Na quinta-feira passada, participei numa iniciativa do Serviço de Humanização do Hospital de S. João, subordinada ao tema A Morte e o Morrer no Hospital. O meu amigo João Pedro convidou-me a ler uns poemas do Daniel Faria que intercalavam, com momentos musicais a cargo da Escola de Artes da Universidade Católica, as diferentes intervenções que foram sendo feitas. Infelizmente, não pude ficar até ao fim porque tinha uma aula para dar às 12h. Mas escutei a abertura dos trabalhos pelo presidente do Serviço de Humanização, a intervenção sincera do director clínico do hospital (que sublinhou a dificuldade dos médicos em geral em lidarem com a morte) e a magnifica reflexão sobre aquele tema do também meu amigo José Nuno, padre e capelão do hospital.
Gostaria de aqui relacionar o apelo que o padre Nuno fez para que a medicina se libertasse do paradigma tecnológico para se tornar no que é na sua essência: humana e humanizadora. Uma medicina que se cinja às questões técnicas, à máquina, à eficiência acabará por abordar o doente, o moribundo, o cadáver como uma peça de uma engrenagem e não como um ser com uma história, um contexto social, com um valor único e original, enfim como uma pessoa.
Escutava, então, o meu amigo (que falou com muita maior densidade, justificação e beleza do que expus) e pensava na nuvem de cinzas que durante dias paralisou vários aeroportos por toda a Europa. Pensamos nós que a tecnologia nos tornou mais livres, mais poderosos e com maior qualidade de vida que os nossos antepassados recentes. Não duvido que facilitou muita coisa, que melhorou muitos serviços (como por exemplo a saúde), que permite infindáveis possibilidades. Mas a realidade, é que se a deixarmos tomar conta de tudo desumanizamo-nos, fechamo-nos, passamos a viver para a eficácia e as estatísticas, esquecemos o que nos distingue de tudo o que nos rodeia, deixamos de ser médicos, professores, pais, etc e passamos a ser técnicos... E basta uma antiquíssima forma de a natureza se manifestar para nos mostrar como, afinal, a tecnologia nos prende nos aeroportos, nos faz perder milhões, nos faz sentir impotentes e torna inúteis todas as possibilidades técnicas que temos. Aliás, sempre que saio de casa ou procuro alguma coisa irrito-me com a quantidade de máquinas que me pesam, com os aparelhos para tanta coisa e que tanto espaço mental e material ocupam, com os inúmeros cartões, códigos e afins que ocupam as carteiras e a memória quando ainda, há trinta anos atrás ia para a escola com uma simples pasta de couro às costas, sem dinheiro e desconectado do resto da família e do mundo.
Não estou a estigmatizar nada, apenas a afirmar que não acredito que sejamos mais livres nem mais desenvolvidos humanamente que os meus avós. Aliás, tenho a certeza de que estamos muito mais vulneráveis do que eles.
Porque é tão bonito, tão humano e tão pouco tecnológico aqui deixo um dos poemas do meu amigo Daniel lidos na quinta-feira:
A noite veloz bate a lâmpada azul contra as casas
A luz que estilhaça
A sirene. A noite bate na luz da lâmpada
Quebrando-a
Soubesse eu a canção que cantam os mortos para não adormecer
Soubesse eu soldar o silêncio
Existe sempre alguém que passa e bate na noite
A zumbidora lâmpada azul para não adormecer
Na morte
Soubesse eu estilhaçar a noite. Soubesse eu morrer
Iluminando
terça-feira, 27 de abril de 2010
domingo, 25 de abril de 2010
IV Domingo do Tempo Pascal
O pequeno Evangelho de hoje insere-se claramente no ambiente pascal que estamos a viver: nós somos alvo da oferta da Vida por parte de Jesus e a nossa certeza de que essa vida jamais nos será tirada é a união tão profunda como substancial entre o Pai e o Filho, uma união amorosa tão forte e maior que tudo, pelo que ninguém poderá arrebatar do coração de Deus o nome de cada um de nós.
E isto é possível porque Ele conhece-nos, sabe de que é feito o nosso coração, compreende as nossas fraquezas, acredita nas nossas forças, entusiasma-se com os nossos periclitantes passos, que parecem sempre recomeçar, chama-nos pelo nome, espera-nos quando nos atrasamos, não deixa de falar para que o possamos, um dia e sem constrangimentos, escutar.
Eis os verbos que têm Jesus, o único bom pastor, como sujeito: conhecer e dar a vida.
Eis o que pode vir de Deus: conhecer, que não é um acto intelectual, mas que biblicamente é estar próximo de..., partilhar com..., ser responsável de..., vinculado vitalmente a...
Eis o que pode vir de Deus: a dádiva da vida eterna reforçada, no texto, pela afirmação de que nunca iremos perecer e de que nada nos arrebatará da minha mão que é a mão do Pai.
Sob o lema pascal, De Portas Abertas, o evangelho de hoje volta a trazer-nos ao coração (recordar) um Deus de portas abertas ao homem, um Deus de coração aberto ao homem para que ele viva. Mas também é um desafio aos pastores da Igreja de hoje: só é pastor quem conhece (no sentido referido em cima) as "suas" (com aspas porque não são suas, mas do Mestre) ovelhas e quem lhes anuncia alegremente a vida que para todos vem do Pai, pelo filho Jesus. Aos pastores de hoje pede-se que estejam de portas abertas e a ninguém encerrem as portas da vida porque a todos Jesus estende a mão para caminhar com... e todos estamos inscritos no coração amoroso do Pai.
