terça-feira, 13 de abril de 2010

A Propósito da Pedofilia na Igreja

Os três Evangelhos sinópticos citam uma frase eloquente de Jesus que me veio logo à memória quando há uns anos surgiram os primeiro casos de abuso sexual de menores por parte de alguns membros do clero católico: "E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar." (Mt 18, 6; Mc 9, 42; Lc 17, 1)
E este tem que ser o ponto de partida de qualquer reflexão de um católico sobre esta página negra da nossa Igreja. Não podemos ter contemplações: quem assim agiu só tem um caminho: a expulsão do ministério como pena canónica, a sua entrega às autoridades judiciais para aplicação da pena pública e a ajuda efectiva e dignificadora das vítimas. Se, no passado, isto não se fez, hoje, tal como sempre, o grito das vítimas o exige. Não pela amplificação mediática ao serviço dos mais desvairados interesses, mas pela dignidade humano, objecto predilecto do amor de Deus, única missão de uma Igreja que se quer de Jesus Cristo.
Mas, se formos honestos, não podemos ignorar que se hoje todo este escândalo se nos revela foi porque a maneira de agir da Igreja sobre este assunto mudou. E mudou não porque se soube publicamente. Mudou porque o segredo, a dissimulação e o ignorar a imoralidade dentro de portas não são o caminho. Mudou porque o cardeal Ratzinger (com quem estou muitas vezes em desacordo) assim o exigiu e reformulou toda uma prática canónica indigna de uma Igreja e mais própria de um partido político fossilizado e medroso da transparência.
Assim, não entendo (somente desconfio) o que pretendem alguns. Que a Igreja admita? Já o admitiu, penitenciou-se, encontrou-se com as vítimas e indemnizou-as. Que a Igreja peça perdão? Já o fez, por este e por muitos outros pecados da sua história, apesar de o pecado ser sempre um gesto pessoal. Que castigue? Já o fez, expulsando do ministério muitos dos seus clérigos. Que denuncie? É o que tem feito e tem sido dessa forma que se têm descoberto os casos na Alemanha, na Áustria, e na Irlanda. Que mais pretendem os que encarniçadamente se atiram contra uma Igreja, a quem muitos nem sequer pertencem? Não faço a mínima ideia. Mas se pretendem que Ela se cale na sua denúncia do que entende errado e mau para o homem, só podem estar enganados porque a força de uma mensagem, a radicalidade do Evangelho, o carácter profético da Palavra, o valor não perde pertinência nem verdade pelos erros de alguns dos mensageiros, dos anunciadores, dos profetas, dos que tentam viver segundo o que acreditam.
Finalmente, que a Igreja, nomeadamente a sua hierarquia que por vezes envergonha e entristece os discípulos leigos de Jesus, vá aprendendo que a transparência, a verdade, o abrir as portas (ver o que escrevi no domingo passado) são a única forma cristã de estar no mundo. E que se deixe de intervenções ressentidas, de guerras opinativas, de questiúnculas pseud-científicas. Que não caia, na tentação recorrente do orgulhosamente sós e do contra tudo e contra todos. Que aprenda com a história e que não se esqueça que está permanentemente em conversão.

Sem comentários: