêem-nos como miseráveis, pedintes, esgadanhando os dejectos das suas lixeiras". E acrescenta depois de forma contundente: "Num sentido, eles têm razão: nós queremos recuperar e reciclar os dejectos que a sua ciência expulsa: não apenas o incerto, o impreciso, o ambíguo, o paradoxal, a contradição, mas também o ser, a existência, o indivíduo, o sujeito. Julgam deitar fora os excrementos do saber: não sabem que atiram para o lixo o ouro do tempo".
Na verdade, o que parece incomodar-nos, a nós meros aprendizes de filósofos, é a superficialidade de um certa filosofia e a sua cedência ao ar dos tempos que tenta reduzir o homem àquelas três dimensões, como se tudo fosse uma questão de posse ou de domínio. Parece-me que uma filosofia, tal como um olhar, que não ultrapasse o evidente não tenta conhecer a realidade.

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