E isto é possível porque Ele conhece-nos, sabe de que é feito o nosso coração, compreende as nossas fraquezas, acredita nas nossas forças, entusiasma-se com os nossos periclitantes passos, que parecem sempre recomeçar, chama-nos pelo nome, espera-nos quando nos atrasamos, não deixa de falar para que o possamos, um dia e sem constrangimentos, escutar.
Eis os verbos que têm Jesus, o único bom pastor, como sujeito: conhecer e dar a vida.
Eis o que pode vir de Deus: conhecer, que não é um acto intelectual, mas que biblicamente é estar próximo de..., partilhar com..., ser responsável de..., vinculado vitalmente a...
Eis o que pode vir de Deus: a dádiva da vida eterna reforçada, no texto, pela afirmação de que nunca iremos perecer e de que nada nos arrebatará da minha mão que é a mão do Pai.
Sob o lema pascal, De Portas Abertas, o evangelho de hoje volta a trazer-nos ao coração (recordar) um Deus de portas abertas ao homem, um Deus de coração aberto ao homem para que ele viva. Mas também é um desafio aos pastores da Igreja de hoje: só é pastor quem conhece (no sentido referido em cima) as "suas" (com aspas porque não são suas, mas do Mestre) ovelhas e quem lhes anuncia alegremente a vida que para todos vem do Pai, pelo filho Jesus. Aos pastores de hoje pede-se que estejam de portas abertas e a ninguém encerrem as portas da vida porque a todos Jesus estende a mão para caminhar com... e todos estamos inscritos no coração amoroso do Pai.
domingo, 18 de abril de 2010
III Domingo da Páscoa
Costuma-se olhar para esta cena do último capítulo do Evangelho de S. João como se a sua pescaria fosse um regresso dos discípulos à sua actividade anterior imbuídos por um desânimo, uma noite escura da sua fé. Esta interpretação deixa-me insatisfeito porque faz uma interpretação simbólica descontinuada. Por isso, hoje vou propor-vos uma leitura inteiramente simbólica do evangelho deste domingo que penso constituir uma boa alternativa para a nossa reflexão sobre a situação actual da Igreja, que queremos de portas aberta porque a isso nos exige a fé na Páscoa de Jesus.
No Evangelho de hoje temos um grupo de sete discípulos, que, liderados pela palavra de Pedro, vão pescar para o mar de Tiberíades. Isto é, temos a Igreja (sete querer dizer a totalidade dos crentes), motivada pela palavra do seu líder (Vou pescar), a partir para a missão, para o anúncio da Palavra , para o ser pescador de homens. E partem para a missão em pleno território pagão, por isso o nome do lago usado é o de Tiberíades derivado do imperador romano Tibério. Temos, então, a Igreja em missão, na noite e a sentir na pele a esterilidade da sua palavra, a incapacidade de se fazer compreender, o sentir que não consegue, por diferentes circunstâncias, afirmar o centro e o essencial da sua grande notícia para toda a humanidade. Era de noite e não apanharam nada... Que católico não se sente hoje assim: abre as portas, mas a ninguém parece interessar o que tem para anunciar e dar, apenas nos atiram à cara notícias novas e velhas, sem nos dar sequer a oportunidade de lhes mostrar o que alimenta a nossa esperança.
E eis que surge o Mestre, hoje de novo, para nos indicar o caminho. Primeiro, recorda-nos que o que temos para comer, o alimento da nossa fé é Ele, a sua Palavra, é a ela que devemos obedecer e não às nossas leis, tradições ou regras que o passar da história nos foi impondo. Não devemos insistir no velho, no hábito, mudem de método, de rumo e deixem-se iluminar pelo amanhecer pascal que é grávido de novidade (Ao romper da manhã... Disse-lhes Jesus: Tendes alguma coisa de comer? ... Lançai as redes para a direita...). E nesta altura tudo se transforma, a rede enche-se porque fomos fieis ao Mestre e não a nós e à nossa história e às nossas leis.
Nesta altura, o discípulo que Jesus amava [personagem que representa a comunidade de todos os crentes, dos mais humildes, daqueles que foram até aos pés da cruz, daqueles que não sendo líderes, são fieis. Aquela comunidade a quem Jesus encomendou que fosse mãe (Eis o teu filho. Eis a tua mãe) e a quem entregou o Espírito ao morrer] reconhece o Mestre e comunica-o a Pedro. E este escuta a comunidade. Eis a outra grande lição para a Igreja hoje: o verdadeiro líder é aquele que escuta a sua comunidade, que dá espaço às suas intuições, que crê que nela são muitos os que olham a vida atentamente e lá descobrem o Mestre que nos une. No mundo em que vivemos, só uma Igreja de portas abertas entre todos os seus membros poderá ser sinal atraente e encher-se de novos membros.
