Há trinta e quatro anos nasceu a minha irmã Inês. Lembro-me muito bem da minha primeira reacção quando soube que tinha mais uma irmã: fiquei rigorosamente zangado porque já me chegava a irreverente e irritante João, que, além de me ter tirado grande parte das atenções, tinha o tremendo vício de mexer nas minhas coisas. Assim, lá fui relutante à maternidade Júlio Dinis, ver a mãe e a minha nova irmã (e claro lá ia ao meu lado aos saltos e sempre a falar a inevitável João) e, tenho que reconhecer que diante da bebé deitada no pequeno berço ao lado da cama da minha mãe não fui capaz de reafirmar a minha repulsa por mais uma irmã. Como sempre os meus acessos interiores de fúria (ok, por vezes também eram exteriores) transformaram-se em conformação perante a inevitabilidade e perante a possibilidade (remota porque era uma menina) de esta nova irmã ser diferente da João e, quem sabe, minha aliada. Estávamos em 1975, em tempos que depois descobri serem conturbados e, conta a minha mãe, a Inês nasceu ao som de atentados bombistas e de muita confusão política que viria a culminar e a acalmar no 25 de Novembro.
Talvez por tudo isto (ser o terceiro filho, a segunda rapariga, tempos revolucionários em que muitas coisas ocupavam as preocupações das pessoas), a Inês teve que ser uma mulher de conquistas. Teve que conquistar a vida (porque no início não estava a ser fácil); teve que conquistar espaço e lugar para a sua personalidade desde sempre resoluta e decidida; teve que conquistar a sua liberdade, descobrindo que ela tem muitos preços; teve que conquistar confianças perdidas; teve e tem que conquistar o dia-a-dia ainda repleto de sonhos por concretizar. Como todas as lutadoras, esconde debaixo da sua energia forjada nas refregas destes trinta e quatro anos, uma desconcertante fragilidade sentimental que nos vem confirmar o que sempre suspeitávamos: que no peito dos grandes guerreiros bate um enorme coração.
Sabem, este é um privilégio dos irmãos mais velhos: ver crescer a nosso lado seres humanos maravilhosos. Parabéns sinceros para a minha irmã Maria Inês.
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
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1 comentário:
Ao ler o que escreves sobre a tua irmã Inês, das caracteristicas da sua personalidade, sinto que parte dessas palavras se encaixam na minha personalidade. Sou uma pessoa cheia de sonhos, lutadora, mas uma pessoa frágil que mostra uma força exterior grande, mas as "cascas da cebola" estão cada vez mais frageis.
Parabens a Inês! Para os seus irmãos por terem uma irmã como ela! Parabens a toda a tua familia por tu existires!
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