E Pedro, porque escuta, é o primeiro, é a cabeça no entusiasmo (lançou-se ao mar), é o primeiro a ajudar os companheiros (subiu ao barco e puxou a rede para terra), é o primeiro no amor (Amas-Me mais do que estes?), é o primeiro a reconhecer os seus fracassos (entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava), é o primeiro na humildade (tu sabes tudo tu sabes que Te amo), é o primeiro a perceber que as ovelhas que apascenta não são sua posse, mas posse do Mestre (apascenta as minhas ovelhas). Assim devem-se entender e agir os líderes da Igreja de Jesus Cristo Ressuscitado: com entusiasmo, amor, humildade e sem sentimentos de posse nem de domínio sobre nada nem ninguém.
Na sua acção no mundo, a Igreja sabe que não cumprirá a sua missão dividindo, isto é, nela cabem todos os homens e mulheres, de todas a formas de estar na vida, de todas as opiniões, com todos os erros de que se querem emendar, de todas as classes e lugares geográficos, sociais, ideológicos e políticos. A Igreja não divide, não reproduz dentro de si o que a economia realiza na sociedade, a Igreja agrega e não cinde. A rede não se rompeu com todos os 153 grandes peixes, isto é com todos os povos da terra.
Finalmente, de novo e para terminar, a Igreja percebe que o seu alimento, a sua energia, o retemperar das suas forças só se dá no seu Mestre, no seu alimento, na sua companhia, no inclinar a cabeça sobre o seu peito, tal como fez o discípulo amado na última ceia: "Quando saltaram em terra viram brasas acesas com peixe em cima e pão....Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes". E não precisamos de o ver, basta repetirmos tal gesto de partilha entre nós e para todos os homens. Basta reunirmo-nos em nome d'Ele e Ele aí estará.
Se a pesca está a correr mal, se a noite se impõe sobre os nossos horizontes, então é porque o nosso Mestre está à margem da nossa acção, nós estamos a leste da sua voz e do seu alimento e quem nos lidera nem O escuta nem escuta a comunidade. Estamos de portas fechadas a Ele e entre nós. Que a Páscoa de Jesus nos ajude a abrir as portas ao mundo e dentro da sua Igreja. Só assim veremos o sol da novidade que amanhece, nos sentiremos membros da mesma barca, abertos a novos rumos, e os homens estarão dispostos a dar-nos uma oportunidade.
No Evangelho de hoje temos um grupo de sete discípulos, que, liderados pela palavra de Pedro, vão pescar para o mar de Tiberíades. Isto é, temos a Igreja (sete querer dizer a totalidade dos crentes), motivada pela palavra do seu líder (Vou pescar), a partir para a missão, para o anúncio da Palavra , para o ser pescador de homens. E partem para a missão em pleno território pagão, por isso o nome do lago usado é o de Tiberíades derivado do imperador romano Tibério. Temos, então, a Igreja em missão, na noite e a sentir na pele a esterilidade da sua palavra, a incapacidade de se fazer compreender, o sentir que não consegue, por diferentes circunstâncias, afirmar o centro e o essencial da sua grande notícia para toda a humanidade. Era de noite e não apanharam nada... Que católico não se sente hoje assim: abre as portas, mas a ninguém parece interessar o que tem para anunciar e dar, apenas nos atiram à cara notícias novas e velhas, sem nos dar sequer a oportunidade de lhes mostrar o que alimenta a nossa esperança.
E eis que surge o Mestre, hoje de novo, para nos indicar o caminho. Primeiro, recorda-nos que o que temos para comer, o alimento da nossa fé é Ele, a sua Palavra, é a ela que devemos obedecer e não às nossas leis, tradições ou regras que o passar da história nos foi impondo. Não devemos insistir no velho, no hábito, mudem de método, de rumo e deixem-se iluminar pelo amanhecer pascal que é grávido de novidade (Ao romper da manhã... Disse-lhes Jesus: Tendes alguma coisa de comer? ... Lançai as redes para a direita...). E nesta altura tudo se transforma, a rede enche-se porque fomos fieis ao Mestre e não a nós e à nossa história e às nossas leis.
Nesta altura, o discípulo que Jesus amava [personagem que representa a comunidade de todos os crentes, dos mais humildes, daqueles que foram até aos pés da cruz, daqueles que não sendo líderes, são fieis. Aquela comunidade a quem Jesus encomendou que fosse mãe (Eis o teu filho. Eis a tua mãe) e a quem entregou o Espírito ao morrer] reconhece o Mestre e comunica-o a Pedro. E este escuta a comunidade. Eis a outra grande lição para a Igreja hoje: o verdadeiro líder é aquele que escuta a sua comunidade, que dá espaço às suas intuições, que crê que nela são muitos os que olham a vida atentamente e lá descobrem o Mestre que nos une. No mundo em que vivemos, só uma Igreja de portas abertas entre todos os seus membros poderá ser sinal atraente e encher-se de novos membros.
E Pedro, porque escuta, é o primeiro, é a cabeça no entusiasmo (lançou-se ao mar), é o primeiro a ajudar os companheiros (subiu ao barco e puxou a rede para terra), é o primeiro no amor (Amas-Me mais do que estes?), é o primeiro a reconhecer os seus fracassos (entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava), é o primeiro na humildade (tu sabes tudo tu sabes que Te amo), é o primeiro a perceber que as ovelhas que apascenta não são sua posse, mas posse do Mestre (apascenta as minhas ovelhas). Assim devem-se entender e agir os líderes da Igreja de Jesus Cristo Ressuscitado: com entusiasmo, amor, humildade e sem sentimentos de posse nem de domínio sobre nada nem ninguém.
Na sua acção no mundo, a Igreja sabe que não cumprirá a sua missão dividindo, isto é, nela cabem todos os homens e mulheres, de todas a formas de estar na vida, de todas as opiniões, com todos os erros de que se querem emendar, de todas as classes e lugares geográficos, sociais, ideológicos e políticos. A Igreja não divide, não reproduz dentro de si o que a economia realiza na sociedade, a Igreja agrega e não cinde. A rede não se rompeu com todos os 153 grandes peixes, isto é com todos os povos da terra.
Finalmente, de novo e para terminar, a Igreja percebe que o seu alimento, a sua energia, o retemperar das suas forças só se dá no seu Mestre, no seu alimento, na sua companhia, no inclinar a cabeça sobre o seu peito, tal como fez o discípulo amado na última ceia: "Quando saltaram em terra viram brasas acesas com peixe em cima e pão....Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes". E não precisamos de o ver, basta repetirmos tal gesto de partilha entre nós e para todos os homens. Basta reunirmo-nos em nome d'Ele e Ele aí estará.
Se a pesca está a correr mal, se a noite se impõe sobre os nossos horizontes, então é porque o nosso Mestre está à margem da nossa acção, nós estamos a leste da sua voz e do seu alimento e quem nos lidera nem O escuta nem escuta a comunidade. Estamos de portas fechadas a Ele e entre nós. Que a Páscoa de Jesus nos ajude a abrir as portas ao mundo e dentro da sua Igreja. Só assim veremos o sol da novidade que amanhece, nos sentiremos membros da mesma barca, abertos a novos rumos, e os homens estarão dispostos a dar-nos uma oportunidade.
sábado, 17 de abril de 2010
Intervalo
Um destes dias recordei os marretas ao passar por alguns blogs. Para começar com boa disposição este fim-de-semana aqui deixo um divertido momento musical.
terça-feira, 13 de abril de 2010
A Propósito da Pedofilia na Igreja
Os três Evangelhos sinópticos citam uma frase eloquente de Jesus que me veio logo à memória quando há uns anos surgiram os primeiro casos de abuso sexual de menores por parte de alguns membros do clero católico: "E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria para ele atarem-lhe ao pescoço uma dessas mós que são giradas pelos jumentos, e lançarem-no ao mar." (Mt 18, 6; Mc 9, 42; Lc 17, 1)
E este tem que ser o ponto de partida de qualquer reflexão de um católico sobre esta página negra da nossa Igreja. Não podemos ter contemplações: quem assim agiu só tem um caminho: a expulsão do ministério como pena canónica, a sua entrega às autoridades judiciais para aplicação da pena pública e a ajuda efectiva e dignificadora das vítimas. Se, no passado, isto não se fez, hoje, tal como sempre, o grito das vítimas o exige. Não pela amplificação mediática ao serviço dos mais desvairados interesses, mas pela dignidade humano, objecto predilecto do amor de Deus, única missão de uma Igreja que se quer de Jesus Cristo.
Mas, se formos honestos, não podemos ignorar que se hoje todo este escândalo se nos revela foi porque a maneira de agir da Igreja sobre este assunto mudou. E mudou não porque se soube publicamente. Mudou porque o segredo, a dissimulação e o ignorar a imoralidade dentro de portas não são o caminho. Mudou porque o cardeal Ratzinger (com quem estou muitas vezes em desacordo) assim o exigiu e reformulou toda uma prática canónica indigna de uma Igreja e mais própria de um partido político fossilizado e medroso da transparência.
Assim, não entendo (somente desconfio) o que pretendem alguns. Que a Igreja admita? Já o admitiu, penitenciou-se, encontrou-se com as vítimas e indemnizou-as. Que a Igreja peça perdão? Já o fez, por este e por muitos outros pecados da sua história, apesar de o pecado ser sempre um gesto pessoal. Que castigue? Já o fez, expulsando do ministério muitos dos seus clérigos. Que denuncie? É o que tem feito e tem sido dessa forma que se têm descoberto os casos na Alemanha, na Áustria, e na Irlanda. Que mais pretendem os que encarniçadamente se atiram contra uma Igreja, a quem muitos nem sequer pertencem? Não faço a mínima ideia. Mas se pretendem que Ela se cale na sua denúncia do que entende errado e mau para o homem, só podem estar enganados porque a força de uma mensagem, a radicalidade do Evangelho, o carácter profético da Palavra, o valor não perde pertinência nem verdade pelos erros de alguns dos mensageiros, dos anunciadores, dos profetas, dos que tentam viver segundo o que acreditam.
Finalmente, que a Igreja, nomeadamente a sua hierarquia que por vezes envergonha e entristece os discípulos leigos de Jesus, vá aprendendo que a transparência, a verdade, o abrir as portas (ver o que escrevi no domingo passado) são a única forma cristã de estar no mundo. E que se deixe de intervenções ressentidas, de guerras opinativas, de questiúnculas pseud-científicas. Que não caia, na tentação recorrente do orgulhosamente sós e do contra tudo e contra todos. Que aprenda com a história e que não se esqueça que está permanentemente em conversão.
E este tem que ser o ponto de partida de qualquer reflexão de um católico sobre esta página negra da nossa Igreja. Não podemos ter contemplações: quem assim agiu só tem um caminho: a expulsão do ministério como pena canónica, a sua entrega às autoridades judiciais para aplicação da pena pública e a ajuda efectiva e dignificadora das vítimas. Se, no passado, isto não se fez, hoje, tal como sempre, o grito das vítimas o exige. Não pela amplificação mediática ao serviço dos mais desvairados interesses, mas pela dignidade humano, objecto predilecto do amor de Deus, única missão de uma Igreja que se quer de Jesus Cristo.
Mas, se formos honestos, não podemos ignorar que se hoje todo este escândalo se nos revela foi porque a maneira de agir da Igreja sobre este assunto mudou. E mudou não porque se soube publicamente. Mudou porque o segredo, a dissimulação e o ignorar a imoralidade dentro de portas não são o caminho. Mudou porque o cardeal Ratzinger (com quem estou muitas vezes em desacordo) assim o exigiu e reformulou toda uma prática canónica indigna de uma Igreja e mais própria de um partido político fossilizado e medroso da transparência.
Assim, não entendo (somente desconfio) o que pretendem alguns. Que a Igreja admita? Já o admitiu, penitenciou-se, encontrou-se com as vítimas e indemnizou-as. Que a Igreja peça perdão? Já o fez, por este e por muitos outros pecados da sua história, apesar de o pecado ser sempre um gesto pessoal. Que castigue? Já o fez, expulsando do ministério muitos dos seus clérigos. Que denuncie? É o que tem feito e tem sido dessa forma que se têm descoberto os casos na Alemanha, na Áustria, e na Irlanda. Que mais pretendem os que encarniçadamente se atiram contra uma Igreja, a quem muitos nem sequer pertencem? Não faço a mínima ideia. Mas se pretendem que Ela se cale na sua denúncia do que entende errado e mau para o homem, só podem estar enganados porque a força de uma mensagem, a radicalidade do Evangelho, o carácter profético da Palavra, o valor não perde pertinência nem verdade pelos erros de alguns dos mensageiros, dos anunciadores, dos profetas, dos que tentam viver segundo o que acreditam.
Finalmente, que a Igreja, nomeadamente a sua hierarquia que por vezes envergonha e entristece os discípulos leigos de Jesus, vá aprendendo que a transparência, a verdade, o abrir as portas (ver o que escrevi no domingo passado) são a única forma cristã de estar no mundo. E que se deixe de intervenções ressentidas, de guerras opinativas, de questiúnculas pseud-científicas. Que não caia, na tentação recorrente do orgulhosamente sós e do contra tudo e contra todos. Que aprenda com a história e que não se esqueça que está permanentemente em conversão.
domingo, 11 de abril de 2010
II Domingo da Páscoa
O lema que pensei para este tempo pascal parte do Evangelho de hoje - estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam -, do apelo de João Paulo II a quando da sua eleição - abri de par e par a portas a Cristo - e da situação que tem marcado a Igreja nestas últimas semanas desde a descoberta de novos casos de pedofilia no seu seio, agora em plena Europa. Assim, o meu lema é este: De Portas Abertas para o Mundo.
Uma Igreja fundada na Ressurreição de Jesus só pode estar aberta ao mundo para com ele entabular diálogo, para nele servir o homem, para a ele oferecer a Paz que recebemos do Mestre vivo.
Uma Igreja nascida da manhã de Páscoa só pode estar no mundo como quem acolhe quem quer que dela se aproxime, nela procure conforto, compreensão e ajuda.
Uma Igreja que nasce do sopro do Ressuscitado só pode ter uma atitude de esperança, sempre pela positiva e num dinâmica salvífica porque crê na Vida e no Amor.
O Evangelho deste domingo é muito claro. O cristão nunca pode sentir-se acossado pelo mundo. Nem, consequentemente, pode adoptar uma atitude, tão usada no passado, de fortaleza que, sentindo-se atacada por todos os lados, se defende dos ataques da sociedade, do desenvolvimento, da imprensa, dos ateus, etc, etc. A Igreja não pode ter esta atitude porque é a negação da manhã de Páscoa que arrombou com todas as portas fechadas pelo medo! A Igreja, nós os cristãos não podemos usar os métodos de persuasão e de combate de opinião dos senhores deste mundo. Porque se o usarmos (como tantas vezes no passado) negamos a Páscoa de Jesus.
Não temos que ter medo de nada nem de ninguém, mas essa coragem não vem da força dos nossos braços ou dos nossos exércitos, não vem da influência dos lobys amigos ou da eloquência dos nossos fazedores de opinião, não vem da grandeza das nossas manifestações de massas que tentam desagravar os ofendidos e entrar no campo das contabilidades estatísticas, não vem pela desvalorização ou anatematização daqueles que nos criticam ou condenam. Não. A nossa coragem e nossa glória está na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
De portas abertas, saímos com aquilo que temos: Jesus Cristo. Oferecemos o que recebemos: a misericórdia de Deus. Agimos como Ele age connosco: acolhe todos sem excepção. A quem nos condena: amamos e pedimos por eles. A quem nos recusa: seguimos o caminho porque são muitos os que nos escutam e incontáveis os que esperam a Salvação e o Sentido para a Vida. A quem nos ridiculariza: chega o nosso silêncio. Ou somos mensageiros da Paz de Jesus ou não somos a sua Igreja.
A Igreja será incrédula se fechar as suas portas, se não celebrar a alegria, se usar as armas do mundo, se se vitimizar, se se preocupar mais consigo do que com os homens, do que com Jesus Cristo Ressucitado. Nunca, como nestas horas, se percebe, afinal, em quem colocamos as nossas forças: se n'Ele se em nós...
Uma Igreja fundada na Ressurreição de Jesus só pode estar aberta ao mundo para com ele entabular diálogo, para nele servir o homem, para a ele oferecer a Paz que recebemos do Mestre vivo.
Uma Igreja nascida da manhã de Páscoa só pode estar no mundo como quem acolhe quem quer que dela se aproxime, nela procure conforto, compreensão e ajuda.
Uma Igreja que nasce do sopro do Ressuscitado só pode ter uma atitude de esperança, sempre pela positiva e num dinâmica salvífica porque crê na Vida e no Amor.
O Evangelho deste domingo é muito claro. O cristão nunca pode sentir-se acossado pelo mundo. Nem, consequentemente, pode adoptar uma atitude, tão usada no passado, de fortaleza que, sentindo-se atacada por todos os lados, se defende dos ataques da sociedade, do desenvolvimento, da imprensa, dos ateus, etc, etc. A Igreja não pode ter esta atitude porque é a negação da manhã de Páscoa que arrombou com todas as portas fechadas pelo medo! A Igreja, nós os cristãos não podemos usar os métodos de persuasão e de combate de opinião dos senhores deste mundo. Porque se o usarmos (como tantas vezes no passado) negamos a Páscoa de Jesus.
Não temos que ter medo de nada nem de ninguém, mas essa coragem não vem da força dos nossos braços ou dos nossos exércitos, não vem da influência dos lobys amigos ou da eloquência dos nossos fazedores de opinião, não vem da grandeza das nossas manifestações de massas que tentam desagravar os ofendidos e entrar no campo das contabilidades estatísticas, não vem pela desvalorização ou anatematização daqueles que nos criticam ou condenam. Não. A nossa coragem e nossa glória está na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo.
De portas abertas, saímos com aquilo que temos: Jesus Cristo. Oferecemos o que recebemos: a misericórdia de Deus. Agimos como Ele age connosco: acolhe todos sem excepção. A quem nos condena: amamos e pedimos por eles. A quem nos recusa: seguimos o caminho porque são muitos os que nos escutam e incontáveis os que esperam a Salvação e o Sentido para a Vida. A quem nos ridiculariza: chega o nosso silêncio. Ou somos mensageiros da Paz de Jesus ou não somos a sua Igreja.
A Igreja será incrédula se fechar as suas portas, se não celebrar a alegria, se usar as armas do mundo, se se vitimizar, se se preocupar mais consigo do que com os homens, do que com Jesus Cristo Ressucitado. Nunca, como nestas horas, se percebe, afinal, em quem colocamos as nossas forças: se n'Ele se em nós...
sábado, 10 de abril de 2010
Começar bem o dia
Não estava à espera de passar hoje por aqui, mas, enquanto fazia a barba, escutei na rádio esta música dos 3-11 Porter: Surround me with your love. Soube-me bem começar assim o dia e não podia deixar de o partilhar porque: quem não gosta de se sentir rodeado pelo amor de alguém?
Um bom sábado
Um bom sábado
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Regresso para Ficar
Espero que este post inicie o meu regresso mais regular a este espaço, no estilo de reflexão sobre os (meus) dias. No início da semana que hoje está a terminar entreguei a minha última unidade lectiva para os manuais do secundário da disciplina de EMRC. Esta unidade lectiva versa sobre a Igreja Católica que nestes dias tem estado sobre escrutínio de muitos e de que brevemente aqui deixarei algumas reflexões. Foi bom conseguir entregar um trabalho que há muito ocupava as minhas preocupações. Agora, há que esperar pela resposta e pelas provas de Lisboa.
Ainda na segunda, almocei com duas amigas de uma das minhas paróquias anteriores. Já passaram alguns anos e não foram assim tantos aqueles que com elas convivi, mas é enternecedor como me guardam com tanto carinho no seu coração. Marquei-as por gestos e palavras de que já nem me lembro. Mas uma disse-me algo de que me orgulho: "Não fazia distinção de pessoas. Ia a casa de toda a gente". Talvez não o tenha sempre feito, mas, com certeza, sempre o tentei. Graças a Deus.
Durante toda a semana, que foi de férias no colégio, fui, pela primeira vez, a todas as aulas da faculdade e foi bom rever os meus amigos e companheiros e partilhar com eles alegrias, opiniões e filosofias. Vai ser um semestre duro, são seis disciplinas que tentarei fazer, duas delas sem poder ir às aulas (e só a uma é que vou aos dois blocos de 120m), para ver se, no próximo ano, começo o mestrado. Mas o melhor é que tenho aprendido muito mesmo. Espanta-me esta ansiedade por saber sempre mais alguma coisa, por me maravilhar com novos saberes e com os saberes de tantos, por recusar a acomodação. Sei que é algo de estafado, mas saber que nada se sabe é mesmo o princípio da sabedoria. Diria mais, da tolerância, do amor e, até, da fé.
Sempre a pensar no futuro? Sem dúvida, cada vez mais penso menos no passado e tento acautelar o futuro. Li que quando se é pai o passado perde peso e o futuro torna-se uma preocupação. Talvez. Não é possível olhar para um bebé e não repetir a pergunta das pessoas diante do pequeno João, que viria a ser baptista: "que virá a ser este menino?" Na verdade, estamos lançados no tempo e, se perder o eterno pelo instante é mau, perder o momento pelo que se foi ou poderia ter sido é muito pior. É estagnação, pântano, é morrer antes do tempo. E a esses nem o futuro eterno lhes reserva algo.
Como dizia o meu amigo Daniel Faria:
Pai
Tenho medo de morrer depois da morte
Tenho medo de morrer antes da vida
Um bom fim-de-semana.
Ainda na segunda, almocei com duas amigas de uma das minhas paróquias anteriores. Já passaram alguns anos e não foram assim tantos aqueles que com elas convivi, mas é enternecedor como me guardam com tanto carinho no seu coração. Marquei-as por gestos e palavras de que já nem me lembro. Mas uma disse-me algo de que me orgulho: "Não fazia distinção de pessoas. Ia a casa de toda a gente". Talvez não o tenha sempre feito, mas, com certeza, sempre o tentei. Graças a Deus.
Durante toda a semana, que foi de férias no colégio, fui, pela primeira vez, a todas as aulas da faculdade e foi bom rever os meus amigos e companheiros e partilhar com eles alegrias, opiniões e filosofias. Vai ser um semestre duro, são seis disciplinas que tentarei fazer, duas delas sem poder ir às aulas (e só a uma é que vou aos dois blocos de 120m), para ver se, no próximo ano, começo o mestrado. Mas o melhor é que tenho aprendido muito mesmo. Espanta-me esta ansiedade por saber sempre mais alguma coisa, por me maravilhar com novos saberes e com os saberes de tantos, por recusar a acomodação. Sei que é algo de estafado, mas saber que nada se sabe é mesmo o princípio da sabedoria. Diria mais, da tolerância, do amor e, até, da fé.
Sempre a pensar no futuro? Sem dúvida, cada vez mais penso menos no passado e tento acautelar o futuro. Li que quando se é pai o passado perde peso e o futuro torna-se uma preocupação. Talvez. Não é possível olhar para um bebé e não repetir a pergunta das pessoas diante do pequeno João, que viria a ser baptista: "que virá a ser este menino?" Na verdade, estamos lançados no tempo e, se perder o eterno pelo instante é mau, perder o momento pelo que se foi ou poderia ter sido é muito pior. É estagnação, pântano, é morrer antes do tempo. E a esses nem o futuro eterno lhes reserva algo.
Como dizia o meu amigo Daniel Faria:
Pai
Tenho medo de morrer depois da morte
Tenho medo de morrer antes da vida
Um bom fim-de-semana.
domingo, 4 de abril de 2010
Domingo de Páscoa
É interessante notar que os artistas preocuparam-se sempre mais em reproduzir a ressurreição de Jesus, centrando n'Ele toda a sua atenção. Mas outro caminho poderia ter sido mais percorrido. O grande desafio seria reflectir sobre aqueles que ainda ontem estavam desagregados e que, a partir deste dia, iniciaram um movimento de que nós somos filhos. O que lhes aconteceu? Como O descobriram vivo? O que os colocou de novo a correr no caminho? Por isso, neste dia de Páscoa escolhi este quadro do pintor suíço Eugène Burnand, Les Disciples Pierre et Jean Courant au Sépulcre le Matin de la Résurrection.
A Igreja funda-se na convicção deste homens, na sua experiência pascal, no seu encontro com Jesus Ressuscitado. Como ressuscitaram eles daquele torpor e daquele medo? E como ressuscitaremos nós, hoje? Para onde corremos nós, nestes dias? O que nos faz correr? Que fazes com a tua liberdade?
Como música volto a propor Bach e a sua Missa em si menor, desta vez o Santus. Grandioso e magnífico como tudo neste dia deve ser.
Uma Santa Páscoa.
A Igreja funda-se na convicção deste homens, na sua experiência pascal, no seu encontro com Jesus Ressuscitado. Como ressuscitaram eles daquele torpor e daquele medo? E como ressuscitaremos nós, hoje? Para onde corremos nós, nestes dias? O que nos faz correr? Que fazes com a tua liberdade?
Como música volto a propor Bach e a sua Missa em si menor, desta vez o Santus. Grandioso e magnífico como tudo neste dia deve ser.
Uma Santa Páscoa.
sábado, 3 de abril de 2010
Sábado Santo
Hora de silêncios. Comprometidos, culpados, desiludidos, solitários, talvez uns poucos meditativos e, com certeza muito poucos orantes. Naquele sábado tudo era sem esperança, tudo era terminus, fim, morte. Hoje o nosso sábado santo já não é assim, mas quantas vezes nos sentimos assim? E quantos assim se sentirão? Viver sem esperança é como viver num túmulo.
A música que proponho é o famoso Parce mihi Domine de Cristóbal de Morales (1500-1553), um dos maiores polifonistas espanhóis da renascença. O texto é tirado do livro de Job 7, 16-21 e é expressão da desesperança que a beleza da música e da interpretação do Hilliard Ensemble com Jan Garbarek não deixam adivinhar, talvez porque enquanto o génio humano for capaz de momentos assim há razões para a esperança e para crer que se tanta beleza não pode ser absorvida pela morte, então o que dizer do amor.
A música que proponho é o famoso Parce mihi Domine de Cristóbal de Morales (1500-1553), um dos maiores polifonistas espanhóis da renascença. O texto é tirado do livro de Job 7, 16-21 e é expressão da desesperança que a beleza da música e da interpretação do Hilliard Ensemble com Jan Garbarek não deixam adivinhar, talvez porque enquanto o génio humano for capaz de momentos assim há razões para a esperança e para crer que se tanta beleza não pode ser absorvida pela morte, então o que dizer do amor.
sexta-feira, 2 de abril de 2010
Sexta-feira Santa
"Hão-de olhar para Aquele que trespassaram". (Jo 19, 37)
Hora de contemplar, de ver com olhos de ver, de olhar para lá do visível, mas sempre a partir do visível e, finalmente, perguntar como vejo, isto é questionar o meu olhar, logo a minha vida.
As fotografias que tenho deixado são esculturas do artista Josep Subirachs que, em 1989, começou a trabalhar na Fachada da Paixão do Templo Expiatório da Sagrada Família, em Barcelona. Gaudí projectou a fachada da Paixão enquadrada por uma estrutura de ossos mortos, com “o efeito mais tétrico”. Subirachs consegue-o através de um crescendo de dramatismo de um caminho ascendente, que começa à esquerda do plano inferior com a Última Ceia (reproduzido no post de ontem), avançando para a direita, ascendendo em ziguezague até ao segundo e terceiro níveis. Culmina a narração e o conjunto com a Crucificação, baixando depois ao Sepulcro.
A minha escolha musical de hoje é óbvia: o "Crucifixus" do Credo da Missa em Si menor de Bach. Uma obra prima.
Aproximam-se as 15horas. Desde de criança, tal como a minha mãe me ensinou, recolho-me num minuto de silêncio. E que silêncio!
Hora de contemplar, de ver com olhos de ver, de olhar para lá do visível, mas sempre a partir do visível e, finalmente, perguntar como vejo, isto é questionar o meu olhar, logo a minha vida.
As fotografias que tenho deixado são esculturas do artista Josep Subirachs que, em 1989, começou a trabalhar na Fachada da Paixão do Templo Expiatório da Sagrada Família, em Barcelona. Gaudí projectou a fachada da Paixão enquadrada por uma estrutura de ossos mortos, com “o efeito mais tétrico”. Subirachs consegue-o através de um crescendo de dramatismo de um caminho ascendente, que começa à esquerda do plano inferior com a Última Ceia (reproduzido no post de ontem), avançando para a direita, ascendendo em ziguezague até ao segundo e terceiro níveis. Culmina a narração e o conjunto com a Crucificação, baixando depois ao Sepulcro.
A minha escolha musical de hoje é óbvia: o "Crucifixus" do Credo da Missa em Si menor de Bach. Uma obra prima.
Aproximam-se as 15horas. Desde de criança, tal como a minha mãe me ensinou, recolho-me num minuto de silêncio. E que silêncio!
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Quinta-feira Santa
Nestes dias tenho aprendido a contemplar. Diante de um bebé dedicamos horas a olha-lo e, depois de tantas reflexões que tal olhar suscita, fica um silêncio confiante e esperançado não nas nossas qualidades ou forças mas n'Aquele que ilumina todas as horas e em quem podemos colocar a nossa vida. Assim, este ano em cada dia do tríduo pascal não escreverei muitas palavras. Deixarei aqui uma imagem e uma música para quem quiser contemplar os mistérios que, por estes dias, nós os cristãos celebramos tão profundamente.
A música que aqui deixo é de Buxtehude (1637-1707), compositor alemão, do início do barroco, de quem Bach era grande admirador. A obra que vamos escutar é uma parte da Cantata Membra Jesu Nostri. O membro em reflexão são as mãos de Jesus que hoje repartem o pão e lavam os pés dos seus discípulos porque "tendo amado os seus que estavam no mundo amou-os até ao fim" (Jo13, 1). O ponto de partida bíblico deste momento é do profeta Zacarias: "Que significam essas cicatrizes nas tuas mãos?" (A resposta no texto bíblico é tão significativa: "São ferimentos que recebi na casa dos meus amigos.") Sem mais comentários porque já muito temos aqui para reflectir e rezar. Boa Páscoa para todos.
A música que aqui deixo é de Buxtehude (1637-1707), compositor alemão, do início do barroco, de quem Bach era grande admirador. A obra que vamos escutar é uma parte da Cantata Membra Jesu Nostri. O membro em reflexão são as mãos de Jesus que hoje repartem o pão e lavam os pés dos seus discípulos porque "tendo amado os seus que estavam no mundo amou-os até ao fim" (Jo13, 1). O ponto de partida bíblico deste momento é do profeta Zacarias: "Que significam essas cicatrizes nas tuas mãos?" (A resposta no texto bíblico é tão significativa: "São ferimentos que recebi na casa dos meus amigos.") Sem mais comentários porque já muito temos aqui para reflectir e rezar. Boa Páscoa para todos.
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